Em 1 de julho de 1987, o NAPALM DEATH lançava “Scum”, o álbum de estreia da longeva e bem-sucedida carreira da banda. E hoje nós vamos trazer algumas curiosidades que cercam a história deste álbum, a pedra fundamental do hoje quarteto britânico.
A banda nasceu em 1981 e após o lançamento de algumas demos, o então trio formado por Nicholas Bullen, Justin Broadrick e Mick Harris entrou no estúdio “Rich Bitch”, em Birminghan, a cidade natal dos pais do Heavy Metal, o BLACK SABBATH, no mês de agosto de 1986. E lá foram gravadas 12 músicas, ao custo de 50 libras. Estas músicas fariam parte de um Split LP, com a banda de Crossover Thrash chamada ATAVISTIC e o play sairia pela “Maniac Ears Records”. O Split não deu certo, a banda retornou ao mesmo estúdio para gravar mais 16 músicas, em maio de 1987, e cada sessão de gravação entrou em um lado do disco, que acabou sendo lançado pela “Earache Records”.
Porém, entre a gravação dos chamados lados “A e B”, houve uma profunda mudança no lineup da banda e sobrou apenas o baterista Mick Harris, que acabou sendo o único a gravar os dois lados. Foram recrutados o vocalista Lee Dorriam, o baixista Jim Whitely e um certo guitarrista chamado Bill Steer. Então desconhecido, Steer montaria o CARCASS logo depois e se tornaria notável.
Outra correlação do CARCASS com o NAPALM DEATH está na capa do play, assinada por ninguém menos do que Jeff Walker, baixista e vocalista do grupo que se tornaria mais tarde, o criador do Death Metal Melódico, A produção do aniversariante do dia foi dividida: a própria banda fez a produção do lado A, enquanto que Dig produziu o lado B. Vamos lá destrinchar as 28 músicas deste petardo.
“Multinational Corporations” não é bem uma música, mas uma faixa onde o batera Mick Harris espanca seus pratos enquanto o vocalista Nicholas Bullen repete exaustivamente a frase Multinational Corporations/Genocide of the Starting nations. Isso dura pouco mais de um minutos.
“Instinct of Survival” é bem tosca e suja, mas temos alguns bons riffs de guitarra e principal, a violência e agressividade do Grindcore que a banda viria a nos brindar. “The Kill” em seus vinte e quatro segundos é direta e reta, num Grind que não poderia ser mais brutal.
A faixa título começa com sujas linhas de baixo e ótimos riffs de guitarra em sua introdução e logo a pancadaria dá as caras, com breves momentos de mudança no andamento. “Caught… in a Dream” é outro esporro sonoro, com passagens que flertam com o Punk Rock.
“Polluted Minds” mantém a pegada brutal e agressiva, com direito a um breve solo, sujo e mal tocado. “Sacrificed” é bem punk, com todo o vigor do estilo, acrescido de uma bateria insana e veloz. Nesta faixa quem canta é o guitarrista Justin Broadrick.
“Siege of Power” tem ótimos riffs, os melhores deste play e uma pegada bem DEAD KENNEDYS, mas em certo momento a música descamba para o Grindcore, ganhando ótimos contornos. É a música mais extensa de todo o play, com seus 4 minutos. Excelente som.
“Control” é na linha de bandas como o DISCHARGE, quando na parte mais Punk e ganha identidade própria quando entra a parte Grind. “Born of Your Kness” tem guitarras soando como serra elétrica na parte Grind, mas quando o andamento fica mais arrastado, os riffs ganham em qualidade, a música fica mais punk.
“Human Garbage” é uma mistureba tremenda: muita tosqueira e agressividade na parte Grind e riffs a lá Tony Iommi na parte mais arrastada, chegando a soar Doom. “You Suffer”, com um segundo, entrou para o Guiness como a faixa mais curta já gravada, com apenas 1.316 segundo. A banda gravou também um clipe para esta pequena música e ela também detém o recorde de vídeoclipe mais curto da história da música, com apenas 2 segundos. E assim o lado A se encerra, com doze faixas em assustadores 19 minutos.
O lado B abre com “Life?” Que já conta com uma formação praticamente nova e aqui temos um Grindcore mais caprichado, porém, igualmente bruto e ríspido. “Prision Without Walls” tem ótimas linhas de bateria de Mick Harris e guitarras bem Hardcore.
