Vivemos uma era onde, mais do que nunca, as informações chegam a nós como uma verdadeira torrente, dificultando nossa assimilação, memorização e até nosso aprofundamento em algum tema. A internet tem, como tudo na vida, dois lados de uma mesma moeda: enquanto ela auxilia na divulgação de bandas que de outra forma não chegariam a nós, também atrapalha o mesmo fim, já que todas buscam a mesma efetividade no mesmo meio. Isso faz com que ou não nos aprofundemos no conhecimento das músicas das bandas, ou não tenhamos disposição para ouvir algumas em meio a tantas. Com isso, deixamos algumas boas bandas passarem. Talvez pelo nome estranho e pela quantidade de bandas se divulgando, o trio do Pop Javali seja mais um a passar batido pela maioria, mesmo que seja uma ótima banda.
~> Texto originalmente publicado no Warriors Of The Metal.
Natural de Americana, no interior de São Paulo, o Pop Javali oferece um Hard Rock genérico de qualidade, capaz de envolver o ouvinte em músicas boas de ouvir que unificam força e sentimento.
Por enquanto são apenas dois álbuns de estúdio, ambos lançados recentemente. Ainda assim, a banda é cascuda e está junta, em atividade com formação intacta, faz muito tempo – há mais de duas décadas. Formado em 1992, o trio consiste em Marcelo Frizzo no vocal e baixo, Jaéder Menossi na guitarra e Waldemar Rasmussen na bateria. As duas primeiras décadas podem não ter presenciado nenhum lançamento da banda, mas viu muitos de seus shows. Parte da ausência de lançamentos se dá pelo fato de Jaéder e Waldemar estarem mais engajados ao Mystical Warning durante os anos 90, tendo inclusive lançado o álbum “Third Millenium” através da Megahard Records em 1998. Mas o Pop Javali nunca parou. Composições fluíam ao longo dos tempos, até que o amontoado delas resultou no lançamento – tardio, é verdade – do álbum de estreia “No Reason To Be Lonely” em 2011, via Oversonic Music.
O disco apresenta de maneira bem clara a proposta dos músicos: um Hard Rock que se deixa levar pelo legado que os anos 70 e 80 deixaram. Superficialmente, a arquitetura musical pode parecer simples, até pelo clima ameno e envolvente que as músicas transmitem, mas um pouco mais de atenção torna possível notar o interessante detalhamento estrutural. Tratam-se de riffs bem elaborados, dinâmicos e carregados do espírito Hard oitentista, algumas vezes atraindo influências Progressivas que complexificam ainda mais a musicalidade, mas que perdem parte de sua força de impacto por questões produtivas. Mesmo assim, a experiência é positiva, e essa positividade é maximizada nos momentos de solo de guitarra nas canções que os têm – são empolgantes destruições velozes que clamam por bateção de cabeça! Mas nem só de peso é feito o trabalho, já que passagens tranquilas e exploração de efeitos limpos de guitarra também pincelam cores leves nesse registro.
“No Reason To Be Lonely” é um álbum cuja variação tem um raio de extensão limitado no que diz respeito à sensação que as canções passam ao ouvinte. Mas no que diz respeito ao microuniverso dos arranjos, há bastante variação e a dedicação conferiu qualidade. Aqui, a banda não se mostra tão segura, embora estivesse em sua zona de conforto, mas o resultado final é ótimo. De qualquer forma, esse ponto de partida amadureceria a banda – e muito – para o que estaria por vir mais tarde.
Entre shows e ensaios, os tempos que sucederam o disco de estreia foram marcados pela dedicação à novas composições, já visando a concepção de um segundo álbum. Sentindo-se mais confiantes durante o processo e gostando da recepção que os fãs davam às novas músicas nos palcos, os rapazes finalizaram mais 11 composições e as lançaram através do álbum “The Game of Fate” em 2014.
Não há dúvidas: trata-se de um salto de qualidade em relação ao “No Reason To Be Lonely”. Dessa vez, o trio transmite muito mais maturidade, além de dose maior de segurança, convicção no que está sendo feito e ousadia para experimentar variações composicionais ainda mais complexas.
