Nirvana: “In Utero” completa 26 anos

Em 21 de setembro de 1993, era lançado mundialmente o terceiro disco do NIRVANA. E “In Utero” traz mudanças bastante significativas para quem estava acostumado com o disco anterior, “Nevermind“, que foi sucesso mundial e meio que ajudou a dar um up na cena Rock And Roll em geral, já que o Hard Rock estava em baixa e as bandas de Heavy Metal viviam momentos de pouca inspiração.

É claro que não estamos considerando o disco “Incesticide“, que é um apanhado de sobras, lados B e raridades, que a gravadora lançou, enquanto a banda fazia longas turnês para contemplar os fãs ávidos por aquela banda que era simplesmente desconhecida quando da gravação do seu primeiro álbum, “Bleach” e que de repente, explodia nas rádios e na MTV.

O processo de produção de “In Utero” foi bastante conturbado, desde a escolha pelo título do álbum, que originalmente se chamaria “I Hate Myself and Want to Die“, passando pelas gravações, tendo inclusive, sessões em um estúdio na cidade do Rio de Janeiro. A banda excursionava sem parar e aproveitou a estadia pela aquela que um dia fora chamada de “Cidade Maravilhosa”, onde se apresentaram no finado festival “ Hollywood Rock“, em 1993. para registrar alguns takes, que mais tarde seriam “passados a limpo”, no “Pacyderm Studio“, em Minnesota, sob a produção de Steve Albini, essa uma escolha de Kurt Cobain. Albini havia produzido bandas como SURFER ROSA, POD, BREEDERS, PIXES e era herói do líder do NIRVANA.

Os problemas seguiram com a gravadora Geefen, que não teria gostado das músicas apresentadas e gostaria que a banda gravasse mais músicas “acessíveis”, porém, Kurt Cobain se recusava a produzir um novo “Nevermind“. Em entrevistas à época, o líder do NIRVANA dizia que havia escrito músicas que ele gostaria de escutar em casa, como fã. A quantidade de faixas também foi outro fator que causou discórdia, foram 18 músicas gravadas ao total, porém, 13 entraram no álbum. A banda também bateu de frente com o produtor Steve Albini, pois queria que ele mexesse nas gravações depois destas estarem concluídas, o que foi recusado prontamente por ele.

Bem, ao que parece, tudo foi superado e temos um disco em que podemos notar uma banda mais madura em termos musicais e na parte lírica temos uma espécie de diário de Kurt Cobain, onde ele expressava suas frustrações, seus dramas e momentos de sua vida como um todo.

Vamos botar a bolacha para rolar… e a abertura se dá com “Serve the Servants”, bem calminha em termos de NIRVANA, mas uma música com guitarras sujas e distorcidas, com claras influências de um rock setentista. Muito boa.

Scentless Apprentice começa com a bateria firme de Dave Grohl e é outra em que a distorção e sujeira das guitarras também dominam, mas é Grohl quem dá o espetáculo por aqui, inclusive, regendo a banda e é a guitarra quem o acompanha, muito boa música.

Heart Shapped Box” é densa, dramática e aqui as guitarras são menos sujas. Foi a primeira faixa que escutei de “In Utero“, na minha bio abaixo desta matéria eu conto a história da guria que eu era afim e que me emprestou uma fita cassete, eu só não falei e irei fazê-lo agora, é que nesta fita, após o álbum “VS.”, do PEARL JAM, tinham três músicas do aniversariante de hoje e a primeira era essa. E eu gosto muito do clima dela.

Rape Me” embora tenha uma letra bizarra e isso é compreensível quando se percebe o que girava em torno da fugura de Kurt Cobain neste período e estamos aqui para avaliar o som, que me agrada pela guitarra sem distorção na intro e na primeira estrofe, depois ganhando peso, distorção e uma atmosfera única. Essa era outra música que tinha naquela fitinha “do mau” que eu faço questão de dizer que mudou a minha vida dentro do Rock.

Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle”  é outra música poderosa e com uma atmosfera única. Víamos um NIRVANA ainda mais cru do que em “Nevermind“, porém, sem perder o peso. A letra fala da atriz Frances Farmer, que era natural de Seattle. A pegada de Dave Grohl aqui impressiona o ouvinte, com boas viradas e uma levada excelente. Realmente ele era diferenciado e dois anos depois, nós teríamos essa certeza quando ele gravaria sozinho o primeiro álbum de sua banda, o FOO FIGHTERS.

