Prosseguindo com nossa série, mais três produtores que fizeram história nos anos sessenta e prosseguiram, pelas décadas seguintes, exercendo sua influência sobre o mercado da música:

CHAS CHANDLER

O nome de Chas Chandler poderia ter entrado na história da música como um pequeno verbete, apontando a sua atuação como integrante do Animals. Um baixista de linhas discretas e econômicas, mas que, fora dos palcos, foi arguto o suficiente para identificar o talento bruto de um iniciante guitarrista americano que ainda tentava a sorte.

Ao ver o jovem Jimmy James tocando em uma modesta casa noturna no Greenwich Village, em New York, Chandler enxergou o potencial do músico e entendeu que precisaria levá-lo urgentemente para a Inglaterra. Chegando lá, empenhou-se em dar forma ao que viria a ser uma das grandes formações do século XX: O Jimi Hendrix Experience! Junto ao baixista Noel Redding e o baterista Mitch Mitchell, Hendrix gerou, sob a produção e a orientação empresarial de Chandler, os antológicos álbuns “The Jimi Hendrix Experience” e “Axis: Bold As Love”

Chandler cuidava de todos os detalhes da carreira de Hendrix e tratou de aproximá-lo do Cream, além de idealizar algumas ações que entrariam para o rol de feitos míticos, como a combustão da guitarra no festival de Monterey. As ideias do produtor, fora dos estúdios, acabaram por tornar-se mais relevantes do que atrás da mesa de som. Chandler funcionou mais efetivamente como mentor do que como produtor e esse padrão acabou por levar a parceria ao rompimento durante a realização de “Electric Ladyland”. Hendrix, mais senhor de si, tomou o controle criativo do álbum e trouxe inúmeras pessoas para o estúdio, além de empenhar-se em experimentações tantas que desgastaram sua relação com Chandler, que achava que o álbum estava indo para o lado da auto-indugência. O perfeccionismo de Hendrix, e o crescente uso de drogas, estavam batendo de frente com os interesses de Chas para a produção.

Seu passo seguinte demonstra que tinha uma visão mais voltada para a música mais básica e radiofônica, pois iniciou uma prolífica relação com a banda Slade, que gerou seis álbuns, de “Play It Loud”, de 1970, até “Whatever Happened To Slade”, de 1977, não por acaso o período de maior relevância do conjunto e que gerou os seus mais clássicos trabalhos. A maioria das menções a sua carreira como produtor costumam fechar-se nesses dois momentos, mas Chandler também acompanhou a realização do primeiro disco do Prog Jazz da banda Soft Machine, em 1968, e pôde conduzir o álbum de retorno de sua banda principal, o Animals, em 1977, intitulado “Before We Were So Rudely Interrupted”.

Chas Chandler faleceu em 17 de julho de 1996, vítima de um aneurisma. É certo que a estrela de um músico como Hendrix iria fazê-lo brilhar mais cedo ou mais tarde. Chandler cuidou para que fosse mais cedo.

PAUL A. ROTHCHILD

O nome de Paul A. Rothchild esteve envolvido com o rol dos artistas mais relevantes do Rock e da psicodelia americana dos anos sessenta. John Sebastian, Joni Mitchell, Neil Young, The Lovin ‘Spoonful, Tim Buckley e Love são alguns exemplos retirados de seu portfólio de trabalhos, mas certamente que, o relacionamento criativo mais celebre que ele teve, foi com The Doors.

Para quem assistiu o filme dirigido por Oliver Stone, o êxtase demonstrado por Rothchild, ao final do primeiro show que presenciou do conjunto, não foi tão empolgado quanto o demonstrado na tela. Em suas próprias palavras, Rothchild considerou a banda um tanto quanto fraca na primeira vez que os viu, mas ele retornou para outro espetáculo e, tal qual o sugestivo nome daquele conjunto, algo foi aos poucos se abrindo em sua compreensão daquela música.

Aquela música era… era o quê??? Qual era o parâmetro comparativo que ele poderia estabelecer ali? Paul não sabia e foi isso que o fascinou e cativou. Ao término daquele segundo show, ele já havia tomado suas decisões.

