Sabe aqueles discos que você compra, coloca pra ouvir e lhe vem uma sensação de estranheza? De que algo está soando meio diferente? De que está havendo um descompasso em relação às suas expectativas?
Sua primeira reação natural é de uma certa decepção. No entanto, inconformado, você volta para aquele álbum e o escuta novamente. E de novo, de novo, de novo, sendo que, em cada oportunidade, você vai apreciando mais, descobrindo detalhes, e o trabalho vai lhe parecendo melhor a cada vez, até a inevitável conclusão de que se trata de um disco espetacular!
Ah, eu estou falando de “…And Justice For All”, meu disco preferido do Metallica. Um disco que realmente não me cativou de imediato, mas que fica melhor a cada nova audição e sobre o qual eu precisava fazer esse preâmbulo para dizer que “St. Anger” é o seu extremo oposto. É um disco que, a cada vez, fica pior – o que não quer dizer, também, que o álbum não tenha os seus méritos. Existem bons momentos ali, evidentemente.
A crítica mais comum sobre o mesmo é sobre o som da bateria. É desagradável, sim, mas eu sempre tento, quando pego discos com algum, digamos, detalhe inusitado em sua sonoridade, ouvir a música que está por trás da produção. Tento imaginar como a mesma música soaria com a produção adequada.
Analisando sob essa ótica, “St. Anger” corresponde parcialmente à boa vontade do ouvinte. O disco começa muito bem! “Frantic” é uma música que eu aprecio bastante e que deveria permanecer nos shows da banda. É, de longe, o melhor momento do disco. A sequência das três faixas seguintes, “St. Anger”, “Some Kind of Monster” e “Dirty Window”, se não são tão boas quanto a abertura, também não decepcionam e merecem uma audição mais cuidadosa, sendo “Some Kind of Monster” a melhor dentre estas, com uma boa introdução e um desenvolvimento que mantém o interesse.
Portanto, até “Dirty Widow”, o disco consegue, de certa maneira, se sustentar, mas, a partir de “Invisible Kid”, a coisa começa a mudar de figura. É uma música ruim. Se fosse um caso isolado dentro do disco, não haveria tanto problema, mas parece que, de “Invisible Kid” em diante, a queda é vertiginosa. Pode ser também que a boa vontade que temos no começo do disco não resista frente ao som saturado que o mesmo tem no geral. “St. Anger” é um trabalho pobre em melodias e sua audição vai se cansando no seu decorrer. Ajudaria, como já dito, se as músicas fossem boas, mas se “Invisible Kid” é ruim, “My World” é péssima mesmo. Ela chega a ter passagens que lembram o Korn e que, ironicamente, ficariam bem melhores com aquela banda. Espalhados aqui e ali conseguimos, de fato, localizar pequenos trechos que remetem ao Nu Metal. Nada contra o estilo em si, mas o Metallica tem seu próprio estilo e suas influências. A inserção de momentos desse estilo soou forçada e antinatural, criando logo a sensação de rejeição contra músicas como “Purify” – que é outra que merece a categorização de péssima -, “Sweet Amber” e “Shoot Me Again”, cujo título é perfeito na tradução do sentimento que temos ao escutá-la. O mais lamentável é que essas canções tem boas passagens, que parecem que vão se desenvolver de uma certa maneira e acabam indo para outra que desconstrói nossas expectativas, seja por algum detalhe de arranjo ou até mesmo por algumas formas que Hetfield escolheu para interpretar suas letras, tornando-se, por vezes, irreconhecível. “The Unnamed Feeling”, por exemplo, quase se enquadraria entre as boas faixas do disco, mas é estragada por guitarras com som de apito que soam deslocadas e prejudicam a composição como um todo.
“All Within My Hands” termina o disco recuperando um pouco o seu nível, sendo uma música mais palatável, apesar de também não soar muito como Metallica. Embora eu ache que Kirk Hammet tenha, há muito tempo, perdido a criatividade que demonstrou no começo da carreira, os solos poderiam ter ajudado no sentido de inserir um pouco mais de variação no meio de faixas tão longas. A decisão de não ter solos nas músicas poderia ter resultado natural se fosse uma opção de arranjo pensada especificamente para cada composição, mas, quando simplesmente se resolve de antemão, e de forma generalizada, que não haverá solos, querendo provar sabe-se-lá-o-quê, levanta apenas mais um dos pontos equivocados do trabalho, pois só serviu para tolher um dos membros da banda, para criar barreiras no que deveria ser um trabalho de equipe, não redundando em nada muito diferente do que foi feito com Jason Newsted em “…And Justice For All”.
Enfim, “St. Anger” não é um grande disco, mas também não merece ser malhado de todo. De suas onze faixas, seis músicas não fariam falta, caso não existissem, mas as outras cinco, com algumas poucas correções, formariam um bom EP. Melhor sorte viria no futuro, com a gradual retomada aos trilhos e o Metallica tornando-se Metallica novamente.
Formação:
James Hetfield (vocal e guitarra);
Kirk Hammett (guitarra);
Lars Ulrich (bateria).
Faixas:
01 – Frantic
02 – St. Anger
03 – Some Kind of Monster
04 – Dirty Window
05 – Invisible Kid
06 – My World
07 – Shoot Me Again
08 – Sweet Amber
09 – The Unnamed Feeling
10 – Purify
11 – All Within My Hands
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5/10