A década de noventa é bem menos endeusada dos que as de 70 ou 80, mas devo dizer que sinto falta daquele período. Tantas misturas, fusões, experimentações! Imagine entrar numa loja e sair com Body Count, Soundgarden, Napalm Death e Living Colour.

Sim, sei que alguns dos nomes acima começaram no final dos anos 80, mas lembrem-se que o tempo corria um pouco mais lento naquele período e, portanto, a década que se iniciava correspondia à popularização deles em território brasileiro. Mesmo o disco do Ministry, “The Mind Is A Terrible Thing To Taste”, foi lançado originalmente em 1989, mas apareceu nas prateleiras brasileiras quase que simultaneamente ao seu sucessor, “Psalm 69”, de 1992.

Todo o percurso, iniciado em 1983 com o disco “With Sympathy”, delineia o caminho que o Ministry fez, saindo do Synthpop até o Metal Industrial. A virada de mesa aconteceu com o início da parceria de Al Jourgensen com o baixista Paul Barker, ocorrida no trabalho anterior, o instigante “The Land Of Rape And Honey”, de 1988. Partindo daquele ponto, o som da banda foi evoluindo em insanidade e experimentação até o ápice com “Psalm 69”, mas “The Mind…” foi a efetivação do modo Ministry de agir. A estreia do Nine Inch Nails é do mesmo ano, mas sua popularização só ocorreria com o EP “Broken”, em 1992, então o Ministry estava no alto do habitat do Metal Industrial. É claro que, passado tanto tempo, hoje a sua musicalidade já foi perfeitamente absorvida, mas, na virada daquela década, aquilo era algo absurdamente diferente de qualquer outra coisa. Absurdamente impactante. E todo o movimento que surgiu apresentando bandas como Treponem Pal e Godflesh, entre outras, acabou por contaminar artistas de gêneros bem distintos, que tentaram incluir elementos de Industrial em suas músicas, mas com resultados duvidosos, tal qual ocorreu com Danzig e Motley Crue.

“Thieves” é uma das faixas mais importantes da banda e inicia com sons impossíveis, gerados por programação. No seu decorrer, a inserção de sons de aparelhos como furadeiras elétricas e samplers diversos. “Burning Inside” tem andamento mais acelerado, com uma bateria mais orgânica e riffs que agem como facas cortantes. Jourgensen é o vocalista principal nas duas primeiras músicas e essa função é dividida com convidados do naipe de Chris Connelly, que assume as próximas duas.

“Never Believe” é uma faixa baseada na programação de bateria, que permanece praticamente inalterável durante toda sua duração, e “Cannibal Song” revela-se um momento mais climático, como uma caminhada pelos labirintos da mente. A sequência com “Breathe” e “So What” parece deixar claro que Jourgensen separou para si as músicas de andamento mais pesado.

“Test” tem os vocais de K. Lite e assemelha-se a uma espécie de HipHop Industrial. “Faith Collapsing” está mais para uma colagem de ritmo e inserção de falas retiradas de filmes como “1984” e “Farenheit 451”, enquanto “Dream Song” surge mais viajante e onírica, mas mantendo o padrão de colagem. Essa sequência final tira um pouco da força do álbum, apesar de lhe conceder variedade de modos de tratamento para esse tipo de música.

Embora o fator novidade tenha se esvaído, o Ministry tornou-se um gigante da música alternativa e, até hoje, os efeitos de sua criação ainda podem ser identificados dentro do cenário da música underground.

Músicas

01 Thieves

02 Burning Inside

03 Never Believe

04 Cannibal Song

05 Breathe

06 So What

07 Test

08 Faith Collapsing

09 Dream Song