Dando prosseguimento à série de matérias sobre os produtores musicais mais importantes da história do Rock/Metal, eis a seguir a segunda parte da seção destinada aos produtores que fincaram seus nomes nos anais musicais a partir dos anos 70.

Apesar de estes produtores estarem enquadrados aqui na seção anos 70, alguns deles começaram a criar fama ainda no fim dos anos 60. Neste período, o guitarrista Jimi Hendrix estava a por de cabeça para baixo o que se conhecia de guitarra até aquela data (literalmente, o guitarrista canhoto fez isso). Como ninguém constrói um legado imenso desses sozinho, Hendrix tinha em seu engenheiro de som uma pessoa de confiança.

EDDIE KRAMER

Sul-africano da Cidade do Cabo, Edwin H. Kramer nasceu em 19 de abril de 1942 e mudou-se com seus pais, ferrenhos opositores do Apartheid que segregava aquele país, para Londres em 1961. Tendo crescido em um ambiente musical, Kramer logo montou seu primeiro estúdio assim que chegou em Londres e lá registrou gravações de alguns grupos de Jazz. Após conseguir emprego em alguns estúdios importantes de Londres, Kramer se tornou o engenheiro de som de alguns dos grupos que despontaram fortemente naquela época, como The Rolling Stones, The Beatles, Small Faces e Traffic. Foi quando ele conheceu e começou sua parceria com Jimi Hendrix, a quem Kramer acompanhou até o fim da vida do guitarrista em 1971. Com esta parceria, Kramer acompanhou Hendrix quando este se mudou para Nova York. Kramer em entrevistas sempre enaltecia a disciplina e o pré-planejamento que Hendrix cuidava em qualquer coisa que fizesse. O engenheiro de som trabalhou juntamente com o não menos lendário produtor Chas Chandler em Are You Experienced e Axis: Bold as Love e trabalhou sob a produção do próprio Jimi nos álbuns posteriores. Neste começo de estadia em Nova York, Kramer também trabalhou com o guitarrista Johnny Winter e com o Led Zeppelin, em uma parceria que começou no álbum Led Zeppelin II e que perdurou até Coda (1982), incluindo Houses Of The Holy e Physical Graffiti.

Durante este período Eddie Kramer enfrentou aquele que talvez foi o seu maior desafio enquanto engenheiro de som: gravar o festival Woodstock. Durante três dias ininterruptos, sem qualquer descanso, Kramer comandou sua equipe utilizando variadas técnicas de gravação a fim de registrar os longos concertos, set-lists improvisados e o massivo barulho do público presente. Esta façanha esta registrada no filme Woodstock, dirigido por Michael Wadleigh.

Jimi Hendrix e Mick Jagger. Hendrix, em som e imagem, por Eddie Kramer

Ainda durante os anos 70, Eddie Kramer também trabalhou com o Kiss tendo produzido os clássicos Alive! e Alive II, bem como Rock n’ Roll Over, Love Gun e Alive III. Kramer também foi o engenheiro de som do clássico álbum Frampton Comes Alive! (1976), de Peter Frampton. Mostrando ser um produtor versátil capaz de trabalhar com sonoridades acessíveis ou pesadas, Kramer se aventurou pelo Hardcore e pelo Heavy Metal a partir dos anos 80, tendo produzido o álbum Among The Living (1987), do Anthrax, além de ter trabalhado com Pretty Maids, Fastway e Icon.

A partir dos anos 90, Kramer vem se dedicando fortemente à lançamentos envolvendo seu antigo parceiro Jimi Hendrix, tais como remasterizações de álbuns do guitarrista e tributos. Além disso, Kramer desenvolveu em parceria com a DigiTech uma linha de pedais para guitarra que emulavam os típicos timbres de Jimi Hendrix. No currículo de Eddie Kramer também consta trabalhos junto a nomes como Ace Frehley, Foghat, Triumph, Raven, Loudness, Buddy Guy, Traffic, The Nice e Blue Cheer, dentre vários outros. Além de produtor e engenheiro de som, Kramer também era um apaixonado por fotografia, tendo inclusive participado de exposições exibindo capturas de momentos de grandes nomes do Rock com quem trabalhou nos bastidores.

DIETER DIERKS

Influenciados pela cultura hippie e pela música psicodélica, uma cena Rock começou a efervescer na Alemanha Ocidental, cena esta que ficou conhecida como Krautrock. As bandas desta cena tinham como premissa fazer um estilo de Rock Psicodélico mais minimalista e experimental, com influências de Jazz e Funk. O experimentalismo das bandas do Krautrock permitiu o desenvolvimento do chamado Avant-Garde e da música eletrônica. Aquela que é considerada a grande pioneira da música eletrônica nos anos 70, o Kraftwerk, era uma banda do movimento Krautrock.

Várias destas bandas tiveram a ajuda de um visionário empreendedor da indústria musical, que atendia pelo nome de Dieter Dierks. Nascido em 1943 na pequena cidade de Stommeln, em plena derrocada alemã na Segunda Grande Guerra, Dierks estudava para ser diretor de cinema. Mas ainda jovem ele já tocava em algumas bandas de Rock e angariava cada vez mais conhecimentos sobre som. Seu primeiro estúdio foi construído no sótão da casa de seus pais. Com o negócio aumentando em proporções, seu estúdio não cabia mais no sótão e foi parar nos quintais da casa. Na residência vizinha, que também pertencia ao clã Dierks, foi organizado um mini-hotel para os músicos que se utilizavam do estúdio. Pronto. A tecnologia do estúdio junto com o clima calmo de rancho eram perfeitos para as bandas experimentais alemãs da época. Pioneiros do Krautrock como Tangerine Dream, Ash Ra Tempel e Amon Düül gravaram seus primeiros registros nos estúdios e sob a batuta de Dierks.