“The Game of Fate” é uma continuação direta do debut. Mesma atmosfera, mesma proposta sonora, mesmo sentimento. No entanto, é muito mais convincente, com músicas mais dinâmicas – além de pesado. Pois é. Com a produção a cargo dos irmãos Andria e Ivan Busic do Dr. Sin, as canções ganharam um pouco mais do poder de fogo que faltou no registro anterior. O Hard Rock praticado aqui exala pleno vigor, esmagando os ouvidos e enchendo de vida canções que são boas não somente pelo trabalho notório e espetacular do guitarrista Jaéder Messoni, mas também pelo amadurecimento das linhas composicionais vocais. Elas melhoraram, e bastante. São trechos charmosos, de fácil memorização, com refrões que elevam as músicas e que só não são ápices absolutos porque guerreiam com os fascinantes e frenéticos solos de guitarra.
Mas o peso do trabalho não provém apenas do Hard Rock. Influências de Heavy Metal também são claras, além do cristalino Progressive Metal que se manifesta com alguma frequência, especialmente em faixas como “Enjoy Your Life” e “I Wanna Choose”. De modo geral, água das mesmas fontes que o debut bebeu, mas com mais minerais. Trabalho excelente.
O som do Pop Javali contém peso, contém técnica, contém os atributos necessários para registros de qualidade. Mesmo com tudo isso, não é incomum o ouvinte ter uma sensação de leveza bastante característica, como em bandas de Soft Rock. Tal sensação se deve sobretudo à postura não agressiva e até cadenciada do vocalista Marcelo Frizzo. Seu timbre é agudo e a técnica é um tanto nasal, conferindo um vocal que lembra exageradamente ao Phil Collins (Genesis) e, por vezes, Steve Perry (ex-Journey). A sonoridade, por sua vez, embora tenha seu pilar central firmado em solo Hard, não transmite os contornos inconfundíveis e bem delineados das bandas que de fato se afundam de cabeça no gênero, o que revela inclusive influências de Dr. Sin.
De qualquer forma, a banda é muito, muito boa. É gostosa de ouvir. Não é das que mais se sobressaem (algo auxiliado pelo nome pouco convidativo, que leva à subestimação por mais que não queiramos), mas faz um excelente trabalho e espera-se que estejam em uma crescente criativa. Notavelmente, com exceção do guitarrista Jaéder, a banda trabalha dentro de sua zona de conforto. Ainda falta um ‘punch’, algo que faça o ouvinte apontar o dedo e dizer “esses são os caras e esse álbum é insano!”. Quem sabe no futuro? Novos trabalhos certamente virão. O primeiro ao vivo já está a caminho, intitulado “Live In Amsterdam”. Será lançado no fim do primeiro semestre de 2016 e foi gravado durante a turnê europeia realizada em outubro de 2015, que foi a primeira e passou por Alemanha, Inglaterra, Itália, Suíça, além, claro, da Holanda.
Ao longo de sua trajetória, o trio já realizou shows ao lado de bandas como Uriah Heep, Deep Purple e Ugly Kid Joe e certamente mais gigantes ainda estão por vir. A turnê europeia é prova do bem-sucedimento da banda, bem como a positivíssima repercussão de “The Game of Fate” em veículos de imprensa como Roadie Crew e UOL.
Formação:
Marcelo Frizzo (vocal e baixo);
Jaéder Menossi (guitarra);
Waldemar Rasmussen (bateria).
Discografia:
No Reason To Be Lonely (2011)
01 – Silence
02 – Wasted Time
03 – Sacrifice My Dreams
04 – Believe
05 – Anything You Want
06 – Do For Me
07 – Not Enough
08 – My Own Shield
09 – Disillusions of Mind
10 – No Reason To Be Lonely
The Game of Fate (2014)
01 – Lie To Me
02 – Healing No More
03 – Mindset
04 – Road To Nowhere
05 – Free Men
06 – Time Allowed
07 – A Friend That I’ve Lost
08 – Wrath of The Soul
09 – Enjoy Your Life
10 – I Wanna Choose
11 – The Game of Fate
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