Metal Voice: entrevista com Luiz Grind, vocalista da banda A Place For Me

Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de bandas de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até os mais técnicos, com total enfoque na questão vocal.

No quadro de hoje conversaremos com Luiz Grind, vocalista da banda A Place For Me.

A Place For Me é uma banda de Deathcore/Post Hardcore formada em Araraquara – SP em 2018. Atualmente a banda é formada por: Luiz Grind e Pedro Elliot nos vocais, Felipe Claro na guitarra, Amauri Soares no baixo e Rafael Oliveira na bateria.

Roadie Metal: Para começarmos nossa entrevista, diga-nos como começou sua relação com a música? Tem alguma primeira lembrança marcante?

Eu nasci em 86 então fui criança nos anos 80 e 90, peguei uma época em que a informação não era tão visceral quanto hoje, porém as pessoas tinham o costume de colecionar discos e fitas K7 eu gostava muito de ficar ouvindo os LPS e vendo os encartes. Os que eu mais gostava quando era criança era um LP do A-Ha e uma fita k7 que era uma coletânea com vários clássicos do Rock dos anos 50, só me lembro que tinha um coelho branco na capa, desde então sempre me interessei por música.

Roadie Metal: Muito interessante! Já que a relação com a música é antiga, por que decidiu ser vocalista? Algo em especial te despertou maior interesse?

Quando você é criança tem sempre alguém que você quer ser, seja um herói, um ator, um jogador de futebol. No começo dos anos 90 a molecada queria ser o Van Damme, o Rambo ou o Romário, já eu queria ser o Axl Rose. Embora eu não escute Guns n’ Roses há um bom tempo, eu tenho um respeito enorme por esta banda! Quando eu via os clipes ou alguns trechos de shows desses caras eu ficava de cara, principalmente com o Axl, ele era um frontman completo, deixava a plateia totalmente focada nele. Eu via aquilo e pensava “eu preciso ser como esse cara” acredito que desde então comecei a almejar ser um vocalista.

Roadie Metal: Quem diria, heim? Axl Rose realmente foi um grande frontman. Além dele, quais suas referências de vocalistas? Tem mais alguém que quando você ouviu, decidiu “também quero fazer isto”?

O Axl pode ter sido o start para eu ser um vocalista, porém quem influenciou muito na forma como eu canto foi o Dani Filth do Cradle of Filth. No final da minha adolescência eu me tornei um viciado em metal extremo e tudo isso começou quando conheci Cradle of Filth, daí já fui para bandas mais extremas e senti a necessidade de fazer este tipo de som. Foi quando fundei minha primeira banda em 2004, o Deafgod, uma banda de Black Metal.

Acho que além do Dani Filth como influência eu posso citar o Corpsegrinder do Cannibal Corpse, o Barney Greenway do Napalm Death e o Phill Bozeman do Whitechapel.

Roadie Metal: Entendi, muito interessante!  Você citou alguns músicos de bandas mais antigas, agora da música mais atual, gosta de algum vocalista da “nova geração” ou prefere mesmo o pessoal da velha guarda?

Na verdade ultimamente o que eu mais escuto são bandas da nova geração, poderia fazer uma lista aqui com grandes vocalistas da nova geração mas vou falar dos que eu mais ouço:

Sam Carter do Architects é um vocalista completo, dos melódicos aos drives; Alex Terrible do Slaughter to Prevail, famoso por cantar músicas Pop com gutural, esse cara é um monstro na minha opinião ele faz o Glenn Benton do Deicide parecer uma criancinha. Já aqui no Brasil nós temos o Gui Chaves do John Wayne que tem uma técnica incrível!

Roadie Metal: Muito boas dicas de músicos e bandas mais recentes, certamente quem está acompanhando a entrevista agora irá atrás para conhecer os trabalhos que você citou. Agora vamos falar de você nos vocais: há quanto tempo atua como vocalista da A Place for Me e qual acredita ter sido o melhor show da banda como um todo? E qual sua melhor performance individual? Por quê?

Apfm é uma banda que surgiu em um estúdio com o fim de outra banda. Eu fui convidado pra gravar os vocais do EP de uma banda chamada HeavenHell em 2018. Durante a gravação do EP resolvemos começar uma nova banda a partir dali, esta banda era o A place for Me e o EP era o Desabafo, nosso primeiro EP que foi lançado em 2019.

O melhor show da banda eu acredito ter sido a seletiva pro MafiaFest em Ribeirão Preto, nós queríamos muito passar naquela seletiva então fomos com tudo e acabamos passando em primeiro lugar e isso conta pra minha performance individual também eu fui com muita vontade para esse show. Muita coisa aconteceu quando entrei na APFM, e eu queria realmente provar que ali era um lugar para mim.

