Estamos no já longínquo ano de 1996 e em 23 de julho deste ano, o NEVERMORE, que estava em turnê para divulgar o seu debut auto-intitulado, lançaria um EP (o primeiro e único de sua carreira): embora “In Memory“, seja bem curto, é mais do que um aperitivo para o segundo álbum que viria a seguir. Era uma banda nova dizendo a que veio.
A banda estava reforçada pelo guitarrista Pat O’Brien, que não ficaria no posto por muito tempo, adentrou ao “Village Studios“, em Tornillo, no Texas, na companhia do produtor Neil Kermon, o mesmo que havia sido o responsável pela produção do disco de estreia. Este play marca também o primeiro registro completo do baterista Van Williams, uma vez que ele entrou na banda durante o processo de gravação do primeiro álbum e gravou somente metade das músicas na ocasião.
São pouco mais de 26 minutos e 5 faixas; As músicas “Matricide” e “The Sorrowed Man” são músicas gravadas originalmente em uma demo do SANCTYARY, em 1990 e se chamavam “Mother Earth” e “Forever”, respectivamente. Foram também incluídas na demo do NEVERMORE de 1992, chamada “Utopia”. E a banda pegou sobras do primeiro registro, somadas com covers do BAUHAUS, uma das maiores influências de Warrel Dane e os fãs tiveram um pouco de sua ansiedade freada com este pequeno registro.
A bolacha abre com a potente “Optmist or Pessimist“, uma canção com veia Thrash Metal em que a banda já incluía aqui as influências de Prog, a técnica cavalar de Jeff Loomis e a modernidade que o NEVERMORE sempre soube fazer em seu som. Esta música fora incluída como bônus track do disco “Dreaming Neon Black” e foi lá que eu a conheci, tomando um baita susto, pois após a faixa “Forever” o disco continua a rolar em silêncio por aproximadamente 10 minutos e do nada entra essa pancadaria sonora. Foi o susto mais gostoso que tomei na vida.
“Matricide” é a faixa número dois e esta é uma das minhas favoritas de toda a carreira da banda. Se por um lado eu prefiro as faixas mais pesadas onde as palhetadas de Loomis dão as cartas, aqui as harmonias beiram a perfeição. Uma faixa bem Prog. Excelente som. Vale lembrar que esta faixa esteve presente na primeira demo tape da banda, intitulada “Utopia“, datada de 1992.
“In Memory” vem a seguir e sobre ela, tenho uma história curiosa: Na capa do “Dreaming Neon Black“, ao menos na edição brasileira, na época lançada pela “Rock Brigade Records/Laser Company“, ela é anunciada como faixa bônus. No entanto, a minha cópia veio sem esta, o que me deixou com a curiosidade bem aguçada, que só pude saciar anos depois, ao adquirir este EP. E ela é uma música densa, depressiva, forte e pesada. Talvez a com maior clima atmosférico lançada até então pelos caras.
A penúltima faixa deste pequeno registro é a inclusão das duas músicas do BAUHAUS, “Silent Hedges/Double Dare“, que eu confesso, jamais havia escutado as versões originais. Acabei fazendo-o antes de escrever estas linhas. “Silent Hedges” saiu no terceiro disco da banda inglesa, intitulado “The Sky’s Gone Out“, enquanto que “Double Dare” é do disco de estreia, chamado “In the Flat Field“. Bom, com a técnica dos músicos do NEVERMORE, não é preciso pensar muito para concluir que a banda melhorou consideravelmente as duas músicas, sobretudo a segunda, que ganhou mais peso e ficou bem mais sombria. Aliás, cabe um comentário sobre os covers que a banda executou em sua carreira, não foram muitos, mas certamente, ainda não vi nascer banda para fazer versões tão matadoras como as que este quinteto (na maior parte do tempo, fora um quarteto) de Seattle.
Finalizando a bolacha, temos a calmíssima “The Sorrowed Man“, outra que é dos tempos da demo “Utopia“. Uma música calma, em que brilham o solo sensacional da intro, executada por Loomis e o vocal suave de Warrel Dane, acompanhada por um violão. A voz dele aqui nos dá uma sensação de paz. E nos dá uma saudade sem fim desta verdadeira lenda do Metal moderno, que ainda tinha muito a nos proporcionar. Como ele canta em seu refrão, que “reza para que possa viver eternamente”…E vive, pois lendas não morrem!
Enfim, como se trata de um EP, não poderíamos esperar nada mais extenso, mas a qualidade em si é muito boa. Aproveitando para corrigir a página da Wikipédia sobre este disco, que diz não existir versão brasileira lançada para “In Memory”, mas eu digo que tem sim: a minha cópia é nacional, fora comprada diretamente quando a “Century Media” tinha uma filial em terras tupiniquins. Hoje em dia não se encontra este disco em catálogo, só importando.
Minha relação com este disco é… Bem, sou fã de NEVERMORE e fiel lhe serei até a morte. Então hei de comemorar cada single, EP, Full-lenght. Todo o legado que os caras deixaram, que é imenso e que foi pouco reconhecido, está ai. E bandas como o LAMB OF GOD, por exemplo, navegam neste mar onde Warrel Dane, Jeff Loomis, Jim Sheppard e Van Williams navegaram.
Em 2006, Perry Cunningham seria o responsável pela remasterização do EP, que ganharia cinco faixas bônus, todas elas versões demo de músicas que viriam a fazer parte do segundo full-lenght.
Cinco meses depois, era lançado “The Politics of Ecstasy“, um disco em que a complexidade da banda era mais acentuada ainda, mas isso é uma história que será (re)contada lá no dia 9 de novembro, quando comemoraremos também os 23 anos deste disco lindo. Já que infelizmente não podemos desejar longa vida ao NEVERMORE, eu encerro este texto dizendo ao caro leitor que eu escuto, sim, gente morta. E tenho o maior orgulho disso.
In Memory – Nevermore
Data de lançamento – 23/07/1996
Gravadora – Century Media
Tracklisting:
01 – Optmist or Pessimist
02 – Matricide
03 – In Memory
04 – Silent Hedges/Double Dare (Bauhaus cover)
05 – The Sorrowed Man
Bônus Tracks do relançamento (2006):
06 – TheTiananmen Man (demo)
07 – The Seven Tongues of God (demo)
08 – Passenger (demo)
09 – This Sacrament (demo)
10 – 42147 (demo)
Lineup:
Warrel Dane – Vocal
Jeff Loomis – Guitarra
Pat O’Brien – Guitarra
Jim Sheppard – Baixo
Van Williams – Bateria
