O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de banda de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até os mais técnicos, com tal enfoque na questão vocal.

No quadro de hoje conversamos com Pedro “Poney Ret” Arcanjo , vocalista das bandas Abismo e Violator. Violator lançou seu ultimo EP “Hidden Face Of Death” em 2017, e a banda Abismo lançou seu ultimo clipe “F!VE” no ano passado.

Roadie Metal: Quando você decidiu ser vocalista?

Pedro: Essa história de começar a cantar não foi uma decisão, na verdade foi algo que a realidade impôs, a gente já tocava junto em 2002, 18 anos atrás, tinha uma banda já com Batera e Capaça que chamava Metastasis e ela vinha desde 1999 entre vindas e idas, e ai em 2002 com saída do vocalista a gente teve que tentar com outro amigo nosso que acabou não dando certo, então falei “deixa que eu canto, vamos reformular, vamos transformar um outra história, formatado dentro do Thrash do anos 80”, assim surgiu Violator, ai que decidi cantar e tocar, mas foi algo de improviso, até hoje tenho dificuldades de me ver como vocalista, tanto que brinco na hora de escrever, “gritos e baixo por pônei”, não tem uma coisa assim de voz, no sentido de cantor, foi sempre uma coisa muito espontânea, tanto começo de vocalista mas quanto as outras coisas.

Roadie Metal: Você é também é vocalista da banda Abismo, que é totalmente diferente do Violator, você sentiu dificuldade no início, pois Violator é mais agressivo e rápido, e o Abismo traz uma sonoridade Doom Metal mais decadente?

Pedro: Senti muita dificuldade, ainda sinto na verdade, e sinto que é um desafio que consigo explorar mais com Abismo, no Violator eu não consigo gravar uma música inteira de uma vez, pois não tenho ar direito, pois é no limite na gritaria, no limite da minha capacidade de gritar, quanto no Abismo eu exploro a habilidade de cantar, que é muito mais difícil, é mais fácil fazer algo sujo e feio do que algo bonito, pois precisa de dar mais cara a tapa, expor muito mais e de alguma maneira se mostrar muito mais, e isso é mais difícil, mas to bem contente com esse desafio. Abismo é de varias maneiras um contraponto radical do Violator, enquanto um é essa coisa da externalidade total que se realiza no show, que é um coletivo de pessoas muito maior de que quatro pessoas, o Abismo é um exercício muito mais introspectivo, os ensaios são mais bacanas que os shows, e nisso tem essa diferença da abordagem do vocal que estou muito interessado em explorar 

Roadie Metal:Qual vocalista você mais tem inspiração?

Pedro: Pra mim é difícil em pesar em termos de inspiração, assim em termo de influencia, eu gosto de muita coisa e escuto muita coisa, que de alguma forma eu performo de uma maneira que sou capaz, se voce escutar Abismo voce vai ver influencia desde Ozzy até Greg Sage do Wipers, passa por muita coisa, até mesmo Neil Young, que é algo fora do Metal, mas é sempre uma coisa de escutar muito estilo de música diferente e executar dentro das minhas capacidades. Eu vou usar usa pergunta para defender o Ozzy, gosto muito dele, acho um grande vocalista e com ótimas melodias, e que acaba pelo ponto de visa de doidão as pessoas tiram ele como vocalista menor, talvez também pela presença do Dio na segunda parte do Black Sabbath, que também foi um grande vocalista. Pelo Abismo é muito parecido com Violator, eu entendo que estilo de música a gente quer fazer e eu executo mais ou menos como eu consigo, é dentro desse universo das capacidade muito mais que inspirações, e talvez essa defesa do Ozzy faça mais sentido pois ele parece ser desses que faz tudo pelo coração. 

Roadie Metal: Além do Violator e Abismo, você também ja foi vocalista do Scumbag e da icônica banda Possuído Pelo Cão, você pode comentar mais sobre sua experiência nesses projetos, e se tem ainda alguma chance do PxPxC fazer mais uma reunião?

