Obituary: 30 Anos de “Slowly We Rot”

Morbid Angel, Death, Cannibal Corpse, Entombed… Quanta diversidade de opções havia naquela geração que estava surgindo dentro de um levante mundial do mais extremo dos estilos. Discutir qual a melhor dentre todas é um exercício vazio, mas se estivermos falando de preferência… Bem, posso afirmar que, com ampla margem de vantagem, Obituary é a que sempre ocupou um lugar especial para mim.

Certamente que, entre as mencionadas, o quinteto de Tampa é o que menos baseia sua música na técnica. A brutalidade crua e direta, além da influência gritante de Celtic Frost/Hellhammer, com alguma coisa aqui e acolá de Slayer, define sua proposta. Sua sonoridade é tão cadente para o Death Metal old school que eles passaram à margem das inovações do gênero, que fizeram escola no período, como, por exemplo, o uso de blast beats em seus arranjos. O Obituary é um anacronismo. É como se fosse uma banda da primeira metade dos 80, que tivesse permanecido em estado de suspensão e só se revelado para o mundo no final da década. Essa característica fez com que sua musicalidade não envelhecesse. Não há muito espaço para utilização do termo “fase” quando se fala sobre a obra do conjunto, embora não se negue que discos mais recentes não tem aquela mesma sujeira putrefata que abundava em seus primeiros dias.

Produzido pelo lendário Scott Burns, nas profundezas do Morrisound Recordings, o trabalho de estreia da banda soa seco e gélido. O vocal de John Tardy transmite fúria, dor e desespero. A partir do urro que inicia o álbum, em “Internal Bleeding”, não existe espaço para dúvidas. É Death Metal de raiz, carregado de potência negativa e sinistra, com a desenvoltura para transitar com facilidade dos momentos densos e sombrios para a velocidade insana.

Discos posteriores podem ter a preferência alheia, dentro de seu amplo catálogo, mas “Slowly We Rot” possui um trunfo que os outros não têm: a presença da antológica faixa título. Após um começo meio Doom, lento e pesado, com o vocal fazendo quase o papel de mais um instrumento, eles partem para o arregaço Death/Thrash, onde o baterista Donald Tardy demonstra tudo que aprendeu ouvindo Dave Lombardo tocar.  Não é à toa que essa música sempre encerra os shows do grupo. O melhor sempre fica para o final e essa é a escolhida para satisfazer e esgotar em definitivo a platéia.

É forçoso também dar o devido destaque para as faixas “Til Death”, “Words of Evil”, “Intoxicated” e “Gates to Hell”, essa última com um desempenho alucinado de John. Em todas, as bases do guitarrista Trevor Peres soam como uma massa sólida, palpável, algo que parece ter um peso físico real, além de qualquer metáfora. Trevor, John e Donald são a assinatura musical do Obituary, os membros originais remanescentes e que definem como o grupo deve soar.

As bandas mencionadas acima mudaram e evoluiram bastante ao longo dos anos. Ótimo! O Obituary, porém, prosseguiu sem grandes alterações em sua linha musical e, mesmo assim, permaneceu relevante. Que assim seja, pois por vezes a mudança, como a própria decomposição, deve ser lenta.

Formação

John Tardy – vocal

Allen West – guitarra

Trevor Peres – guitarra

Daniel Tucker – baixo

Donald Tardy – bateria

Músicas

01 Internal Bleeding

02 Godly Beings

03 ‘Til Death

04 Slowly We Rot

05 Immortal Visions

06 Gates to Hell

07 Words of Evil

08 Suffocation

09 Intoxicated

10 Deadly Intentions

11 Bloodsoaked 

12 Stinkupuss

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