Um lançamento muito aguardado para 2017 foi o debut autointitulado do grupo The Doomsday Kingdom, novo projeto do baixista Leif Edling (Candlemass, Avatarium, Krux), um dos músicos que sedimentou o jeito de ser do Doom Metal nos anos 80. A proposta do The Doomsday Kingdom é o Doom Metal que estamos acostumados a ouvir no Candlemass, regado com boas doses da sonoridade da NWOBHM. A propósito, o The Doomfather (pseudônimo que Edling assumiu em The Doomsday Kingdom) nunca negou sua admiração pela cena inglesa dos anos 70/80. Em especial, Angel Witch e Witchfynde.
Falando na cena britânica do fim dos anos 70 e começo dos anos 80, mundialmente conhecida como New Wave Of British Heavy Metal, temos em mente o quão influenciadora ela foi no desenvolvimento do Metal nos áureos anos 80. Afora o surgimento de nomes bem-sucedidos da música como Iron Maiden e Def Leppard, a cena também revelou o poderoso Saxon e ajudou a fomentar o Thrash Metal e o extremo Black Metal através do Venom. Influenciou até um certo tenista e baterista dinamarquês a fundar uma das maiores bandas de Metal da história, o Metallica. Isso tudo sem considerar a tsunami de bandas que apareceram na época e que deixaram registradas suas passagens pelo mundo do Metal, muitas delas se encontrando em batalha até hoje como Satan, Blitzkrieg, Battleaxe, Diamond Head, Tokyo Blade, Cloven Hoof, etc. Pois bem, se o Saxon até hoje se mantém fiel ao seu Heavy Metal clássico, o Iron Maiden colocou um pezão no Prog, o Def Leppard comeu tanta farofa que até virou uma, e o Venom instalou os alicerces do Black Metal, o Doom Metal, o gênero maldito, também teve seus representantes na NWOBHM. A influência magnânima e irrepreensível da guitarra de Tony Iommi e a admiração pelo ocultismo também penetrou em bandas da colossal safra britânica.
Como foram apresentadas no primeiro parágrafo, Angel Witch e Witchfynde foram influenciadas pelo Doom do Black Sabbath e devolveram de volta suas influências para o novo Doom do Candlemass. A primeira delas é uma das mais importantes instituições da NWOBHM, não obstante não ter também chegado às cabeças como Iron Maiden e Saxon. Não sendo considerada propriamente uma banda de Doom Metal, o Angel Witch reverberou os ensinamentos de Tony Iommi em seu Metal cadenciado, agregando estes ensinamentos à sua sonoridade épica e imponente, juntamente com os temas e a aura do ocultismo. Seu debut, Angel Witch (1980), é um dos mais importantes registros do Metal britânico e serviu de influência para o Epic Doom Metal de Candlemass. Após mais dois álbuns de estúdio ainda nos anos 80 e diversos hiatos, a banda liderada pelo guitarrista/vocalista Kevin Heybourne voltou de vez à cena com ajuda de um guerreiro do Doom Metal, Lee Dorian (ex-Cathedral), graças a um contrato com sua gravadora, Rise Above. Resultado: lançou o ótimo As Above, So Below (2012), um amálgama de sua sonoridade clássica com o Epic Doom que ajudou a criar.
Já o Witchfynde nem sempre é lembrado por estas terras. Fundado em 1973 pelo baterista Gra Scoresby e pelo guitarrista Trevor “Montalo” Taylor, a banda tinha como objetivo explorar o ocultismo em suas músicas. Lançou quatro álbuns de estúdio na década de 80 e, após uma longa separação, retornou em 1999, tendo lançado mais dois full-lengths desde então. Assim como seus contemporâneos do Angel Witch, o Witchfynde apresenta um Heavy Metal soturno, mas sem deixar de lado a velocidade quando esta precisa de seu espaço. Seu terceiro álbum, Cloak And Dagger (1983), se faz essencial para quem quer ir mais a fundo nos registros da NWOBHM.
