Em 12 de agosto de 1991, o METALLICA lançaria o seu quinto álbum, aquele que faria da banda a mais bem sucedida comercialmente dentre todas as bandas de Heavy Metal. O autointitulado, conhecido como “Black Album” ou “Álbum Negro“. Com 30 milhões de cópias vendidas, este disco está entre os 35 mais vendidos da história da música.
E aqui o fã mais old-school ficou bastante desapontado, pois o Thrash Metal fora demasiadamente deixado de lado. Há, todavia, um amadurecimento da banda em suas composições. Se por um lado, até este que vos escreve, sente falta das palhetadas, dos riffs insanos e das músicas velozes presentes até em “…And Justice For All” que eram o que fazia do METALLICA uma banda única, aqui a gente pode vislumbrar uma banda mais evoluída. Ainda são pesados, o pior estaria por vir nos álbuns subsequentes.
O mais interessante aqui é que eles resolveram não boicotar o baixista Jason Newsted, que pôde mostrar o porque de ser o merecedor deste posto na banda. E que de forma brilhante, ficou na banda por quase 15 anos. E ele ganhou espaço e brilho no disco homenageado de hoje.
A banda passou oito meses no “One on One Recording Studios“, o mesmo em que a banda havia gravado o antecessor. E desta vez, na companhia do produtor Bob Rock, que em princípio seria apenas o responsável pela mixagem, porém, todos na banda ficaram impressionados com seu trabalho no álbum “Dr. Feelgood“, do MÖTLEY CRUE. E Lars Ultich justificou sua escolha por Bob:
“Sentimos que temos a melhor gravação dentro de nós e Bob pode nos ajudar a torná-la real.”
Ulrich, Lars
Mas o clima das gravações não fora nada amistoso: Bob Rock alterou toda a rotina da banda no estúdio, o que gerou uma tensão gigante entre ambas as partes. E a banda jurou nunca mais voltar a trabalhar com ele, o que acabou se revelando uma grande mentira, pois Bob seguiu produzindo os álbuns posteriores, até “St. Anger“, onde inclusive gravou o baixo.
O resultado, foi excelente, pois o “Black Album” é pesado, sombrio, denso na medida certa. É um álbum de Heavy Metal puro, claro que o fã sente falta das músicas velozes. Mas este álbum tem sua importância por ter feito o METALLICA se tornar uma banda mais acessível, comercial. Em minha opinião, o último bom disco da banda, ainda que seu sucessor, “Load” tenha bons momentos, mas não é um disco de Metal.
Uma outra diferença foi que a banda deixou de fazer e incluir composições instrumentais e longas, como era já de praxe. Então aqui, no máximo que o ouvinte terá são introduções longas.
Colocando a bolacha para rolar, temos a abertura com a clássica e pesada “Enter Sandman“… E quem não sabe tocar a sua intro? Até este que vos escreve, que sabe pouco mais do que três acordes. Embora sua intro seja clássica, ela é meio despretensiosa, mas logo ela ganha força e seu refrão grudento cola em nossas mentes. Esta nasceu clássica!
“Sad But True” é a minha preferida por ser a mais pesada e com um andamento bem cadenciado. Tudo nela soa perfeitamente bem e a afinação baixa das guitarras dá à ela o peso necessário.
“Holier Than You” é uma das poucas que lembram mesmo que a milhas de distância, um pouco do Thrash Metal que a banda outrora havia abraçado e se tornado influência para as demais que vieram depois. Uma música forte, pesada e que mantém o nível alto da gravação.
Ai uma quebrada no ritmo para a bem estruturada e bem executada “The Unforgiven“, para qual muitos fãs torcem o nariz até hoje. Uma música bem comercial, mas nem por isso tem menos valor. Eu sempre tive restrições ao guitarrista Kirk Hammet, mas aqui eu dou meu braço a torcer, o cara arrebentou no solo. É em minha opinião seu melhor solo em toda a sua carreira. E vale acrescentar que mesmo sendo uma balada, o peso se mantém ali.
