O Ruído das bandas de Tributo e Cover no Brasil – Parte 2

Há um tempo atrás eu ouvia da boca de vários músicos, a insatisfação por parte deles, pela incapacidade de conseguirem espaço para seus trabalhos autorais. Foi um tempo que tem ficado muito distante, porque eles hoje se deleitam com a possibilidade de trabalhar tocando, ainda que em bandas de tributo ou covers.

 A verdade é que não há nada de mal em reproduzir algo que se propõe à ser acima de tudo um trabalho, e também uma identidade; mas me surpreende as vezes que as pessoas talvez estejam sendo vencidas pela grande massa mercadológica de um país como o nosso que infelizmente , não dá oportunidade de crescimento e desenvolvimento de um artista e sua obra única.

 Minha real preocupação é se de repente, se vamos ficar sempre na corda bamba do que “que tem pra hoje” ou “ta pagando, tá valendo” porque o Brasil ta afundado na crise. E tamos mesmo enfrentando uma grande crise que vai mexer como todos os profissionais, especialmente os “autônomos”. Como iremos seguir com uma situação que nos prevalece muito mais “SOBREVIVER” do que “VIVER” de fato?

Estaríamos condenados à “matrix de controle” de um momento ou ainda há chance de criar algo para mudar e encantar o mundo? Não sei. Sinceramente, a politica e o comportamento social não dão privilégios à criatividade, nem ao jovem promissor.

 Com tantas dúvidas que jamais são respondidas, resolvi lançar a segunda parte da matéria: O Ruído das bandas de Tributo e Cover no Brasil, (leia a primeira parte aqui) e busquei ouvir ou “ler” as opiniões de artistas e personagens desse meio, e que atuam diretamente nisso ai.  Veja só o que disseram:

 

“Eu gostei da matéria. Embora eu seja de uma banda autoral, admiro quem “paga” tributo à bandas covers, pois é uma homenagem em que pessoas com o mesmo gosto por uma banda fazem. O Ancient Mariners (cover de Iron Maiden) é o maior exemplo disso em BH, na minha opinião.” Luciano, banda Rocking Riders –  tem banda autoral

“Minha opinião sobre esse assunto é simples e direta. Não importa se é banda Cover ou autoral, o que importa é o Rock ‘N’ Roll! Ó Rock jamais pode parar, como diria o Mestre Dio: “Long Live Rock N’ Roll” – Dieego Lessa – Banda Salário Mínimo(Autoral)/Trezzy(Autoral)/Faith No More Cover Brasil

                                        

“Recentemente fui ao bar Manifesto assistir alguns shows, Pantera e Ozzy cover, bons músicos, som muito bom, visual quase igual, porém o que me chamou atenção foi a banda de abertura chamada Laboratori, que estava lançando seu trabalho. Você quer ter sua banda cover, tocar igual seu ídolo, tudo bem, mas Eu prefiro investir um pouco mais em composição e mostrar que a minha música pode vir a ser tão boa quanto a do meu ídolo.” – Morales Elmano – Baixista – Banda Monstrah

” Fazer covers sempre foi parte do processo de aprendizagem do músico, agora quando ele é incapaz de compor ou escolhe conscientemente não compor, ele se reduz à um músico de segunda classe. Não importa quão bom ele seja. Eu sempre achei um desapontamento, por exemplo, um pianista estudar de 5 a 10 horas por dia por 10 anos ou mais para passar a vida tocando Beethoven…. Não me entenda mal, considero Beethoven assim com Led Zeppelin e muitos outros artistas excelentes mas, viver a sua vida tentando fazer dinheiro `å custa do trabalho dos outros é um jeito muito pobre de viver… Por outro lado existe o lado econômico e cultural onde bares e clubes estão dando preferência ao cover em vez do autoral o que representa uma estagnação do rock brasileiro. Já não basta a maioria das nossas bandas fazem músicas que são quase versões de clássicos internacionais copiando ACDC, Metallica, Motorhead e por ai vai…. do ponto de vista do Rock Nacional fica difícil apoiar a música cover!” – Antonio Celso Barbieri – Músico/Empresário/Produtor de Shows/Jornalista e autor do “O Livro Negro do Rock”

 

“…este é um tema muito complicado, é preciso ver todos os lados!…Mas um grande erro dos produtores é não mesclar bandas autorais e covers, e o grande erro das bandas é não insistir nisso!Isso poderia ser facilmente resolvido começando primeiramente pelo público. É muito parecido com nosso problema político, as pessoas acham que fazer uma divisão entre Palmeiras e Corinthians, direita contra esquerda por exemplo é o que vai resolver, e na verdade uma união pensando em todos os lados é o que resolve”  – Felipe Simmons Mendes – Kiss Cover Brasil/KISS For Kids

 

“Essa história de autoral e covers é complicada, cada um quer tomar o poder de posse do Rock e Metal e suas vertentes como se tivessem o poder de ter isso nas mãos…” – Alexandre Ripper – Vocalista que participou de bandas cover e autoral

 

“Trabalho com ambos, 2 bandas tributo (Ronnie James Dio e Chris Cornell) e músicas próprias – que é o foco principal, com a Elephant Casino. Desde que se tenha qualidade artística, profissionalismo, persistência e inteligência comercial, seu trabalho autoral vai despontar. Assim como ser cover de alguma banda famosa não será matemática certa, se você for um músico meia boca – apesar que sabemos bem que “conhecer as pessoas certas” mantém porta aberta pra muitos incompetentes. A noite é meio cruel nesse sentido e o debate é amplo mas, resumindo, tem espaço para os dois, cover e autoral. A música quando é boa rompe todas as limitações, inclusive culturais. Tem música própria? Acredite nela e garimpe seu espaço. ” Fabricio Bambam Vocalista banda Elephant Casino

 

A conclusão é a inefável certeza de que há espaço para todo mundo, inclusive de opiniões. Mas ainda fica no ar, aquele sentimento quase exclusivo de que todo mundo que aprecia alguma coisa, também tem a vontade de criar o seu “próprio estilo”.

E isso não se limita à carreira de músicos. No meio de dança, teatro, artes em geral vemos a grande discussão que sempre ronda acerca do desempenho que se emprega para criar algo novo ou mastigar e devolver o público aquilo que ele conhece e já se sabe a reação.

Eu, particularmente sou da turma que arrisca, ainda que várias coisas que tenha tentado,  não terem dado certo. O melhor?  Fazer aquilo que respeita o que você é. E sim…Ser 100% o que você acha que é o melhor de você. Ai, costuma dar 100% chance de dar certo!

Escrito por Verônica Mourão, com colaboração de músicos, artistas, produtores e jornalistas (em depoimentos) e da Tatianny Ruiz.