Já que estamos falando de NWOBHM e Doom Metal, esquecer do Witchfinder General seria um pecado passível de condenação eterna (note que as bandas citadas até agora carregam a palavra “Witch” no nome). Esta sim escancarou suas influências de Tony Iommi para quem quisesse apreciá-la, e seu debut, Death Penalty (1982), a enquadrou como pioneira do Doom Metal oitentista ao lado dos norte-americanos Pentagram, Saint Vitus, Trouble e The Obsessed. O álbum que ostenta uma das capas mais emblemáticas do Heavy Metal traz sete peças do típico Metal da NWOBHM com claras influências de Black Sabbath. Por falar nas capas da banda do guitarrista Phil Cope, as dos dois primeiros álbuns retratam a bela modelo Joanne Latham performando uma bruxa de topless. Em 2008, após uma longa separação, o grupo lança seu terceiro álbum de estúdio, Ressurected, este com os dois pés no Doom e sem modelo de topless na capa.
Com o Doom Metal oficialmente estabelecido nos anos 80, o visionário Leif Edling resolveu mostrar ao mundo, diretamente de Estocolmo, sua interpretação do Doom, agregando à sonoridade negra do gênero lento suas influências épicas, aprendidas principalmente de Angel Witch. O debut do Candlemass batizou esta nova criação sonora, Epicus Doomicus Metallicus (1986), e, a partir de então, a banda sueca se tornou uma das mais influentes da história, influência esta que afetou a não menos importante banda texana Solitude Aeturnus, além de outros seminais grupos como Solstice, Memento Mori e Isole.
Depois que o Epic Doom Metal cresceu em proporções e algumas daquelas bandas da NWOBHM aqui abordadas estavam em seus hiatos, a enigmática banda Pagan Altar saiu de suas catacumbas e finalmente se lançou no mercado fonográfico. Fundada em 1978 na cidade de Brockley, Inglaterra, por Terry Jones (vocais) e Alan Jones (guitarras), pai e filho respectivamente, gravou um álbum em 1982 que só viu a luz do dia dezesseis anos depois, em 1998, através da gravadora Oracle Records, após separações e nenhum contrato assinado com qualquer gravadora durante todo esse tempo. Denominado Volume 1, este álbum mostra todo o poder do ocultismo e do Doom Metal que o Pagan Altar poderia ter espalhado ainda nos anos 80. Durante suas apresentações naquela época, o grupo levava para os shows toda a magia do oculto através de adornos no palco como crucifixos, caixões e velas pretas, além de vestimentas macabras. Após a reformulação da banda no fim dos anos 90, o grupo lançou mais três álbuns de estúdio nos anos 2000, todos eles conservando a aura do Heavy/Occult Rock das décadas de 70/80. Infelizmente, um câncer levou Terry Jones em 2015, aos 69 anos de idade, deixando seu filho Alan com a missão de liderar sozinho a importante banda. Vale a pena conhecer o Pagan Altar e se sentir enfeitiçado pelas suas histórias e músicas.
E o The Doomsday Kingdom, que abriu esta matéria? Pois é; esta é a nova prioridade do baixista Leif Edling, que declarou recentemente que o Candlemass não gravará mais novos álbuns. Seu Doom Metal de fácil reconhecimento agora vem regado como nunca da sonoridade NWOBHM.
Agora que entendemos melhor a relação entre NWOBHM e Doom Metal, podemos esperar ainda por muitas artimanhas destas bandas cheias de mágica e de feitiçarias. Todas os grupos aqui citados continuam em atividade, a excessão do Witchfinder General, que está em um novo hiato. Temos também diversas bandas de Epic Doom Metal em atividade hoje em dia, como Doomshine, Crimson Dawn e os brasileiros do Fallen Idol, levando a frente os ensinamentos de Leif Edling, Angel Witch e, logicamente, do Black Sabbath. Corra atrás de conhecer o que se está oculto.
https://www.youtube.com/watch?v=IJBrP6cr0lw