Pedro: Então, no Scumbag eu fui apenas baixista, foi um projeto de Grindcore e Death Metal, com três membros do Violator, o Luca do Possuído e Felipe CDC, figura lendária do underground brasiliense, no Possuído fui apenas vocalista, que foi prazer para mim, não precisava levar nada para o ensaio, Possuído fez show de reunião de despedida no começo de 2019, a gente sentiu que era importante fazer uma espécie de festa publica logo no começo do governo Bolsonaro, então a gente fez ali uma loucura numa pista de skate na cidade de Cruzeiro, cidade satélite de Brasilia, foi uma festa tremenda, negocio inacreditável, uma loucura cheia de fogos de artificio, bois e gente louca, uma grande reunião de loucos. Não sei dizer se voltaríamos, fizemos uma reunião em 2016 e essa outra em 2019, mas acho que vamos ficar um bom tempo sem nos reunir. Acho que o Possuído tem que ser encontros muito especiais, a ideia nunca foi ser uma banda de funcionamento normal, a gente sempre entendeu que seria um projeto especial e que por mais carinho que tenho pela banda, e é impressiaonte a gente encontra molecada com tatuagem do Possuído Pelo Cão, é como um culto mesmo, e tenho muito carinho enorme, acho que por isso a gente tem que tratar a banda com respeito, por isso reuniões tem que ser momentos raros e especiais, se é que vá acontecer.

Roadie Metal: Qual álbum foi mais desafiador que você já gravou?

Pedro: Cara, por ter uma abordagem muito amadora do vocal eu diria que todos os discos que gravei até hoje foram desafios tremendos, pois era uma coisa que nem sabia dizer se teria voz no final da música, de tão grito primário e sem técnica que executo nas bandas.  

Roadie Metal: Ao longo dos anos seu vocal foi mudando, é possivel notar isso quando quando ouço Violent Mosh e Hidden Face of Death, você que decidiu mudar o seu estilo vocal ou foi algo natural, algo que foi adquirindo com a prática?

Pedro: Acho que com passar no tempo isso foi melhorando, o Scenarios Of Brutality foi o disco que a gente gravou com mais calma, ficamos duas semanas na Alemanha para gravar o disco, ali pude entender melhor a minha voz, eu tava com a voz um pouco desgastada da turnê. Isso na verdade se apresentou como uma vantagem, a partir dali a minha voz se acomodou um pouco mais assim, e hoje tem sido um pouco mais fácil, inclusive nos shows, hoje consigo fazer uma sequência de shows, no começo tive muito mais dificuldade, no começo do Violator eu viajava com sal grosso, fazia gargarejo com sal nas turnês, tinha vários problemas de perder a voz, isso foi sempre uma questão. Curiosamente depois que comecei a beber e fumar canabis esse problema se resolveu, nunca mais perdi a voz, que era uma coisa que me acontecia muito quando era jovem, mas acho que é mais uma questão de costume, da maneira que você imposta a voz para gritar, acho que corpo vai se acostumando e voce vai entendo uma maneira de fazer isso que não desgaste tanto.

Roadie Metal: Já houve algum show do Violator que você não pode cantar e esteve presente apenas como baixista?

Pedro: Já me aconteceu de perder a voz totalmente em um show em Londrina, eu senti a questão do frio na viagem, e a conversa, mais do que cantar em outros shows tem a coisa de ficar falando alto, eu tenho essa mania, a coisa de ficar conversando antes do show, sabe, fico animado e empolgado encontrando os amigos, ainda é uma coisa que desgasta muito, mas como disse hoje em dia eu tenho uma resistência maior, minha voz se adaptou a esse desgaste, foi em  2007 quando a gente tava começando uma turnê que se prolongaria por uns 4 meses, logo no começo eu perdi toda a voz nesse show em Londirna. O Capaça teve que cantar umas músicas, alguns amigos nossos subiram no palco para cantar, o Miro entrou la cantando Destined To Die. Eu fiquei preocupadasso, fui numa fonoaudióloga, que na verdade não adiantou nada, ela disse que não tava com nenhum problema, apenas que se eu continuasse gritando assim eu teria problemas no futuro, eu fique “Ah tudo bem”, meio igual a surdez que vai me acometer assim, faz parte de envelhecer nesse meio. Mas como eu disse eu fazia gargarejo com sal grosso, própolis e um monte de cuidado, mas esse foi único episódio que perdi a voz.

