Atuando há mais de vinte anos na cena underground nacional, o guitarrista Cezar Rocha carrega uma bagagem e militância de respeito dentro do movimento musical brasileiro. Tendo passado por bandas de punk e hardcore nos anos 90 como o “Outsiders” e “Causa e Efeito”, e integrado os projetos CHAPAKENTI e 7Peles, o músico faz parte hoje em dia de uma das bandas de maior posicionamento no hardcore nacional, o PAVIO.
Com influências musicais diversas, que vão desde a música popular brasileira, do metal da década de 80 da Bay Area, rock clássico, heavy metal setentista e o hardcore punk, Cesar, apresenta uma pegada voraz e dinâmica em seus riffs de guitarra e em sua performance de palco, demonstrando todo sua experiência, paixão e luta pela música nesses mais de 20 anos de estrada.
Conversamos com o músico sobre influências, carreira, processo de composição, equipamento e outras curiosidades.
Você e o PAVIO. apresentam dinâmica forte e natural no palco. Como que funciona a parceria de vocês como músico e amigos dentro do projeto? Como se dá tamanha sintonia da banda?
R: Essa sintonia com o PAVIO deriva de um amizade de mais de 20 anos que tenho com o Marcelo Prol. No PAVIO. tudo se baseia na amizade, no respeito e na crença dos mesmos ideais. Acredito que tenha sido dai que surgiu o convite para que eu integrasse o time. Temos o interesse mútuo de ver esse trabalho autoral dar certo e acho que essa dinâmica no palco surge ai nesse momento. Sou grato pela oportunidade de estar com o PAVIO.
Dentro do cenário de rock, hardcore e metal brasileiro, você costuma acompanhar bandas com trabalho autoral? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção?
R: Acompanho bandas autorais. A cena nacional é forte, rica e criativa. Essa galera é trabalhadora e representa bem os corres. Bandas como Cervical, Ataque Periférico, Tamuya e Facada estão no meu playlist sempre. Curto muito os trabalhos da Quantum e Involuntarium também entre outros. As bandas da cena atual não poupam esforços para apresentar um trabalho de qualidade. Gringos tenho ouvido bastante Lamb of God, Disturbed e Godsmack.
Que dica você daria a músicos brasileiros da cena, amadores ou profissionais, que tem medo de experimentar e inventar coisas novas em suas músicas?
R: Ouçam bastante música e estudem seus instrumentos como se não houvesse amanhã. Feeling conta mas conhecimento nunca é demais e isso também faz diferença na hora das composições. Invistam em seus equipamentos o quanto for possível. Um bom som nem sempre está associado a marcas então pesquise e, dentro de sua realidade, invista. Ouça seus companheiros de banda pois, normalmente, todos tem boas ideias. Pense que o não você já tem, então acredite você em sua arte e coloque todos os seus sentimentos em suas músicas, sem se preocupar com o que vão achar, pois o importante é soar verdadeiro. Busque a diversão e o prazer em estar com os amigos tocando. E não se esqueça, colabore com a cena local, vá aos shows para ser lembrado e aproveite para comprar cds e merchs.
Qual modelo de guitarra, cordas e amplificadores você usa? Conta pra gente a relação de amor com seu instrumento.
R: Eu uso uma Gibson Les Paul Worn Brown 2004 com captadores EMGs. Antes eu usava uma Ibanez RG7321 7 cordas com captadores Dimarzio. Meu timbre de distorção para base e solos vem do meu GE200 da Mooer, aonde simulo o amplificador 5150 da Peavey. A “firma” possui um amplificador stack LANEY LX 120 RH com um gabinete com 4X12. Cordas eu uso qualquer uma. Estando nova, não tenho preferências.
Quais são as suas maiores influências musicais? Pra você qual é o maior guitarrista de todos os tempos?
R: Eu sou um músico bem eclético e embora no PAVIO. toque guitarra, minha paixão é o violão de nylon. Da banda eu sou o cara do popular brasileiro. Curto muito o balanço brasuca de compositores como Djavan, Caetano, Gil e Lenine. Mas, desde novo, também sou deveras influenciado pelos clássicos do metal da década de 80, da Bay Area. Também me inspiro nos guitarristas ingleses como Eric Clapton, George Harrison, Brian May e Andy Summers, mas acho que o guitarrista que mais me influencia atualmente com toda a certeza é o magnifico Tony Iommi e seu Black Sabbath. Meu guitarrista preferido desde criança é o mago das cordas Eddie Van Halen.
Como que você compõem suas linhas de guitarra? Como se da seu processo criativo?
R: Hoje eu sou responsável pelos solos e pelas dobras de guitarra que são ingredientes que não haviam nos dois EPs de estreia do PAVIO, pois agora somos 2 guitarristas. Essas dobras de guitarras normalmente são compostas depois que o Pedro cria as bases das músicas. É um processo aonde me dedico com cautela para não descaracterizar a sonoridade da banda. Comecei recentemente meu processo de composição para o próximo EP. Inicialmente quando entrei no PAVIO. em 2018, eu apenas replicava as guitarras gravadas. Era muita responsabilidade pois os EPs tinham guitarras pesadas e bem expressivas, com isso aprendi muito.
Como a música surgiu em sua vida?
R: Meu pai é músico estudioso até hoje. Bom de piano e de baixo. Ouço Beatles em casa por causa dele desde sempre. Quando eu tinha 6 anos meu irmão mais velho me mostrou o Van Halen, Queen e o The Police. Nessa época eu ficava namorando as capas dos discos do Van Halen. Lá pelos 15 anos meu amigo Paulo Barata, que era um metaleiro que morava aqui na rua e tinha a maior coleção de vinis de metal que já vi na vida, tocou o …and Justice for All!!! do Metallica e acho que foi ai que eu decidi ter uma banda. Fui vocalista de uma banda punk da década de 90, o Outsiders e lá aprendi muita coisa. Depois que participamos da coletânea Liquid Jam percebi que meu interesse eram as 6 cordas. Minha primeira banda como guitarrista foi com Marcelo Prol em 97 ou 98 e se chamava Causa e Efeito. Mais tarde em 2001 toquei no CHAPAKENTI entre idas e vindas até 2012. Recentemente integrei o 7Peles aonde tive o privilégio de gravar o cd “O Primeiro Evangelho do 7Peles” abrindo os shows do Mayhem e do Marduk aqui na Lapa. Hoje me dedico exclusivamente ao PAVIO.
Tem algum show na história do PAVIO. que você ache que foi o melhor show? Algum em especial que sempre lembrará?
R: Com certeza foi o Garage Sounds. Nunca estive em um evento aonde tantos amigos “dasantiga” estavam lá ao mesmo tempo dando certo com seus trabalhos autorais e representando a nossa cena. Enterro, Malvina e Ladrão são só alguns exemplos. Parecia mais uma festa aonde todos os meus amigos estavam reunidos. Pessoalmente foi um dos dias mais felizes de minha vida. Fora todo o profissionalismo e atenção aos detalhes da Collapse Agency para com as bandas. Dia perfeito, tudo perfeito. Toda vez que lembro me encho de orgulho do tipo: “ei cara, nós estivemos lá!!!” ai eu mesmo me respondo: “É, foi incrível, fizemos historia”. Realmente foi singular e ficou gravado na minha memória pra sempre.
Novidades para 2020?
R: Estamos compondo e preparando algumas surpresas para logo serem lançadas, acredito eu, ainda este ano. A agenda de shows começou a encher as datas e estamos ansiosos para fazer o corre de sempre. Contamos com o público que tem comparecido nos shows e agradecemos o carinho de todos.