Paul nasceu no Brooklyn, filho de uma cantora de ópera. Desde muito cedo começou a se envolver com produção musical. A sensibilidade que detinha foi crucial para os resultados obtidos junto aos Doors, no sentido de traduzir, para as pistas de gravação, as características de performance ao vivo que eles exibiam, de permanente estado de improvisação. Também entendeu que era vital que, se aquela era uma banda diferente, essa era uma condição que precisava ser protegida. Foi o que ocorreu quando, por exemplo, proibiu Robby Krieger de usar pedais wah-wah, na esteira do que Jimi Hendrix vinha fazendo com aquele tipo de recurso. A explicação era que ele desejava que, décadas à frente, as pessoas ainda estivessem ouvindo Krieger e que, se ele começasse a fazer o que outros guitarristas já estavam fazendo, não dariam atenção ao seu talento na época e, nem tampouco, no futuro.

Rothchild foi, constantemente, a cola que manteve o conjunto produzindo. A tensão constante entre os integrantes e as pretensões literárias de Jim Morrison poderiam ter abreviado a carreira da banda em alguns anos. Isso durou até “L.A.Woman”, quando as diferenças de visão levaram Rothchild a tomar a decisão pelo rompimento. Apesar disso, ele esteve, sob certa forma, sempre vinculado aos Doors, o que levou a decisão lógica de que a condução da trilha sonora do filme ficasse sob a sua batuta.

Trilha sonoras não eram novidades para Paul, pois ele também responsabilizou-se pela de “The Rose”, produção com Bette Midler parcialmente baseada na vida de Janis Joplin. Decisão lógica também, pois Paul considera que um dos trabalhos mais belos que realizou foi a produção de “Pearl”, da rainha do Blues Rock americano. Em suas palavras “um dos maiores álbuns da minha carreira, um trabalho de amor total pelos músicos mais amorosos e dedicados com quem já trabalhei. Estou falando sobre o álbum de Janis Joplin, “Pearl”. Essa música estava cheia de coração, da maneira que deveria estar no estúdio. Você obteve 110 por cento de todos na banda e 150 por cento de Janis”.

Rothchild faleceu aos 59 anos de idade, no dia 30 de março de 1995, vitimado por um câncer de pulmão.

QUINCY JONES

Seu nome não está essencialmente vinculado ao Rock, mas eu não poderia, em hipótese nenhuma, escrever uma matéria sobre grandes produtores sem incluir o nome de Quincy Jones.

Quincy nasceu em Chicado, no ano de 1933, e seus primeiros contatos com a música aconteceram na escola. Ainda muito jovem, o ex-engraxate fez amizade com outro músico que estava em começo de carreira e, juntos, formaram uma dupla que tocava em casamentos e clubes de Jazz. Seu nome: Ray Charles.

Começando a criar alguma fama dentro desse meio, Quincy recebeu o convite para acompanhar a banda de Lionel Hampton, tocando trompete. Com Hampton, ele começou a aprender formas incomuns de fazer arranjos para as músicas e passou a utilizar esses conhecimentos em trabalhos que começou a realizar com nomes como Gene Krupa, Duke Ellington, Count Basie, Sarah Vaughan, Frank Sinatra, Miles Davis, Ella Fitzgerald e novamente com Ray Charles. Paralelamente, passou a compor trilhas sonoras para programas de televisão e filmes hollywoodianos, sendo algumas das mais conhecidas as que foram feitas para “No Calor da Noite”, “Flor de Cacto” e “A Cor Púrpura”.

Foi, portanto, durante a realização do filme “O Mágico Inesquecível”, de 1978, que ocorreu o encontro que mudaria definitivamente os rumos da música pop! Michael Jackson veio até Quincy, perguntando-o quem ele sugeriria para produzir seu próximo disco. A resposta de Quincy foi direta: eu mesmo! Nasceu aí a parceria que geraria os álbuns “Off the Wall”, “Thriller”, “Bad” e o megaprojeto “We Are The World”, que visava angariar fundos para os famintos na Etiópia e juntou, além de Jackson, nomes como Bob Dylan, Bruce Springsteen, Ray Charles, Stevie Wonder, Tina Turner, Cindy Lauper, Paul Simon, entre outros. A fórmula de Quincy para facilitar o trabalho conjunto de tantas estrelas foi bem simples. Um aviso na porta dizendo “Deixe seu ego do lado de fora”.

Ativista social desde a década de 60, o produtor acumula 79 indicações para o Grammy, das quais ganhou 27. Em 2013, entrou para o Rock and Roll Hall of Fame, tendo sido presentado, na cerimônia, pela apresentadora Oprah Winfrey. Escreveu também suas memórias, que foram publicadas sob o título “Q: The Autobiography of Quincy Jones”, em 2001. De lá pra cá, já transcorreram 16 anos, cabendo, portanto, uma iniciativa de atualização por parte do autor. De certo que Quincy Jones sempre tem algo importante a dizer.

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