Roadie Metal:Você mantém alguma rotina de prática vocal?

Pedro: Eu não mantenho nenhum tipo de prática, eu bebo muito álcool que é bem pouco recomendado, e fumo maconha.

Roadie Metal:Você mantém algum cuidado com sua voz?

Pedro: Não tenho nenhum cuidado especifico, na verdade depois que comecei com esses hábitos tive bem menos problema com a voz, diferente quando era caretão e Straigh Edge, que foi quando minha voz falhava, mas acho que tem a ver com a idade. Eu fiz por um tempo aula de canto, acho que por um semestre quando era moleque e comecei com essa historia do Violator, sempre fui ruim de afinação, mas naquele semestre peguei muita pratica de aquecimento e respiração, que eu sempre faço antes do show do Violator, sempre faço treinamento de tremulo de língua e respiração com diafragma, e eu acho que peguei desse treinamento, nesse semestre com esse cara, peguei essa coisa de respirar com diafragma, que para o Violator é fundamental, porque é muita palavra, muito riff, aquela batida thrash, o vocal são mil palavras por segundo, é preciso capacidade pulmonar, então essa técnica de jogar ar pro diafragma, jogar ar para barriga, é fundamental, isso foi uma coisa que aprendi e fui desenvolvendo com o tempo, hoje sinto que é importante, e os treinamentos de aquecimento tem muito a ver com essa respiração do diafragma, isso é uma cosia que pratico e faço, mas apenas antes do show.

Roadie Metal:Qual a sua opinião de bandas que tem vocal mais melódicos, como no Power Metal por exemplo?

Pedro: Cara, Metal Melódico não é muito minha praia, na verdade o Violator foi fundado nesse ódio contra esse Heavy Metal Melódico que a gente tinha naquele final dos anos 90, que era tudo que parecia que existia assim, tinha essa de Nu Metal, Metal Melódico e Black Metal Sinfônico. A gente odiava tudo aquilo e o Violator foi montado um pouco nessa raiva. Mas vocal mais melódico, vocal com falsete tem muitos, tem centenas, tem dezenas que eu poderia citar aqui que eu admiro, talvez maior deles seja Rob Halfrod, que eu amo, acho que ele é formatador do Heavy Metal, na estética e no som, máximo respeito, amo demais, para mim é um grande vocalista, admirável. Você escuta Victim Of Changes, o álbum Sad Wings Of Destiny, para mim seria impossível “performar” qualquer música daquele estilo. Fica uma admiração e reconhecimento tremendo, justamente por saber que aquilo não é nada fácil de fazer.

Roadie Metal: Para finalizar quem recado você daria para quem está começando como vocalista?

Pedro: Cara, para quem ta começando agora eu só posso dizer para ir e fazer do que jeito que poder, gritar ou berrar, que seja, essa foi sempre a abordagem do Violator, nossa produção de metal, de nossa arte ou que for, que é essa ética do faça você mesmo. É mais importante você poder expressar esse sentimento genuíno, seja de raiva, seja de alegria ou o que for, eu acredito mais nisso do que me preocupar com uma técnica ou jeito de fazer, ou imitar alguém, isso dai não ta com nada, a graça toda do underground que Violator faz parte a graça é essa, se virar como pode, não se preocupar com padrões, a gente mesmo saber criar, isso ai recado que quero deixar.

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