Dumb” é uma música mais calma e uma das minhas favoritas do disco, com momentos até orquestras no seu refrão. Excelente som. A lera mais parece uma autocrítica de Kurt, onde ele conta que se sente feliz por usar cola, ficar chapado e ficar de ressaca. Era a vibe dele.

Very Ape” é uma das que poucas que têm a pegada de “Nevermind“, com a influência punk que Kurt Cobain trazia consigo, sendo esta uma música bem legal.

O clima sombrio volta com as duas músicas seguintes: em “Milk It“, uma música pesada e angustiante, com um solo despretensioso, e não poderíamos esperar nada de muito criativo nos solos de Kurt, o que ele poderia nos oferecer era a rebeldia do Rock e isso ele fazia bem, ainda que estivesse longe, longe, mas muito longe de ser um virtuoso.

Temos “Pennyroyal Tea“, uma música gigante (não de extensão), densa, deprê, mas linda. Essa foi tema da minha adolescência, escutava muito esse som.

Rádio Friendly Unit Shifter” tem uns grunhidos de guitarra chatos em sua intro, mas depois até que se desenvolve bem, sendo um Rock and Roll honesto.

Tourette’s” é uma outra faixa que remetem à rebeldia de “Nevermind“, uma música curta e certeira, enquanto que “All Apologies” é uma música calma, que segundo Kurt descrevia, era uma música sobre felicidade, coisa rara em um artista que era depressivo e detestava a vida, bem, como, terminou por dar um final à ela de maneira trágica. Esta música foi executada ao vivo pela primeira vez em 30 de agosto de 1992, quando o NIRVANA se apresentou no “Reading” e Cobain na ocasião a dedicou para sua esposa Courtney Love e sua filha recém nascida, Frances Bean. Essa é a terceira música que estava contida naquela velha fitinha cassete que mudou a minha vida, lembram? Por isso, o meu carinho por esta música.

Depois de vários minutos de silêncio, entra a faixa mais chata do disco, a chata e pedante “Gallon…on Rubbing Alcohol Flow Through the Strip“, que fecha um disco que em sua maior parte fora muito bom, e eu considero bem melhor do que o disco que estourou a banda.

In Utero” estreou logo em 1º lugar na parada da “Billboard” e vendeu 180 mil cópias na semana de seu lançamento. Estamos trazendo a comemoração deste álbum neste dia 21 pois foi a data do lançamento no restante do mundo, uma vez que originalmente, o álbum fora lançado no dia 13 de setembro nos EUA e um dia depois no Reino Unido.

Ocupa a primeira posição na lista “100 Álbuns que Você Precisa Ouvir antes de Morrer”, da revista estadunidense “Kerrang!“, eleito como o melhor álbum de 1993 pela “LA Times” e “Rolling Stone” (EUA) e “Pure Pop” (México), além de figurado em 1º lugar na “UK Albuns Chart” e também na sueca “Sverigetopplistan“. Recebeu disco de ouro na Alemanha, Reino Unido e Brasil e platina na França, EUA e Canadá.

Um disco amado por muitos, incompreendido por outros tantos, mas que, não podemos negar, exerceu e ainda exerce uma influência enorme no Rock em geral e nos faz entender um pouco como funcionava a mente de um cara como Kurt Cobain, que tinha tudo nas mãos e jogou fora com um estúpido tiro na própria cabeça. O caro leitor pode até não gostar do NIRVANA, só não pode fechar os olhos para o barulho que esse trio fez na cena nos primeiros anos da década de 1990.

Lineup:
Kurt Cobain – Vocal/Guitarra
Krist Novoselic – Baixo
Dave Grohl – Bateria
Pat Smear – Guitarra (obs: participou de algumas sessões na gravação)

Tracklisting:
01 – Serve the Servants
02 – Scentless Apprentice
03 – Heart-Shapped Box
04 – Rape Me
05 – Frances Farmer Will Her Revenge on Seattle
06 – Dumb
07 – Very Ape
08 – Milk It
09 – Pennyroyal Tea
10 – Radio Friendly Unit Shifter
11 – Tourette’s
12 – All Apologies
13 – Gallon…on Rubbing Alcohol Flow Through the Strip

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