Opinião: Somos invisíveis a nós mesmos

Somos eternos garimpadores…

Sinceramente, não sei até que ponto isso é bom. Na verdade, acho isso meio assustador.

No Brasil da década de 80 em termos de Heavy Rock, não tínhamos a internet, no entanto, veículos como fanzines, shows em lugares diversos como Espaço Mambembe, Madame Satã, Dínamo Bar, Garage Rock, Black Jack, Alquimia Bar, Praça da Árvore, Rock Show, dentre muitos outros locais espalhados pela cidade. Constantemente, assistíamos shows de bandas como Chave do Sol, Máscara de Ferro, Cérbero, Minotauro, Anthares, Viper (em seu início), Detroit, Spitfire… Enfim, uma gama gigantesca de bandas autorais se apresentando por vários cantos da cidade.

Os fanzines, por exemplo, eram dinâmicos e faziam a intercomunicação nacional das bandas com seus respectivos públicos, ou seja, funcionando quase que como a internet.

A galeria do rock era um tremendo point, pois nessa época, trabalhava estritamente com foco no segmento do Heavy Rock.

O que quero dizer é que, no passado, mesmo com todas as dificuldades, existia uma “fervura” e o ambiente do Heavy Rock nacional, se comportava como um organismo vivo e presente.

Enfim…

O que acredito ser um paradoxo é que, mesmo com os recursos de internet a mil por hora, como o Youtube, o Facebook e os sites próprios de cada banda, parece-me que a “fervura” já não existe mais. E, o trabalho de garimpo para se descobrir bandas, mesmo que no conforto de nosso notebook, é mais intenso. Ou seja, temos que ter a iniciativa de garimpar, pois, a prateleira, não é visível de forma reativa. Somos nós que temos que abrir a porta do armário para enxergar a prateleira.

Talvez, a tecnologia traga acomodação. Não há mais o ambiente de rua, de palco.

Isso é compreensível, pois, é muito caro para o músico colocar uma banda de Heavy Rock num palco a cachês módicos ou zero de cachê. É muito caro para o músico produzir uma banda. Se o fizer, tem que ser quase que independente. É muito caro um plano de marketing para que a banda fique em prateleira disponível e não reativa.

Podemos acrescentar também, o meio que norteia o Heavy Rock como o comércio do segmento. Sim, quem frequentou a galeria do rock na década de 80, via um local tomado por lojas de discos. Porém, atualmente, o que menos tem são lojas de discos, mas sim, moda, calçados, tatuagens… Ou seja, o roqueiro comerciante teve que agregar para sobreviver.

Não quero, não gosto e me recuso a ser pessimista, mas, é assustador presenciar como o ambiente de Heavy Rock no Brasil, em termos de produto e ambiente geral interno, está frio. Sendo que, infelizmente, a coisa só dá uma esquentada quando acontecem grandes festivais internacionais do segmento por aqui.

Se você me perguntar: “vai melhorar”? A fervura interna voltará? Sinceramente, não sei te responder.

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