Se você abrir agora seu Facebook , provavelmente vai ter o “anúncio” de um show no fim de semana na sua cidade.
Conferiu?
Geralmente a chamada é algo como:
” Dia x, show do xxxxxxx cover de AC DC, xxxxxxx cover de Raimundos, xxxxx cover de Guns n Roses. Até as 23h mulher não paga ou dose dupla de caipivodka. etc etc”
O conteúdo do anúncio é atrativo, especialmente para os homens. Tem a referência da banda estampado em sua própria denominação “cover”, e ainda promete que se você chegar cedo para consumir, terá mais acesso à álcool e mulheres.
O que significa isso?
Talvez uma das velhas e tão conhecidas táticas para os bares e casas de show realmente enfrentarem a concorrência, vender suas bebidas e alimentos (quanto mais tempo na casa, mais sede e fome = consumo), mais possibilidade de “engajamento” ou espaço para encontros, e finalmente, a certeza de que o fundo musical é algo “conhecido”.
Obviamente é maravilhoso poder sair para uma noite com os amigos ou seu namorado, com a possibilidade de ouvir músicas de bandas que você admira (já que não tem como ver um show do Iron Maiden ou Megadeth toda semana) e se sentir confortável em saber cantar as letras que já há muito são “chicletes mentais” , e nos levam às memórias e sensações de coisas que vivemos ouvindo o álbum ou a própria lembrança do show original.
Mas quem é que está por trás dos rótulos bem sucedidos dessas bandas cheios de talento, à ponto de produzirem fiéis fãs ou frequentadores destes estabelecimentos?
Eu respondo para você: Grandes músicos (na maioria).
Grandes músicos que certamente são jovens promissores que se esforçaram e muito nas universidades de Música (assim como você fez seu curso); ou são jovens que se dedicaram noite e dia à tocar o seu instrumento preferido; jovens cheios de lirismo e técnica que souberam antes, durante e depois de aprenderem covers, a criarem seus próprios rifs, suas próprias letras e suas próprias melodias.
Nem vou citar os veteranos, que já há muito fazem da música uma sutil e quase apagado paralelo de diversão, entre empregos ou formações acadêmicas distantes do meio artisitco.
Mas porque não vemos os trabalhos autorais dessas bandas? Por que ainda há uma resistência “fudida” com o que é novo e tantas vezes talentoso? Porque “Metallica” ou “Red Hot Chilli Peppers” bem tocados não podem ser alimento suficiente para o consumidor de música, conhecer seus trabalhos autorais?
Uma vez estava lendo um livro sobre a indústria do açúcar, que foi responsável por anos por um doença chamada Sugar Blues, (clique AQUI para conhecer o livro) onde vários negros escravos americanos consumiam caldas de açúcar diariamente para “terem energia”, o que na verdade promoveu uma série de doenças físicas e mentais; e a leitura relata que lá se vê claramente que muitas dessas historias, são veladas pelas grandes fábricas como Coca Cola, Pepsi, e outras de doces; porque simplesmente seria o fim de um grande esquema mercadológico que movimenta milhões, bilhões em favor do “vicio” que as pessoas tem por algo “doce”.
Nesse contexto eu lhes pergunto:
Teria por trás do consumo imediato e viciante de músicas covers, uma quase que rejeição pelo som autoral, construído pela sustentação da indústria dos bares e casas de show? Será que o aumento considerável de shows e bandas covers é alimentado não tão somente pelo saudável interesse dos músicos em homenageá-los mas pelo impressionante movimento compulsório de promover lucro na venda de bebidas e comidas nestes estabelecimentos? Por que culpabilizar o cliente?
Quais são as consequências disso?
Se você pensar na música “Rock” ou “Metal” nos anos 80, víamos um considerável surgimento de bandas em pleno auge deste estilo. As pessoas na cara dura, se inspiravam em seus ídolos, mas faziam seus próprios trabalhos. Várias bandas consagradas nessas épocas ergueram-se e até hoje são lembradas por muitas pessoas. Chegou a década de 90, a diversidade musical e a entrada da música eletrônica, começou a dissolver a frequência de apresentações de Rock e Metal, transformando os estabelecimentos de lazer em locais com música “ambiente”; muitas delas, feitas por DJs.
O tempo foi passando e fomos coroados com os anos 2000 e toda sua modernidade. Todo negócio de bares aumentava seus clientes, e ainda haviam todos os cantores de violão & voz e as bandas que mesclavam autorais com covers em doses medrosas, porque na hora de executar suas canções próprias, o publico reagia quase como sem entender e certamente o grupo iria receber aplausos somente da familia e dos amigos.
Já atravessamos então mais de 15 anos e a indústria do Rock se reergueu com mais fusões e multiplicidades, os covers cresceram ainda mais e mas a resistência permitiu que muitos amantes do Metal levassem à diante seus sonhos, como você pode ver nos trabalhos mostrados na Roadie Metal em favor do Metal Nacional. Mas a grande vilã dos artistas ainda é o Marketing Cultural, que ainda é limitador, preconceituoso e não promove a música feita pelo Brasileiro, especialmente se esta for Rock e ainda pior ser for o Metal.
Graças a contratação de várias bandas internacionais que invadiram o país nos últimos 10 anos, foi possível reacender o interesse pelo peso das guitarras e os timbres ferozes. O rock e o metal saíram das regiões concêntricas como o Sudeste e abraçou regiões como o Nordeste, celeiro impressionante de fãs e músicos, tendo seu principal afloramento no Ceará.
O que podemos fazer para ajudar?
Tendo trabalhado 7 anos no Marketing Cultural, (2000-2005) e o ano de 2010-2011; ter produzido bandas e hoje ser apenas fã e redatora de Rock n Roll; garanto que vi muitos músicos abandonarem as guitarras e baquetas para serem médicos, advogados, professores, arquitetos…Fora os que entraram em depressão ou desistiram de muita coisa. Isso não é um bom sinal para um país que tem como sua maior base cultural o entretenimento.
Um país berço de importantes bandas no cenário mundial como Sepultura e Angra; um país que apesar de ter uma cultura avessa aos headbangers, tem uma infinidade de artistas musicais de altíssimo talento erudito. E para mim o Metal é erudito!
A melhor resposta para mantermos firmes e favorecer o mercado musical autoral (e também continuar com as covers e tributos, (por que não?) é a realização de projetos sérios de promoção de concertos, programas de mídia e sérios trabalhos de consciência das indústrias de entretenimento em bares e casas de shows para a promoção de trabalhos autorais.
Acredito que isso pode aumentar para todos os lados. Podemos encher nossas casas de fãs de covers e fãs de novos trabalhos. Por onde começar? Arriscar! Tentar…
- Video: Banda Overthrow – Metallica Cover.
part. Orquestra Sinfônica Mário Vieira Maestro Guto Cimino Cine Theatro Central Juiz de Fora – MG Dez/2014
- Foto de capa: Banda Ancient Mariner – Iron Maiden Cover.
Gostaria de conhecer a opinião dos artistas da “noite”?
Acompanhe no O Ruído das bandas de Tributo e Cover no Brasil – Parte 2