Em 17 de outubro de 2000, o NEVERMORE lançava a sua obra-prima. O álbum mais aclamado de sua carreira e o melhor lançado neste milênio, na opinião deste redator que vos escreve.

A bolachinha nas mãos do editor

Dead Heart in a Dead World” foi lançado, via Century Media. A banda vinha de um excelente disco, o antecessor “Dreaming Neon Black“, que já mostrava modernidade ao som do quarteto de Seattle. A turnê tinha rendido bons frutos, como a parceria nos palcos com o ICED EARTH e a banda gozava de prestígio na cena, era considerada a “next in line”.

Gravado no estúdio “Village Productions“, em Tomillo, Texas, com produção do excelente Andy Sneap, a banda apresentou ainda mais novidades, como as guitarras de 7 cordas de Jeff Loomis, que deu ainda mais “up” no seu som.

É bem verdade que é praticamente impossível de se rotular o som do NEVERMORE. Há quem diga que eles são uma banda de Heavy Metal com influências Thrash e Progressivo, o que é uma boa definição, mas eu diria que, se o METALLICA, ANTHRAX e o TESTAMENT, por exemplo são bandas que representam o Thrash Metal dos anos 80 e o SEPULTURA e o PANTERA representam o estilo nos anos 90, podemos afirmar que o NEVERMORE dá essa nova roupagem ao estilo nos anos 2000. E tudo por conta do que foi apresentado aqui em “Dead Heart”.

A bolachinha abre com “Narcosynthesis”, uma música que tem os riffs do Thrash Metal moderno. Toda a banda trabalha aqui com perfeição: Loomis e o baterista Van Williams tomam as rédeas, enquanto que Dane canta com muita maestria. Jim Sheppard segura bem a onda no baixo, numa letra que fala sobre o uso de drogas. Narcossíntese é uma técnica de tratamento de neuroses graves que um indivíduo tem devido ao uso de narcóticos.

“We Desintegrate” já dá o tom mais de progressivo, sem abandonar o peso e as partes atmosféricas. O modernismo segue em voga. Loomis brilha novamente tanto nas bases quanto nos solos. O groove também se mostra bem presente.

Inside Four Walls” traz de volta este Thrash Metal do novo milênio, uma música nervosa, em que Loomis novamente destila todo o seu talento, com uma base bem moderna e pesada, e no solo simplesmente impecável. E Dane, inteligente e crítico como poucos na cena, aborda na letra, a forma como os políticos tentam nos dizer o que devemos ou não fazer, mas entre quatro paredes, quem deve decidir o que fazer é você mesmo e não os “porcos que pregam suas mentiras”.

Evolution 169” é uma música mais densa, com um andamento mais devagar em relação as músicas anteriores, mas que mantém o nível do álbum lá em cima. Loomis e Dane dando seus respectivos espetáculos de performance, com destaque para os riffs ultrapesados e sombrios.

The River Dragon Has Come” foi a primeira música deste álbum que eu escutei e ela, que tem em sua intro um dedilhado que parece que não nos levará a lugar algum, se revela uma música poderosa, com riffs maravilhosos e em minha opinião, o melhor solo já criado por Jeff Loomis. A letra trata do rio Yangtze, o maior rio do continente asiático, que atravessa a China. O rio, que é chamado de “O Dragão”, quando enche, costuma-se dizer que “o dragão acordou”. Este rio, que diversas vezes inundou, causou enormes prejuízos e ceifou vidas, o que levou as autoridades a construirem uma represa, batizada “Three Gorges” (três gargantas), cuja construção foi iniciada em 1993 e sua conclusão se deu em 2012, sob a promessa de melhorar tanto as enchentes, quanto a navegação fluvial por ali. A usina superou a brasileira Itaipu como a maior do mundo.

