Vamos do início: você tem uma banda, formada em uma cidade bem pequena e pacata, você consegue gravar um primeiro disco onde suas letras densas chamam a atenção do público que fazia parte daquela cena alternativa da época; então você vê que a gravadora não lhe dá suporte e procura uma nova e, assim que lança o segundo trabalho, com letras bem mais pessoais e introspectivas, você atinge o sucesso absoluto. Foi basicamente o que aconteceu com o Nirvana, desde seu início até o estrelato, tirando um disco do fenômeno Michael Jackson do topo das paradas de sucesso.

Sim, isto não é algo que aconteça todos os dias. Aliás, mesmo que seja uma banda que lançou o segundo álbum, para a maior parte das pessoas era como se fosse o primeiro, uma vez que apenas os que conheciam a cena underground de Seattle é que tiveram acesso ao Bleach (1989) antes do estouro de Nevermind (1991).

Neste disco de sucesso está presente a faixa In Bloom, a mais cínica da banda. Ali Kurt consegue entreter as pessoas e, ao mesmo tempo, satirizar todo o seu público, mostrando que muitas vezes as pessoas não se importam muito com a mensagem e acabam gostando da música apenas por sua melodia e seus arranjos. Afinal, não é toda hora que você ouve uma música que se inicia com a frase “Venda as crianças por comida“.

A faixa de abertura do disco foi apenas o maior sucesso da banda e o maior sucesso da década: Smells Like Teen Spirit. Esta faixa já é bem irônica pois convoca toda uma geração de jovens para uma revolução e, ao chegar no ápice da música, o foco é “Entretenha-nos“. A faixa In Bloom, a mais cínica da banda, é a segunda do disco e vai ainda além, pois questiona o fato de as pessoas cantarolarem as faixas sem ao menos terem ideia do que está sendo dito. Aliás, esta crítica é muito válida para os dias atuais.

O videoclipe de In Bloom é o contraste perfeito de uma banda engomadinha em um programa de TV dos anos 60 tocando ao vivo junto de uma banda rebelde quebrando tudo nos bastidores. É basicamente o Nirvana mostrando ao grande público a mensagem de “estamos fingindo ser algo que não somos, afinal, vocês não prestam atenção mesmo!”.

O canal do Youtube chamado Quadro em Branco fez um vídeo falando sobre este cinismo e sobre a responsabilidade que Kurt tinha perante toda uma geração ao colocar suas músicas nos álbuns. Aliás, o álbum mais pessoal do músico é o que as pessoas mais conhecem: em Nevermind não há tantas mensagens diretas, há mais experiências pessoais de um jovem perdido e com o coração partido. Mas talvez seja isto que tenha causado identificação no público, uma vez que na adolescência isto seja o que mais ocorra entre os jovens. Estas experiências expostas ao público trouxeram uma sensação de proximidade entre os ouvintes para com o porta-voz, sendo considerado a voz de toda uma geração.

Dentro desta dualidade de ser importante e, ao mesmo tempo, ter uma massa que não presta muita atenção na mensagem fez com que a banda fosse cínica ao lançar In Bloom. O Nirvana, falando pouco e de forma cínica, deixou uma reflexão importante: o que está acontecendo com uma geração de jovens que mal interpreta a letra e sai reproduzindo isto por aí? Se ele achava isto nos anos 90, imagina o que diria se visse a geração atual servindo de massa de manobra e reproduzindo ideologias que mal sabe o que dizem? Será que estamos ainda mais alienados?

Abaixo segue o vídeo falando sobre este cinismo presente em In Bloom. Quer conferir? Assista!

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