Metal Voice: entrevista com Renan Zonta, vocalista da Electric Mob

O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de bandas de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até o mais técnicos, com total enfoque na questão vocal.

No quadro de hoje conversaremos com o frontman de uma brasileiras que mais ganhou destaque em 2020, principalmente após o lançamento do seu primeiro álbum intitulado “Discharge” que foi bastante aclamado pelo público e pela imprensa especializada.

Hoje, conheceremos um pouco da vida e carreira de Renan Zonta, vocalista da banda paranaense Electric Mob, e participante do The Voice Brasil 5, um dos reality shows mais importante e conceituado do Brasil e do Mundo exibido pela TV Globo.

Foto: Jony Feller

Roadie Metal: Como você começou a cantar?

Renan: Por livre e espontânea pressão, hahaha! Eu sempre quis ser guitarrista, muito por causa do Iron Maiden, mais precisamente o Adrian Smith. Eu tinha uma banda de colégio na época, com uns 13 anos, e não tínhamos vocalista. Assim, assumi temporariamente essa função – mesmo que muito mal – até que encontrássemos um vocalista de verdade. Fato é que acabei encontrando um guitarrista que era muito melhor que eu. Então convidei o cara pra banda e comecei a cantar.

Roadie Metal: Como você aprendeu técnicas vocais?

Renan: 100% na raça. Eu sempre cantei, mesmo que mal, mas demorei pra começar a desenvolver técnica ou simplesmente levar a sério. Nunca fiz aula de nada, até que em certo ponto meus amigos começaram a dizer que minha voz era “legalzinha”. Tomei isso como verdade e comecei a estudar. Mas uma coisa quando se é autodidata é que você pode demorar mais pra descobrir os caminhos e também acabar pulando etapas ou invertendo ordens fixadas em cursos convencionais. Isso pode ajudar como também prejudicar. No meu caso, aprendi a usar efeitos e “distorções” vocais (como o drive e o phaser, por exemplo) antes de tudo, simplesmente por tentar imitar meus ídolos. Eu ficava o dia inteiro tentando chegar no timbre do Coverdale, do Dio, do Russell Allen e assim acabei aprendendo muita coisa. O segredo do canto é: se dói, se incomoda, tá errado. E é assim que eu estudo até hoje.

Roadie Metal: Quais são suas influências?

Renan: Sou mais influenciado por artistas fora do canto do que do canto propriamente dito. Até porque, quando se é músico/compositor/artista, você para de olhar só pra sua função. Assim, muita coisa me influencia. Agora, falando das pessoas responsáveis por eu me tornar vocalista de rock e cantar do jeito que eu canto é um pouco difícil de diminuir a uma lista. Poderia citar Paul Rodgers, David Coverdale, Ronnie James Dio, Ray Gillen, Sebastian Bach… Esses foram alguns dos que mais me influenciaram na minha formação como cantor de rock/hard rock. Mas, como bom paranaense, tenho um amor incondicional por sertanejo de raiz, muito por culpa do meu avô que, por sinal, é um “segundeiro” de altíssimo nível. Então, também me sobram influências de Xororó, José Rico, Barrerito…

Roadie Metal: Como é a sua rotina de estudos?

Renan: Faço exercícios todos os dias pra “manter a forma” vocal e tô sempre buscando coisas novas. A hora do banho é sempre o momento de eu por em prática o que eu estiver estudando no momento. Quem me conhece sabe que tô sempre cantando, nem que seja baixinho.

Roadie Metal: Como você encontrou o seu estilo de cantar?

Renan: Acho que foi uma coisa natural que veio com o tempo. No começo é normal tentar cantar tudo, ou tentar imitar os ídolos sem muita identidade. Mas a personalidade é algo que se desenvolve com o tempo.

Roadie Metal: Qual foi a maior dificuldade que você encontrou ao estudar canto?

Renan: A maior dificuldade do autodidata é ser autodidata. Demorei mais pra pegar certas coisas e, com certeza, errei mais no decorrer da carreira até me encontrar justamente por não ter um acompanhamento profissional pra me apoiar. Mas, ao mesmo tempo, o fato de ser autodidata me fez desenvolver o lado emocional do canto que é uma das minhas virtudes como cantor.

Foto: Jony Feller

Roadie Metal: Fale um pouco do seu trabalho no Electric Mob.

Renan: O Electric Mob é fruto de um devaneio de quatro jovens músicos que queriam se destacar e fazer algo relevante. Somos completamente envolvidos nisso e toda a nossa alma foi vendida a esse monstrinho que a gente mesmo criou e que hoje é muito maior que nós mesmos.

Roadie Metal: Como você encaixa seus vocais nas composições do Electric Mob?

Renan: Tenho a sorte de ter outros três artistas incríveis ao meu lado que sempre me estimulam e confiam no meu trabalho piamente. Isso me deixa super à vontade pra servir a música do jeito que deve ser. Sobre as melodias e métricas, eu sempre quero algo diferente. Gosto de fugir dos padrões estabelecidos no rock, até porque tenho muitas outras referências além do rock e metal. “Higher Than Your Heels” é um exemplo.