Roadie Metal: Entendi! Queria ter assistido a este show. Vamos falar um pouco de técnica vocal agora: tem alguma técnica que prefere utilizar? O que faz para atingir a performance vocal que considera satisfatória?

As técnicas que eu uso no Apfm são grunt, growl, fry e pig squeal e as vezes eu gosto de misturar Hip Hop em alguns trechos. As técnicas de gutural são técnicas que exigem uma concentração considerável se não você acaba “limpando” a voz no meio de algum verso, o que não seria interessante, pra mim o quanto mais grave e próximo de um esgoto eu conseguir chegar mais satisfeito eu fico.

Roadie Metal: Muito legal compartilhar com a galera as técnicas que você utiliza e que acredita casarem mais com sua voz. Agora, quando falamos de trabalho autoral, falamos também de criação. Não adianta apenas reproduzir bem uma música, tem que saber criar algo legal a ponto de o público querer parar para ouvir e consumir seu trabalho. Sendo assim, por que cantar música autoral e como faz para colocar a melhor nota para construir a melhor melodia para música? É um desafio?

Trabalhar com música autoral é um desafio em todas as partes. Moramos em um país onde é costume ir a shows de bandas cover, principalmente de bandas clássicas, talvez este seja um dos motivos do porque cada vez menos jovens se interessam por Rock no Brasil.

Quando escrevo uma música eu não penso muito na parte técnica e sim em como aquilo vai tocar quem está ouvindo. Acho que se eu não ficar impactado com aquilo não vou conseguir fazer ela chegar ao público mas quando chega é um prazer imensurável, muito mais satisfatório do que tocar Iron Man em um Pub e ver o pessoal fazendo aquele “ôooooo” junto com o riff.

Roadie Metal: Realmente, o trabalho autoral não é fácil e não é para qualquer um. Qual das composições se orgulha mais em ter composto ou ajudado a compor e, no que se refere à questão vocal, qual acredita que tenha ficado ótima e qual delas exige mais de você? Pode ser por técnica, pelo tom, pela respiração, enfim, qual te desafia mais para cantar?

A música Atemporal é um trabalho que eu gosto muito de ter participado. A composição dela surgiu a partir da linhas de voz, eu fui cantando a ideia que tive e o resto foi se encaixando. É uma música que me dá bastante trabalho para cantar ao vivo pois exige muito fôlego. Outra que me orgulho muito de ter participado é a Enxame, a minha parte na composição dela é bem pequena porém como um todo é um trabalho que eu gostei demais de fazer.

Roadie Metal: Muito legal, aliás esta é a faixa nova, vou deixar abaixo para que o público acompanhe. Agora aproveite e fale um pouco mais sobre sua banda: quem é a A Place for Me? Que tipo de som fazem? O que já conquistaram? O que ainda pretendem conquistar? Qual trabalho autoral seu você gosta mais e por que resolveram fazer Rock Autoral? Já que vocês lançaram um single recentemente, fale um pouco sobre ele. Fale também como tudo começou, quando e o que mais quiser falar sobre os trabalhos da banda.

A Place For Me, assim como diz o nome, (“Um lugar para mim”) é uma banda que a gente não se apega muito a rótulos, buscamos criar uma identidade fundindo a influência de cada integrante da banda porém pra nos classificamos como uma banda de Deathcore/Metalcore apesar de ter elementos de outros gêneros como: Nu Metal, Djent, Prog e até mesmo Industrial e Hip Hop.

Fazemos som autoral por puro prazer, como eu disse antes, tanto eu quanto qualquer outro integrante da banda não teria o mesmo prazer em fazer um cover. Se fizermos algum cover vai ser só pra curtir um momento como fizemos da música Scars do I Prevail, mas nosso foco está totalmente nas composições.

Recentemente lançamos uma nova single. Enxame é uma música que tem como tema o tribunal da internet que decide o que é certo e errado e dissemina o caos através das fake news. Para combinar com essa temática a música tem um clima meio cibernético com bastante sintetizador, pra quem quiser conhecer ela está disponível nas principais plataformas e também tem o clipe no YouTube.

Roadie Metal: Agora, para encerrar, quais as dicas você deixa para quem está iniciando na música e, principalmente, para quem quer ser vocalista: o que na sua experiência é importante fazer e quais passos dar para alcançar a melhor performance. Qual mensagem deixa para os músicos autorais? A melhor dica é: seja constante e persistente, estude, veja vídeos, se possível faça aulas. Fazendo aulas com um professor de música você consegue abrir um leque enorme, é como se tirasse o seu limitador. Para conseguir uma boa performance cuide primeiramente da sua saúde, faça exercícios, hidrate-se e alimente-se bem. E pra quem está começando com uma banda agora, faça som, consuma bandas novas, respeite os clássicos mas busque pelo novo e ajude as bandas dos seus amigos, vá a shows, compre merch, curta e compartilhe nas redes sociais, a união faz a força.

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