“Whereaver I May Roam” é a faixa número cinco e outra das mais pesadas e densas do disco. Excelente som.
“Don’t Tread on Me” é outra das minhas favoritas deste disco, pelo seu peso e pela forma diferente em que James Hetfield canta os versos desta música.
“Through the Never” é o último suspiro Thrash Metal da banda, embora ela lembre apenas bem de longe o que a banda praticava até o álbum anterior. Mas é uma música forte, pesada e intensa.
Outra quebrada no clima do disco para a incursão de outra balada. E “Nothing Else Matters” é outra para a qual alguns fãs torcem o nariz, mas injustamente. É uma música com um clima fantástico e outra cuja introdução, este redator que vos escreve e que toca muito pouco, se orgulha de saber tocar. A orquestração dessa música faz dela a canção mais completa da carreira da banda.
“Of Wolf and Man” traz o peso de volta e aqui uma tentativa de Lars Ulrich de tocar bem o seu kit de bateria. Mesmo com algumas viradas que deixam a música interessante, ele mostra que se já não era dos melhores, aqui ele está desinteressado no seu instrumento e mais focado na parte gerencial da banda, que, convenhamos, executa com competência cirúrgica.
“The God That Failed” é uma música mais densa, bem pesada e carregada de raiva, muito em função de sua letra tratar da morte da mãe de James, vítima de câncer e que recusou tratamento por achar que “Deus a salvaria”. A música é muito boa.
Para consertar a besteira que fizeram em limar o som do baixo de Jason Newsted no disco anterior, eis que a banda deu ao baixista a honra de fazer a intro de “My Friend of Misery” com um solo de baixo interessante. A música, muito pesada e igualmente densa como a anterior, é um dos destaques deste disco.
E fechando a obra temos “The Struggle Within“, que começa com a bateria rufante de um desinteressado Lars Ulrich, mas que fecha bem o disco, que teve a melhor produção dentre todos os discos do METALLICA, embora tenha feito a banda a abandonar seu som dos primórdios, ganhando em contrapartida, fama, dinheiro e reconhecimento.
O METALLICA fez uma superturnê para divulgar este disco, a banda passou a se tornar figura comum nas rádios, na MTV e chegou ao 1º lugar da Billboard.
A minha relação com este álbum é de muito carinho, foi o primeiro disco do METALLICA que eu tive acesso, primeiro pelas músicas que tocavam exaustivamente na “Rádio Cidade”, a rádio “rock” aqui da cidade do Rio de Janeiro, e depois, através de um grande amigo fã da banda, o qual eu o visitava semanalmente e passávamos horas escutando os discos da banda.
Muitos acham que o METALLICA acabou no “Master of Puppets“, outros dizem que a banda acabou no “…And Justice for All”, eu digo que este foi o último disco bom dos caras. Realmente, tirando algumas músicas do “Load”, eu acabo desprezando o restante dos discos que eles lançaram depois. E nem mesmo ao vivo eu sinto a mesma energia da banda. James Hetfield é a espinha dorsal da banda, é ele quem segura a onda e faz a banda ser o que é, musicalmente falando.
Mas para quem segue admirando o METALLICA, hoje é dia de celebrar este disco e também para aumentar a ansiedade quanto a turnê que a banda está preparando para a América do Sul no próximo ano e que o Brasil está dentro. Eu torço para que a banda volte a fazer discos como este “Black Album” e quiçá, volte às raízes Thrash Metal, pois foram elas quem lhes deram a oportunidade de fazer um “Álbum Preto”.
Lineup:
James Hetfield – Vocal/Guitarra
Kirk Hammet – Guitarra
Jason Newsted – Baixo
Lars Ulrich – Bateria
Tracklisting:
01 – Enter Sandman
02 – Sad But True
03 – Holier Than You
04 – The Unforgiven
05 – Whereaver I May Roam
06 – Don’t Tread on Me
07 – Through the Never
08 – Nothing Else Matters
09 – Of Wolf and Man
10 – The God That Failed
11 – My Friend of Misery
12 – The Struggle Within