Roadie Metal: Sei que a Electric Mob antes era uma banda cover da noite, o que vocês tocavam?

Renan: A gente realmente fazia um baile rock. Rolava desde Beatles até Arctic Monkeys, passando por Black Sabbath, Red Hot Chili Peppers, Metallica… Somos uma banda muito plural e sempre demonstramos isso nessa variedade de repertório e também nas composições. Conseguimos tocar de tudo mantendo a identidade e é isso que move a banda. Falem o que quiserem sobre nós, mas identidade temos de sobra, hahaha!

Roadie Metal: Você teve outras bandas antes do Electric Mob? Se sim, fale um pouco delas.

Renan: Tive muitas bandas. Toquei batera numa banda de blues rock chamada Blue Dodgers, toquei batera também numa outra de hardcore/punk chamada Seed, toquei guitarra e cantei numa outra de hard rock/alternativo chamada Los Cormanos… Mas a mais relevante, que fez a minha carreira tomar rumo mesmo foi a Supercrow; uma banda de hard rock bem setentista onde eu cantava. Com essa banda participei do Superstar da Rede Globo, que me levou a participar do The Voice no ano seguinte.

Roadie Metal: Como você acha que os covers podem agregar nos estudos de técnica vocal?

Renan: Se levado a sério, tudo agrega. Considero o cover fundamental no começo de carreira. Com o cover você desenvolve presença de palco, variedade de repertório, versatilidade, confiança. Acho uma ótima escola.

Roadie Metal: Quando um cover não se encaixa na sua voz, você o descarta, tenta adapta-lo ou vai na tora?

Renan: Eu adapto tudo. Nunca canto nada igual, inclusive as minhas próprias músicas, hahaha! Eu tenho uma coisa dentro de mim que me faz improvisar sempre. Acho que isso entra no lance da identidade também. Agora, se eu não me sinto confortável cantando tal música, descarto.

Roadie Metal: Você costuma explorar outras técnicas de canto além das que você usa normalmente?

Renan: Sempre! Tô sempre estudando coisas novas pra não estagnar e também pra tentar trazer algo novo sempre que lanço algum material. Por exemplo, sempre fui muito fã de metal extremo e há pouco tempo encontrei os caminhos e os ajustes pra fazer gutural de forma segura. Tem sido o meu foco de estudos ultimamente. Além de melisma, que é uma técnica que eu estudo e tento aplicar 24h por dia, hahaha!

Roadie Metal: Você costuma cantar outros estilos fora do Rock/Metal?

Renan: Muito! Acho que, no dia-a-dia, eu canto mais coisas fora do rock/metal do que rock/metal. Sou muito influenciado por Black Music e Pop e sempre tento trazer essas influências todas pro meu trabalho.

Roadie Metal: Fale um pouco da experiência de participar do The Voice Brasil.

Renan: O The Voice mudou a minha vida e me formou como artista. Eu entrei sendo só um cantor de rock do interior do Paraná e saí como o Renan Zonta. Foi tudo muito louco! Lá eu realmente entendi como funciona o show business, como um artista se porta, como a engrenagem da indústria gira. Foi uma experiência incrível que eu vou levar pro resto da minha vida, junto com todos os amigos que fiz por lá.

Roadie Metal: Você acha que é possível alguém do Rock vencer esse concurso um dia?

Renan: Claro que é possível. Se for um artista que cative o público e que faça as pessoas votarem nele, ele ganha.

Roadie Metal: Como você cuida da sua voz no dia a dia, e quando você vai cantar?

Renan: Tomo cuidado com a minha voz, mas não sou nenhum neurótico. Faço tudo o que manda a cartilha: bebo bastante água, faço exercício vocal e físico, mantenho a minha laringe sempre hidratada, durmo bem, como bem… Coisas básicas pra manter a saúde em geral. Se o corpo está bem, a voz também.

Foto: Jony Feller

Roadie Metal: Você acha que muitos vocalistas negligenciam o cuidado com a voz?

Renan: Acho que esse era um lance mais das antigas quando ainda existia o modo de vida “rockstar”. Hoje a galera se preocupa muito mais com a longevidade da carreira e da saúde.

Roadie Metal: Você já passou por uma situação onde precisou ficar um longo período sem cantar por conta de um problema na voz? Se sim, explique como você passou por isso.

Renan: Nunca tive nenhum problema patológico nem algo do tipo. Logicamente o corpo padece numa turnê muito longa, ou quando se é exposto a condições adversas. A voz também cansa, é normal. Mas um dia de silêncio total, muita água e uma boa noite de sono faz tudo voltar ao normal.

Roadie Metal: Qual a dica você dar para aqueles que têm interesse em começar a cantar?

Renan: Estudem. Cantar é algo lindo e é uma ferramenta emocional pra humanidade, mas, se quiser fazer disso sua carreira, pense que o caminho é longo e que exige dedicação eterna. Os ganhos não vêm da noite pro dia, mas não existe coisa melhor no mundo do que emocionar pessoas com a sua voz.

Foto: Jony Feller
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