Chegamos a mais uma sexta-feira, e hoje é dia de Metal Voice! Este é um quadro da Roadie Metal especialmente criado para quem aprecia e se interessa por canto. Cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de bandas de Rock/Metal entrevistam grandes nomes do cenário metálico nacional e internacional, onde estes contam sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até o mais técnicos, com total enfoque na questão vocal.
Nesta semana, temos uma entrevista mais que especial: Pablo Cardoso, vocalista/guitarrista da banda de Nekros, de Criciúma/SC. A Nekros produz um Heavy Metal com forte influência das grandes bandas de rock e heavy-metal das décadas de 70, 80 e 90. Pablo carinhosamente nos concedeu este bate-papo, quando a banda comemora 20 anos de estrada! Vamos lá?
Roadie Metal: Apresente-se e apresente sua banda.
Eu sou o Pablo, vocalista, guitarrista, compositor, entre outras coisas, do Nekrós, banda de metal de Criciúma-SC, fundada em 2001. Desde muito cedo curti rock e me envolvi com bandas, não foi algo passageiro, como acreditava a família, heaha.
Roadie Metal: Conte-nos, de onde surgiu a ideia de “ser vocalista” em uma banda de Rock/Metal, foi intencional ou foi por oportunidade?
Aconteceu naturalmente, não foi algo pensado. É comum que alguém que aprenda a tocar violão também cante as músicas, isso meio que já traça um caminho, acredito.
Roadie Metal: Você já se aventurou em outras praias – outros estilos -, ou, o Metal é a sua única morada?
Minha primeira banda, o Repteis, tinha muito punk rock no repertório, porém quando passou a compor, já mostrava o estilo que iria predominar. Tanto que para marcar de vez esse estilo, o metal, fundamos o Nekrós.
Escuto outras coisas sim, mas se tratando de composição, são apenas o rock pesado e suas variações.
Roadie Metal: Dentro do seu universo musical, quais foram as principais vozes que lhe incentivaram a encontrar e definir o seu próprio estilo?
Posso dizer que durante muito tempo da minha vida não apreciei os bons vocalistas. Eu simplesmente gostava das bandas e por consequência, gostava do vocalista. Vou dar como exemplo o Kiss, vamos considerar a formação original, o melhor vocalista, mais técnico, é o Paul Stanley (imagino que poucos conscientes discordem) mas pra mim ele ficava atrás do Gene e do Ace, porque eu não costumo me apegar à técnica vocal, mas ao “conjunto da obra”, portanto eles me agradavam mais que o Paul. Gosto muito do Kurt Cobain, do Phil Anselmo, do James Hetfield, prefiro o Black Sabbath com o Ozzy, entende? Agora, em relação à definição do meu estilo, o lado melancólico do Warrel Dane, Sanctuary/Nevermore, me pegou de uma maneira que não tem como negar a influência. Porém, preciso fazer aquilo que consigo e me sinto bem em fazer, e isso imagino que será uma busca que terá a duração da minha carreira.
Roadie Metal: A Nekrós é uma banda clássica em nossa região, conhecida por mesclar muitas nuances em sua música, criando uma unicidade sonora. Além do que, lembro-me bem de que um EP da banda entrou pros anais da História do Metal por ter uma música com o “maior nome” já visto (risos). À época, isso foi inovador, ao mesmo tempo que um pouco cômico, quando se tinha que citar o nome da música. Como, de onde vem essa “originalidade” da banda, tudo é elaborado ou é mais instintivo?
Certamente você deve estar falando de “O lado negro da face escura da morbidez humana“, heahaeha. O nome da música veio antes da própria, e lembro até onde eu estava quando pensei nele, o porquê, eu não lembro. Com certeza tem um toque cômico aí, é reflexo do que somos realmente. Já o lado melancólico, triste, sério, que também aparece nas músicas, é o que queremos transparecer, o que soa bem aos nossos ouvidos.
Roadie Metal: Quando você compõe as letras para a Nekrós, você já pensa em como irá soar cantando, ou, vice-versa, vai cantarolando e procurando as palavras?
Primeiro faço uma “pré-melodia”, depois escrevemos uma letra. Dificilmente sai disso. O que também ocorre é o ritmo da música induzir um tema, como foi o caso de Exodus, do álbum A Candle in the Dark, onde a levada ao ritmo de baião, sugeriu uma letra abordando a migração de nordestinos para São Paulo.
Roadie Metal: Outra pessoa escrever o que você irá cantar te atrapalha de alguma forma? Existe essa “liberdade” de escrita por parte dos outros integrantes?
