Pode até ser que a paisagem sonora, sendo apresentada inicialmente perante uma estrutura opaca, dê a ideia de um som fraco. Porém, a maneira com que o beat puxa a introdução, um elemento solitário, permite que o ouvinte perceba, de antemão, a existência de uma energia sombria emanando pelos poros de um ecossistema ainda enigmático.
Quando a segunda parte do amanhecer da obra é anunciado, toda aquela prerrogativa de fraqueza se esvai como uma brisa vinda do horizonte. Isso porque as guitarras invadem o cenário em meio a uma sintonia estridente que beira, propositadamente, o dissonante. Daí por diante, o caos está posto. O temor é iminente e a insegurança passa a ser uma sensibilidade incontestavelmente presente na relação entre ouvinte e canção.
Demonstrando então um corpo inquestionavelmente denso, a faixa consegue oferecer desde emoções como agonia até um desespero alucinante que deixa o espectador inquieto, instável e completamente vulnerável. Diante dessa vivência, o espectador consegue perceber que a estrutura rítmico-melódica se inclina para com o metal alternativo para melhor expressar as suas próprias propostas emotivas variáveis.
O interessante é acompanhar o movimento narrativo da obra. Afinal, ao mesmo tempo em que ela explora uma intensidade incontrolável, incendiária, insana e inconsequente, existe, em meio às suas entrelinhas, brechas que permitem ao ouvinte identificar doçura, gentileza e um comportamento terno intrigante que é ofuscado por algo que beira o lamento, a culpa e um pesar incandescente. Ainda assim, não há um fator capaz de esconder aquele olhar de medo que diz, que grita por ajuda, mas sem emitir um som sequer.
Esse momento é onde a canção explora uma estrutura rítmico-melódica mais branda e acessível, sem a dissonância e a estridência que tanto marcam a sua roupagem. Como uma espécie de oásis de bem-estar em meio à desarmonia, é possível dizer que a utopia, a partir do efeito de opioides, passa a acalentar o coração despedaçado do personagem sonoro.
Não é de se assustar, portanto, que, desse momento em diante, não que o sufoco e o desespero tenham acabado, sanado. Mas a postura do personagem muda. Parece haver mais consciência em seus movimentos, em seus processos de sentir e se deixar sentir. Diante da noite implacável, not ready destaca a disparidade entre a realidade do pandemônio e o torpor do equilíbrio emocional. Um instrumental em que cada acorde, cada punch simboliza um extravasar de dor. Um pedido de ajuda. Uma súplica. Uma agonizante busca por um suspiro de alívio.
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