Bem, voltando a parte musical, temos uma “balada” em “The Heart Collector“. Em “Dead Heart“, o NEVERMORE optou por compor baladas sem abrir mão do peso. O caro leitor vai achar que eu estou louco, mas não estou. E aqui temos uma música que não precisa ser mela-cueca.Loomis brilha solando na intro desta música. Ao vivo ela soa ainda mais espetacular.

https://www.youtube.com/watch?v=sURC1O8cOzo

Engines of Hate” é uma das melhores do disco, aqui o Thrash metal moderno volta a estar em evidência. Esta música é a primeira que eu apresento a um amigo quando ele diz que não conhece o som do NEVERMORE. E olha que eu já angariei diversos fãs, afinal, quem consegue resistir à força e o peso que esta música tem? Sem falar da poesia de Dane, que canta que “posso ver o diabo no seu ombro?”

E a faixa oito é mais que especial. Os caras são fantásticos em fazer cover. Se anos antes, eles transformaram “Love Bites“, do JUDAS PRIEST em uma canção sombria, pesada e maravilhosa, o que eles fizeram aqui com “The Sound of Silence“, de SIMON & GARFUNKEL? Esqueça a versão original, que nos dá aquela sensação de paz, tão bonitinha, tão calminha… Aqui eles transformam tudo em caos, com uma intro bem Thrash (ATENÇÃO: sempre que eu me referir ao termo aqui, não me remeto às bandas que o fizeram nos anos 80 e 90 e sim na forma em que o NEVERMORE reinventou o estilo na contemporaneidade) e passagens mais arrastadas, sombrias, lindas, maravilhosas. Não sei se a dupla gostou da versão, mas eu amei de verdade.

Insignificant” é uma música com andamento mais lento, até porque nossos pescoços precisarão de um descanso após duas pauladas anteriores. Uma música que não abandona o peso, tendo as influências Prog que o NEVERMORE sempre utilizou. Muito boa música.

Believe in Nothing” é uma música, digamos, mais comercial, feita para tocar em rádios e foi até veiculada com alguma frequência na MTV (abaixo, o vídeo oficial para a música), embora esta não estivesse dando tanta atenção às bandas de Metal na época. Podemos também classiifcar a música como uma “balada”, ela não abandona o peso e aqui, Dane reafirma na letra não acreditar em nada e questiona sobre a cura para as aflições humanas.

Fechando o disco, um dedilhado de Sheppard, com chiados que podem nos fazer perceber que a bolachinha veio com defeito, mas não veio. É proposital. E logo, a faixa título que parecia ser uma canção de ninar, vira o caos. Com uma pegada bem Thrash, moderna, Van Williams se destaca com sua bateria animalesca. As quebras de ritmo, trazendo uma parte mais prog, sobretudo no solo dão aquele equilíbrio perfeito e o final da música, com aquele riff poderoso, na mesma melodia em que Dane canta “Dead Heart in a Dead World”. Maravilhoso.

Enfim, são pouco mais de 56 minutos que passam de uma maneira tão avassaladora, que você já fica esperando um novo lançamento da banda, um single, com alguma coisa inédita, porque não parece ter sido o suficiente.

Foi na turnê deste álbum, que o NEVERMORE veio ao Brasil pela primeira vez, em 2001, quando, acompanhado pelo KRISIUN e NECROMANCIA, fez uma pequena turnê por terras tupiniquins. Infelizmente o show que estava agendado para o Rio de Janeiro foi cancelado eu nunca pude ver a banda ao vivo.

Como disse no início deste texto, considero este como o melhor álbum de Metal lançado nestes últimos 18 anos. Uma pena o fato de Dane que imortalizou todas estas canções não está entre nós para celebrar e ver a sua obra alcançar a maioridade. E como canta Dane aqui, “Nevermore to feel the pain”. Celebraremos quem esteve entre nós com tanto afinco. E aos que ficaram, pois também ajudaram e muito nesta sensacional obra do Metal.

Lineup:
Warrel Dane – Vocal
Jeff Loomis – Guitarras
Jim Sheppard – Baixo
Van Williams – Bateria

Tracklisting:
01 – Narcosynthesis
02 – We Desintegrate
03 – Inside Four Walls
04 – Evolution 169
05 – The River Dragon Has Come
06 – The Heart Collector
07 – Engines of Hate
08 – The Sound of Silence
09 – Insignificant
10 – Believe in Nothing
11 – Dead Heart in a Dead World

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