“Point of no Return” mantém o caos sonoro com sua velocidade e agressividade, mas com bons riffs de guitarra, parecendo até que Bill Steer está tocando uma música diferente, mas isso ficou legal. Em “Negative Approach” quem dita o ritmo é Mick Harris e sua bateria caótica, deixando a guitarra em segundo plano.
Após quatro faixas de pouco mais de meio minuto cada uma delas, chega “Sucess?”, a primeira faixa que ultrapassa um minuto de duração e aqui tem espaço para a banda alternar entre a velocidade do Grind e uma parte mais cadenciada com riffs sensacionais nesta alternada. A coisa volta a ficar curta e grossa em “Deciver” e seus 28 segundos, onde a brutalidade e a bateria tipo britadeira são os lemes.
A sonoridade punk retorna em “C.S.(Conservative Shithead)”, onde o estilo se alterna com a quebradeira do Death Metal em uma das poucas faixas “longas” deste play. “Parasites” em seus vinte e quatro segundos tem de tudo, até um solo de guitarra cheio de sujeira.
“Pseudo Youth” mantém a raiva nas partes rápidas, com breves alternâncias com bons riffs. “Divine Death” começa com riffs mais arrastados e logo a coisa descamba para a violência aparentemente desconexa, mas o ouvinte que entende saca que tudo ali faz sentido.
“As the Machine Rolls” on embora seja violenta e rápida, traz a energia punk consigo, inclusive na parte em que o baixo sobressai. “Common Enemy” é a fúria extravasada em dezesseis segundos. “Moral Crusade” tem um minuto e meio, do qual, metade é introdução e a outra metade é brutalidade extrema. “Stigmatized”, é muito brutal no início e no fim, com uma parte bem Punk no meio, boa para pogar.
“M.A.D.”, que é a música mais extensa desse lado B, com seu um minuto e trinta e um segundos de extensão, tem riffs muito bons em sua parte mais arrastada. A música se encerra com distorções na guitarra, que emendam com a faixa de encerramento, “Dragnet”, que é raivosa e assim temos o final desta segunda etapa da gravação do play.
E depois de 28 músicas em assustadores 33 minutos, temos aqui o disco que é considerado por muitos, como sendo o primeiro lançamento do então estilo que chamamos de Grindcore, essa mescla do Death Metal com elementos Punk e do Hardcore. Percebemos uma diferença entre as músicas do lado A e do lado B, embora em ambos a crueza seja uma característica mais latente, o lado B já demonstra uma melhoria na sonoridade. E essa melhoria seria constante, como podemos notar ao escutar os álbuns subsequentes na discografia deles.
No ano de 2005, “Scum” foi eleito um dos 50 melhores álbuns britânicos de todos os tempos, pela revista “Kerrang!”. Alcançou também a 5ª posição na lista dos discos de Grindcore essenciais da Europa, pela revista “Terrorizer”, além de ter sido citado no livro “1001 ábuns que você precisa ouvir antes de morrer”, do autor Robert Dimery.
Fica ai uma das opções de som para se ouvir em mais um dia de quarentena. Se você curte um som brutal e extremo, “Scum” é uma ótima pedida. E mesmo para quem não curte, o respeito precisa ser imenso, estes caras estavam na vanguarda. E hoje, consolidados, preocupados com as causas sociais, só nos resta desejar uma longa vida ao NAPALM DEATH.
Scum – Napalm Death
Data de lançamento – 01/07/1987
Gravadora – Earache
Tracklisting:
01 – Multinational Corporations
02 – Instinct of Survival
03 – The Kill
04 – Scum
05 – Caught… in a Dream
06 – Polluted Minds
07 – Sacrificed
08 – Siege of Power
09 – Control
10 – Born on Your Kness
11 – Human Garbage
12 – You Suffer
13 – Life?
14 – Prision Without Walls
15 – Point of no Return
16 – Negative Approach
17 – Sucess?
18 – Deceiver
19 – C.S.
20 – Parasites
21 – Pseudo Youth
22 – Divine Death
23 – As the Machine Rolls on
24 – Common Enemy
25 – Moral Crusade
26 – Stigmatized
27 – M.A.D.
28 – Dragnet
Lineup:
Nicholas Bullen – Vocal/Baixo (lado A – faixas 1 a 12)
Justin Broadrick – Guitarra (lado A) e vocal em “Polluted Minds”
Mick Harris – Bateria (todas as faixas)
Lee Dorrian – Vocal (lado B – faixas 13 a 28)
Bill Steer – Guitarra
Jim Whitely – Baixo