Produtores – Anos 2000 – 1a. Parte

Entramos na etapa final de nossa coluna sobre os grandes produtores. Quem são os profissionais que se destacaram em anos mais recentes dentro da indústria musical? Descubra os principais nomes a partir de agora!

STEVEN WILSON

O garoto que, contrariando o desejo que tem a maioria dos jovens de sua idade, rejeitou as aulas de guitarra pagas pelos pais, pois não queria adquirir aquela habilidade de forma acadêmica, acabou por se tornar um dos principais instrumentistas, compositores, produtores do Rock Progressivo. Hoje, sob a ótica atualizada do que esse estilo significa, é difícil estabelecer qualquer contexto sem mencionar o nome de Steven Wilson.

Mas Wilson rejeita também ser enquadrado na delimitação de Rock Progressivo, pois entende que sua música não se restringe ao mero significado disso, abrangendo também o Jazz, o Pop, o Metal, o Psicodélico, o Ambient ou qualquer ritmo que nasça naturalmente durante o ato de compor. E dado a produtividade da obra deste inglês nascido em 1967, é natural que melodias variadas surjam pois, do contrário, não haveria razão para a miríade de projetos que levam a sua assinatura, desde que despontou com a banda Porcupine Tree e prosseguiu com o No-Man, Bass Communion, Blackfield e a sua própria carreira solo, apenas para mencionar alguns nomes.

Com tantas bandas no currículo, é estranho saber que Wilson não pretendia, inicialmente ser um artista de palco. Essa foi uma condição com a qual ele foi se adaptando aos poucos, mas no começo sua ideia era de ser apenas produtor e compositor. O contato com o álbum “Dark Side of the Moon”, ainda na infância, foi fundamental para que acendesse essa chama e é de onde ele buscava o conhecimento que precisava. A audição de discos lhe daria as respostas, as habilidades que buscava.

Sua chegada até os trabalhos solos ocorreu da necessidade de poder criar buscando agradar apenas a si próprio. Embora o Porcupine Tree tenha sido a banda de mais popularidade da qual participou, ele acredita que é um capítulo encerrado, pois não quer mais ter que negociar os aspectos de uma composição de forma que agradem a um grupo de músicos. Mesmo com esse pensamento, ele considera que Michael Akerfeldt, do Opeth, foi a parceria mais proveitosa que teve, a melhor comunicação musical que compartilhou.

Além de ter produzido os álbuns do próprio Porcupine Tree, seus serviços de produtor podem ser encontrados em alguns dos nomes mais evidentes do Prog Metal contemporâneo, como o próprio Opeth, com quem fez os discos “Blackwater Park”, “Deliverance” e “Damnation”, o disco “The Never Ending Way of ORWarriOR”, do Orphaned Land, e “We´re Here Because We´re Here” do Anathema. Mas nomes gigantescos do cenário tem também recorrido aos seus talentos e bandas como Yes, Marillion, Gentle Giant, King Crimson ou Jethro Tull disponibilizaram obras clássicas de seus catálogos para que Wilson as remixasse em Surround 5.1.

Vegetariano, ateu, não-fumante e não usuários de drogas, parece não haver, em sua cabeça, espaço para nada que não seja música. O culto da celebridade não o interessa e ele nem considera a possibilidade de iniciar uma vida familiar para não afetar o seu compromentimento com a arte. Tendo recebido elogios de gente como Steve Howe, Adrian Belew, Robert Trujillo e Alex Lifeson, resta-lhe, entre seus objetivos ainda não realizados, a chance de poder criar uma trilha sonora para filmes. Produções que evidenciem mais o lado artístico do que as bilheterias, onde sua música se encaixaria mais naturalmente. Aos 15 anos de idade, ele lançou suas primeiras gravações, com o duo Altamont, em 1983. Passaram-se 34 anos, mas Steven Wilson parece ainda estar começando!

KEVIN SHIRLEY

Não é de se imaginar que alguém conhecido pela alcunha de “The Caveman” seja um especialista em novas tecnologias, mas foi justamente com essa intenção em mente que Jimmy Page abordou Kevin Shirley para a recuperação de antigas gravações do Led Zeppelin.

Kevin é natural de Johhanesburg, na África do Sul, e foi por lá que iniciou sua vida profissional, com artistas locais. Tendo se mudado para a Austrália, prosseguiu atuando junto ao cenário musical da região, mas obteve alguns trabalhos relevantes além daquele continente, como a engenharia de som do álbum “Counterparts” do Rush. Na terra dos cangurus, atingiu o sucesso com o disco “Frogstomp”, do Silverchair, uma das bandas que simbolizaram o começo dos anos noventa. Os resultados desse disco lhe possibilitaram a ida para os Estados Unidos e, desde então, construiu uma discografia sólida, junto a alguns dos nomes de primeiro escalão do Rock mundial.

Após a realização do disco “By Your Side”, do Black Crowes, surgiu o convite para a produção do álbum ao vivo que a banda gravaria junto a Jimmy Page. O mítico guitarrista parece ter ficado satisfeito com o resultado, pois sondou Shirley a fim de entregar-lhe material de arquivo do Led Zeppelin que pretendia lançar. Esse material corresponde ao “Led Zeppelin DVD”, de 2003, e o disco ao vivo “How The West Was Won”. Shirley não atuou aqui como produtor, mas como técnico e seu trabalho foi nada menos que hercúleo, na falta de outra palavra que possa expressar a magnitude do que ele fez.