Lembro que já tivemos essa experiência, o Camelo escreveu uma letra e adaptamos para uma música, Blank Slate, se não me engano. Encaixamos essa letra numa melodia que eu já havia feito, então tanto a melodia quanto a letra, sofreram grandes modificações até ter um resultado aceitável. Confesso que não é das tarefas mais agradáveis, pelo menos para mim. Grande parte da dificuldade está em não fazermos as letras na língua materna, mas cantar em português muda o estilo para algo não desejável pela banda.
Roadie Metal: Você mantém alguma rotina de ensaio de voz, de treino, fora os ensaios da banda em conjunto?
Houve um período que sim, durante e logo após consulta com uma fonoaudióloga. Mas aos poucos fui relaxando novamente, mantendo apenas o aquecimento antes das apresentações.
Roadie Metal: Como você tem se mantido ocupado em meio essa (m**) de pandemia? Você tem mantido a voz em treinamento contínuo?
Infelizmente a pandemia me levou o resto do tempo que eu já não tinha. Minha atual função de direção escolar, que se iniciou justamente em 2020, me obriga a uma dedicação quase exclusiva e o pouco tempo que sobra tento gastar com algum lazer.
Roadie Metal: você ainda estuda e busca técnicas que ainda não domina, para incremento em seu vocal?. Você mantém cuidados com a voz, do tipo, aquecimentos, evitar álcool, entre outros?
Como respondi anteriormente, o tempo é limitado. Tenho prestado mais atenção nos grandes vocalistas, mas estudar, não exatamente. Desde o início da pandemia não tive ânimo para cuidar da voz, pois praticamente não usei.
Roadie Metal: Alguma técnica diferenciada, de autoria sua?
Estou evoluindo, ainda muito preocupado em acertar, me encontrar. Nos últimos anos tenho recebido, com maior frequência, comentários positivos sobre o meu vocal após as apresentações, isso é motivante. Não acredito que eu tenha desenvolvido alguma técnica, espero algum dia chegar a esse nível (hehehe).
Roadie Metal: Falando em Nekrós, temos conhecimento de que o novo trabalho já está em andamento (com atraso da pandemia). O que você pode nos deixar de spoiler?
Realmente, já estamos há um bom tempo trabalhando em algo novo e a pandemia, com certeza, atrasou muito nosso trabalho. Paramos de ensaiar e era justamente nesses momentos que tomávamos importantes decisões. Posso adiantar algo sim, vamos colocar duas músicas que ficaram de fora do álbum A Candle in the Dark por problemas na gravação. Pretendemos lançar esse novo álbum com sete músicas, sendo uma instrumental. De maneira geral terá músicas mais complexas, mais bem trabalhadas. Estou bem empolgado para ver o resultado.
Roadie Metal: Sabemos que, vindo da Nekrós, teremos um novo trabalho que irá sem dúvida surpreender a todos. Como foi esta nova experiência, de composição, após tantos anos?
Teve maior participação do grupo nas composições. Também nos preocupamos mais com o vocal, para poder reproduzir tranquilamente ao vivo aquilo que faremos em estúdio. Estamos testando maneiras de desenvolver nosso trabalho, considerando as dificuldades em relação ao tempo de cada integrante, locomoção e também a parte financeira, claro.
Roadie Metal: Dentro do seu trabalho, você sente que de alguma forma “evoluiu” com o seu instrumento (voz), ou procura manter-se dentro de um padrão único?
Sim, a banda como um todo está prestando mais atenção ao vocal, isso tem sido de suma importância para minha evolução. Como falei anteriormente, tenho recebido comentários positivos sobre meu vocal. De forma alguma pretendo manter um padrão. Caso isso ocorra, não será por minha vontade, heaha.
Roadie Metal: Pablo, foi um imenso prazer ter-lhe recebido neste quadro, o qual carinhosamente você compartilhou sua vida conosco. Agradeço em nome dos fãs da banda e dos bangers que acompanham a Roadie Metal. Deixe sua mensagem!
Espero que toda essa história de pandemia termine logo ou pelo menos fique num nível aceitável para que possamos continuar nossos projetos e voltar a fazer shows. Ainda não tive oportunidade de experimentar minha nova configuração de pedais ao vivo e estou ansioso para isso. Agradeço essa grande oportunidade, foi um prazer igualmente imenso participar deste quadro. Responder a essas perguntas, foi reviver um pouco dos 20 anos de Nekrós. Obrigado aos fãs e aos bandas companheiras, em breve estaremos “na estrada” novamente.
Formação Atual:
Pablo Cardoso (guitarra e vocal)
Patricio Junior (bateria)
Leandro Camelo (Baixo)
Robson Brigido (guitarra)
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