Pan – Rock Progressivo na Dinamarca

Não pode existir algo mais atormentador para um artista do que a privação de suas inspirações. Assim se sentia Robert Jean Francis Lelièvre, quando aos 19 anos de idade foi convocado ao serviço militar de seu país, França, ficando por lá apenas por três meses.

Robert Lelièvre era um jovem músico que, para fugir da cadeia por motivo de deserção do serviço militar, chegou até a Dinamarca. Na bagagem levava apenas sonhos e coragem. Acabou por criar uma das bandas de maior expressão daquele reino escandinavo, no final dos anos sessenta e início dos anos setenta.

2 - 3

Chegando por lá em 1965, mais precisamente na capital, Copenhague, Lelièvre já tinha passado pela Espanha onde participou de um grupo de Jazz tocando guitarra. Em Bruxelas (BEL), conheceu o cantor e guitarrista Cy Nicklin que o levou à Copenhague e lá se juntaram ao acordeonista e flautista Maia Aarskov, formando em seguida o trio de música Folk Cy, Maia & Robert. Juntos lançaram dois álbuns, On The Scene (1966) e Out Of Our Times (1967). O trio alcançou grande sucesso com o último álbum que chegou até a Inglaterra. Houve propostas também para lançá-lo nos EUA, mas a má administração dos negócios unida ao roubo de todo o seu equipamento em novembro de 1967, e as muitas divergências musicais, resultaram no fim do trabalho dos músicos.

Em 1968, Lelièvre tenta um novo trio com o baterista James “Jimmy” Campbell e o baixista Iain Campbell, mas este era liderado por Aarskov, chamado Maia & Full Limit. Apesar de ter durado apenas de março a abril de 1968, eles ainda lançaram um ‘single’: Cheers Dears / Natural Man.

Em 1969, Lelièvre volta a trabalhar com Cy Nicklin e formam a banda High Crossfield. Com a dupla acompanhava-se também o baixista Arne Würgler que, ao lado de Robert, deram início à banda Pan no mês de outubro daquele ano.

pan

Eles conheceram os irmãos Thomas Puggaard-Müller (guitarrista e vocalista) e Michael Puggaard-Müller (baterista) – os dois faziam parte do Delta Blues Band – e o tecladista Henning Verner, que tocava piano para o saxofonista de Jazz Dexter Gordon.

A banda trazia gêneros musicais que foi resultado da influência de cada integrante –, algo associado ao Rock, Jazz, Blues e Folk, com predominância do Rock Progressivo. O trabalho de composição foi impressionante; em apenas pouco mais de um ano, o grupo conseguiu visibilidade muito importante na Europa.

Em 1970 eles estreiam com compacto In A Simple Way / Right Across My Bed, com a primeira faixa escrita por Robert e a segunda com co-autoria de Niels Skousen, famoso artista dinamarquês que foi vocalista do Pan nos primeiros meses, mas que saiu em janeiro de 1970, mesmo mês de lançamento desse registro. O single foi lançado pela Sonet Records que gostou do resultado e, mais que imediatamente, apostou também no álbum completo.

R-2625580-1293886948

As canções foram gravadas em fevereiro e março de 1970 com músicas cantadas em francês, Il N’y A Pas Si Longtemps De Ca e Tristesse, além de outra que faz claras reverências ao país de Lelièvre, Song To France. O álbum ainda traz uma canção do compositor Mic Hannant chamada If. Na época a imprensa dinamarquesa encheu de elogios o trabalho da banda –, um dos tablóides mais conceituados, Dagbladet Information, lançou nota dizendo: “Este é o melhor trabalho de Rock lançado até o momento na Dinamarca.”

O álbum Pan foi vencendo barreiras até ser considerado hoje um clássico para a história do Rock daquele país. Politikens Dansk Rock, uma importante fonte de pesquisa do estilo, colocou o álbum em quarto lugar de toda a história do Rock dinamarquês. O grupo era aplaudido em qualquer parte que tocasse, principalmente em seu país ou na Alemanha, que também se maravilhou com a performance da  banda. Sua desenvoltura em palco mostrava grande virtuose, mas, assim como em toda parte do mundo na década de setenta, a venda de LPs era um negócio mais arriscado que a venda compactos, o que não causou grandes resultados para a gravadora.

R-1854314-1286135143

Os altos e baixos dentro do grupo começavam a surgir, um por um dos músicos começaram a se dedicar em outros projetos. Arne Würgler, por exemplo, formou uma dupla com o cantor Benny Holst em 1971 e, até o ano 2000, lançaram álbuns. Würgler continua na carreira de músico onde Det Der Er de 2013 é o seu trabalho mais recente. O tecladista Henning Verner, também continuou sua carreira em bandas como, Square Dansk e Kenn Lending Blues Band. Thomas Puggaard-Müller também segue com sua conduta artística tendo passado por diversos grupos após sua saída do Pan. Um de seus trabalhos mais recentes foi para o músico Peter Hard, em seu álbum Den Hvide By (2011). Seu irmão Michael Puggaard-Müller depois foi trabalhar com grupos como, Hvalsøspillemændene, Jan Toftlund & Martin Andersen e astros da música Folk, World e Country. Robert Lelièvre, após a separação da banda em 1971, resolveu fazer um álbum solo com alguns companheiros do Pan e outros músicos dinamarqueses, mas a gravadora Sonet negou o lançamento prejulgando um fracasso nas vendas. O trabalho jamais foi lançado.

Tendo supostamente conseguido anistia em seu país, Lelièvre retorna à França em 1972. Chegando lá o governo manda prendê-lo e, após a sua libertação, retorna à Dinamarca onde não consegue se reerguer. Abalado pela situação vivida, Robert pôs fim a própria vida no dia 26 de agosto de 1973 em Copenhague.

Prevendo uma imensa popularidade, a rádio Danish registrou duas apresentações ao vivo da banda, uma em janeiro e a outra em junho de 1970. Essas gravações ficaram guardadas por 34 anos em seus arquivos, até que foram lançadas pela Karma Music em 2004 como On The Air – DR Sessions 1970. Niels Skousen canta em quatro das oito músicas, resultado da importante colaboração que ele fez ao quinteto quando era vocalista.

R-2218278-1270484817

O primeiro relançamento do álbum Pan, saiu pela Karma Music em 2005, e veio com sete canções bônus das quais figuram versões alternativas para To Get Along Alone e Tristesse, dentre outras inéditas.

 

Encontre sua banda favorita