O empreendimento se expandiu tanto que os estúdios de Dierks chegaram a alavancar o PIB da pequena cidade de Stommeln, pois as bandas que se hospedavam no hotel anexo ao estúdio aproveitavam para sair rumo os centros de compras e pubs da cidade. Em 1973 Dieter Dierks conheceu uma banda até então desconhecida e sem público, mas que mostrava muito profissionalismo em seus atos. Dieter iniciou uma parceria de produção com esta banda que durou até 1988 e que elevou-a a posição de um dos maiores nomes do Rock. Trata-se do Scorpions. O ex-baterista Herman Rarebell fala sobre Dierks em sua autobiografia And Speaking of Scorpions…, publicada em 2011:

“Para o Scorpions, Dieter foi o cara certo na hora certa. Quanto mais sua influência na banda crescia mais nós vendíamos álbuns. Toda a sua influência, todavia, conseguia causar desentendimentos entre os integrantes da banda. No final, Dieter conseguia acalmar os ânimos e os egos, conseguindo fazer a banda avançar novamente.”

Mas o estilo musical que Dieter Dierks ajudou a criar no começo dos anos 70 teve filhos que dificultaram seus negócios duas décadas depois. Aqueles que trabalhavam com música eletrônica, estilo surgiu graças aos pioneiros do Krautrock, não precisavam mais de estúdios para produzi-la; tudo era feito com computadores em casa. Dierks então teve que fazer novas adaptações em seu complexo de estúdios para atender a nova e tecnológica clientela. A coisa deu certo novamente, tanto que até Michael Jackson chegou à usar os estúdios de Dierks para alguns registros naquela década. Hoje, o conglomerado de negócios de Dieter Dierks inclui uma emissora de TV, um equipamento móvel de filmagens (realizando seu primeiro sonho de jovem), uma gravadora, uma companhia de dança e seus famosos estúdios, sempre atualizados com o que há de melhor na alta tecnologia. Em seu portfólio, Dieter Dierks também trabalhou com Accept, Ike & Tina Turner, Can, Rory Galagher e Twisted Sister. Nada mal para quem foi um dos maiores responsáveis pelo sucesso do Rock alemão, no geral.

CHRIS THOMAS

E mais uma vez Jimi Hendrix participou da carreira de um grande produtor. Antes de fazer sucesso, o guitarrista tocou juntamente com um baixista chamado Chris Thomas, já fazendo a cozinha com a bateria de Mitch Mitchell. Decidindo se afastar do trabalho de músico sem abandonar a música, Thomas entrou em contato com George Martin, o lendário produtor dos Beatles. Thomas então conseguiu um emprego na companhia de Martin. Certo dia, voltando de férias, Thomas não encontrou Martin, mas sim um bilhete assinado pelo quinto Beatle:

“Thomas, espero que você tenha aproveitado a folga. Estou tirando uns dias de férias. Esteja a disposição dos Beatles.”

Isto foi durante as gravações do disco que ficou conhecido como White Album. Deu tempo de Thomas orientar a banda em duas músicas e tocar teclados em mais quatro. Apesar da ajuda à banda, Thomas sequer foi creditado nem como co-produtor. Fora dos Beatles, Thomas assinou seus primeiros trabalhos como produtor com as bandas Climax Blues Band e Procol Harum. Foi com esta última banda que Thomas criou seu primeiro laço de parceria. Concomitantemente com o trabalho no álbum Grand Hotel, do Procol Harum, durante as madrugadas Thomas estava tentando apaziguar a briga de dois músicos bicudos que estavam compondo um álbum chamado Dark Side Of The Moon:

“Thomas era a terceira opinião que precisávamos”, disse David Gilmour em entrevista a Guitar World em 1993. “Deixamos Thomas a vontade para mixar o disco sozinho. Até que no primeiro dia de mixagem eu descobri que Roger Waters estava pelo estúdio bisbilhotando o trabalho de Thomas. Aí no segundo dia foi minha vez de ir bisbilhotá-lo. No terceiro dia em diante, ficamos nós dois acompanhando as sessões de mixagem com Thomas, interferindo. Eu ficava feliz porque Thomas sempre era mais simpático às minhas opiniões do que às de Waters.”

Anos depois, Thomas estava envolvido em outra confusão, que resultou num dos créditos de produção mais bizarros da história da música. Malcolm McLarem, empresário dos Sex Pistols contratou Thomas para produzir alguns singles, enquanto recrutou Bill Price para produzir o álbum. Algumas músicas que Thomas produziu como singles Price produziu para figurar no álbum, acabando que haviam duas versões da mesma música. Os dois produtores chegaram a conclusão que Malcolm queria pagar somente um dos dois produtores, com a desculpa de só ter aproveitado uma das versões, tendo em vista que ele misturava os dois trabalhos. No final, as músicas sairam creditadas no encarte como “produzido por Bill Price ou por Chris Thomas”.

Além destas bandas aqui citadas, Chris Thomas também trabalhou com Badfinger, The Pretenders, Pete Townshend, Elton John, Sting, INXS, Wings e The Human League.

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