Tem que se ter em mente que a matéria prima que gerou esses itens não provinha de uma captação feita com as técnicas atuais. Aliás, não provinha sequer de UMA captação. Diversos takes, diversas gravações, diversos bootlegs, com diferentes estados de conservação, com diferentes níveis de qualidade ou volume de som, foram convertidos em retratos de alta definição do poderio do Led Zeppelin. Cada instante de música foi percorrido para que lapsos de gravação pudessem ser preenchidos. Se parássemos por aqui, já teríamos razão suficiente para a inclusão do nome de Shirley em nossa matéria.

Mas seguindo adiante, o produtor cravou trabalhos com artistas como Journey, Mr. Big e Joe Satriani. Entre alguns outros, deve se destacar aqueles que estenderam sua parceria por mais tempo como o Prog Metal do Dream Theater, os discos solos de Joe Bonamassa e seus álbuns junto ao Black Country Communion e o Iron Maiden, com quem atua desde o retorno de Bruce Dickinson, no álbum “Brave New World”. Quando é convidado para comentar sobre seus procedimentos, ele sempre acentua o incentivo que faz para que as bandas gravem atuando em conjunto no estúdio, buscando aquela interação entre os músicos que pode fatalmente se perder quando se faz sessões de captação isolada de cada integrante. Isso foi feito com o Mr. Big e é feito com o Iron Maiden. Mesmo algumas características dessas bandas, que normalmente deveriam ser ajustadas em uma pós-produção, Shirley entende que não devem ser mexidas, pois perfazem a identidade sonora única, que prevalece sobre noções herméticas de tempo e sincronia musical.

Não resta qualquer dúvida de que Kevin Shirley tem o domínio de seu ofício e consegue resultados, mas é certo também que seu nome esteve vinculado com o de bandas já consagradas, capitaneadas por músicos de posicionamento muito forte em relação as suas obras: Page, Mike Portnoy, Steve Harris. O que pode oferecer o produtor que, vinte anos atrás, trouxe uma juvenil banda australiana para o sucesso mundial, caso tenha oportunidade de trabalhar novamente com artistas mais novos? Anseio por essa resposta…

PETER TÄGTGREN

A música extrema estabeleceu alguns nomes que se tornaram emblemáticos em produções desse estilo. Um que deve sempre ser mencionado é o do sueco Peter Tägtgren. Um verdadeiro quem-é-quem do cenário Thrash, Death e Black Metal contemporâneo passou por suas mãos: Destruction, Marduk, Dimmu Borgir, Sabaton, Amon Amarth, Immortal, Celtic Frost, Therion, Children of Bodom e até mesmo bandas do continente americano, como o Overkill, buscaram os seus talentos na hora de preparar seus trabalhos.

Mas a desenvoltura de Peter para lidar com variadas vertentes vem de suas próprias experiências como músico. Tendo aprendido a tocar vários instrumentos desde cedo, ele foi revelado ao cenário como líder do personalíssimo Death Metal do Hipocrisy. Esse é o nome que mais rapidamente associamos com a sua trajetória, mas está longe de ser o único. Pain foi o projeto individual onde ele pôde explorar ritmos eletrônicos e industriais, contendo um certo flerte com o Pop, embora seja um Pop dotado de bastante agressividade.

Peter transitou pelo grindcore do Lock Up e pelo Black Metal, do The Abyss, que é também o nome de seu estúdio. Hoje, sua mais recente empreitada foi a parceria com o vocalista do Rammstein, no duo Lindemann. Com tanta atividade, imagina-se como o artista faz para conciliar a sua rotina com a vida particular, mas ele parece não estar interessado nisso pois já deu fim a dois casamentos, dizendo que não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. “As mulheres vêm e vão, mas a música permanece”, conforme declarou, sem que isso o impedisse de trazer, para junto de seu universo musical, o seu filho Sebastian.

Fazendo pontas esporádicas como ator em filmes, ou administrando o vilarejo de sua propriedade, situado ao norte de Estocolmo, o que importa é compreender suas ideias a respeito da produção e, nesse tema, ele estabelece que a música precisa ser captada quente, de uma forma que apenas os modos mais tradicionais podem obter, pois a gravação diretamente através do computador tende a deixar tudo um pouco frio e asséptico, o que vem, porém, a funcionar em situações de música industrial, como o Pain. Após a conclusão dos procedimentos, ele tende a fazer testes com diferentes tipos de alto-falantes, para avaliar detalhes como volume dos vocais e coisas assim, mas sabendo que, estando concluída a mixagem, isso não impedirá que a reprodução em equipamentos distintos não tenha sutis diferenças entre uma e outra, não havendo certo ou errado entre essas diferenciações.

Observando os resultados que ele obtém, não sobra muito espaço para contestação. Ele ajudou bandas a estabelecerem clássicos em suas discografias e continua a fazê-lo. Não há um disco ápice em sua discografia, ou algum artista mais destacado, e é bem melhor assim. A grande obra de Peter Tägtgren é trazer tantos estilos diversos para dentro de uma linearidade qualitativa.

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