Texto redigido por Jéssica da Mata
O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de bandas de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até o mais técnicos, com total enfoque na questão vocal.
E hoje, conheceremos um pouco sobre a carreira de Heron Ribeiro, vocalista das bandas AshBürn e Lifeforce. A conversa dele realizada com a redatora Jéssica da Mata vocês podem acompanhar a partir de agora.
Roadie Metal: Primeiramente se apresente Heron.
Heron: Sou Heron Ribeiro, vocalista das bandas AshBürn e Lifeforce. Canto desde que me entendo por gente, já fui vocalista das bandas Meio Expediente, Nina e The Devils.
Roadie Metal: Conte-nos como você se tornou um vocalista.
Heron: Inicialmente eu tocava flauta doce e piano, mas um dia uma professora do ensino fundamental (Prof. Margareth), me escutou cantando e me colocou para cantar na frente de toda a escola durante uma festividade. Me vestiram com roupas coloridas e uma cartola (bem estranho, eu sei haha), cantando a abertura da novela “Kubanacan” (que era a febre do momento), e “Enrosca”, originalmente cantada por Fábio Jr, mas na versão recém lançada de Sandy & Junior. Diferente do esperado os alunos não transformara aquilo em alguma forma de bullying, nas verdade gostarem e elogiaram bastante. Desde então não parei.
Roadie Metal: Quais são as suas principais influências?
Heron: Meu primeiro contato com o metal foi com Andre Matos, na época do Shaman, então ele está no topo. Tempo depois conheci o Angra, com Edu Falaschi na voz, e anos depois o Thiago Bianchi ao entrar para o Shaman. Eu diria que esses 3 são as maiores influências, pois além de excelentes vocalistas são brasileiros, então houve uma identificação quase imediata. Outras influências importantes são Rob Halford, Freddie Mercury e Os Três Tenores (Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras).
Roadie Metal: Como você aprendeu a cantar?
Heron: Depois da apresentação na escola eu comecei a tentar por conta própria, mas sempre ficava preso para alcançar determinadas áreas da voz. Um dos meus professores de História, Prof. Joelson, me levou para o Coral da Universidade do Espirito Santo, que é regido pelo Maestro Cláudio Modesto. Depois de um tempo fui para o canto litúrgico, onde pude desenvolver técnicas líricas que foram base para o inicio para cantar Power Metal. Anos depois pude fazer aulas com a professora Wanderleia que é minha professora até hoje.
Roadie Metal: Quais técnicas vocais você utiliza?
Heron: A maioria são voltadas para apoio, emissão/projeção, ressonância e percepção sonora. Essas são básicas para compreensão do que está sendo feito, sendo a última a mais importante e difícil para vocalistas que não são instrumentistas. Com o conhecimento dessas áreas é possível conhecer a própria voz e ter um maior controle sobre ela. A voz é o instrumento mais difícil de se ter domínio, pois não é algo que basta apertar as teclas, é necessário um bom ambiente, estar com a saúde física e psicológicas em dia, enfim, uma junção de fatores que fazem ser bem complicado. Fora do vocal mas necessária, foram aulas de teatro, que pude fazer graças a projetos sociais desenvolvidos pela escola em que estudei, isso ajudou e ajuda bastante para ter noção de como se portar e apresentar em um palco.
Roadie Metal: Como é a sua rotina de cuidados com a sua voz? E quando vai cantar?
Heron: Eu devo admitir que sou bastante preguiçoso, amo cerveja e umas caipirinhas, mas naturalmente durante o meu dia eu faço aquecimentos vocais e vocalizes. Se estou lavando louça ou praticando exercícios, em quase todas as situações estou cantando ou sibilando algo (pode ser irritante para alguns haha) Nas semanas das apresentações e gravações não tomo bebidas alcoólicas, não como comidas pesadas ou lanches (seja antes dos shows ou muito tarde antes de dormir, já que podem provocar refluxo), também me exercito com frequência, seja correndo ou pedalando. Mas como eu disse, fora desses períodos de show e gravação eu prefiro fazer a dieta do “Comer e beber o que contribui para minha alegria” haha
Roadie Metal: Você acha que para ser um vocalista de Rock/Metal é necessário ter algum tipo de talento nato?
Heron: Acho que vou iniciar uma polêmica haha. Não acho, na verdade até dis- cordo de alguns quanto a necessidade de estudo e técnica vocal para exercer a função de vocalista. Eu encaro o Rock e o Metal como gêneros que, embora hoje sejam mais técnicos, para fazer é necessário amar. Amando o gênero, natural- mente, você vai buscar desenvolver a melhor forma de se entregar a ele. Exis- tem vocais que cantam de forma magnifica mas passam zero emoção, zero carisma e são apenas técnica e, do outro lado, temos vocalistas que são deficientes no quesito da técnica mas sobra na parte da entrega e carisma, o que acaba por atrair o público. Então eu acho que o ideal é a balança entre os dois. A técnica não pode sobrepor a interpretação e o oposto também, é necessário um equilíbrio.
Roadie Metal: Você já teve algum problema na voz que o deixou um período sem cantar? Se sim, fale um pouco a respeito.
Heron: Eu sofro com desvio de septo, se não bastasse eu tenho sinusite crônica. Então são duas coisas que me detonam. Sempre que atacam eu procuro algum médico de confiança, que trabalhe com outros vocalistas, e tomos os medicamentos e cuidados necessários. Eu sou um completo adepto da ciência e da medicina, sem qualquer negacionismo haha
Roadie Metal: Você acha que muitos vocalistas negligenciam o cuidado com a voz?
Heron: Eu não estou em posição de julgamento haha, mas acredito que sim. Tenho muitos amigos vocalistas que exageram na bebida e outros, não se alimentam bem, não dormem bem, não praticam exercícios, fazem nada para tentar um certo equilíbrio, daí quando sobem no palco não conseguem se apresentar com toda a potência e presença que poderiam. Eu não julgo o uso de qualquer substância, desde que não prejudique o cotidiano do profissional, mas infelizmente alguns exageram e acabam tendo sérias complicações para realizar suas atividades. Acabam não tendo cuidado com aquilo que dizem amar fazer, chega a ser irônico.
Roadie Metal: Quais dicas você pode deixar para os vocalistas iniciantes ou aqueles que se inspiram em você?
Heron: Eu diria para acreditarem, não desanimarem e para estudarem aquilo que querem desenvolver. São três pontos muito difíceis, infelizmente a música é uma profissão que exige TUDO de você, exige tempo, exige sacrifícios e o retorno nem sempre é proporcional. Então é necessário sonhar para ter novas metas, mas ter os pés no chão para ter estratégias e não viver uma mentira em auto abuso.
Roadie Metal: Você canta outros estilos além do Rock ou Metal?
Heron: Como disse anteriormente tem o canto lírico, mas canto tudo do popular. Sou fã de música, então não consigo ficar “engessado” a gêneros, afinal vivemos em um mundo extremamente rico com as mais diversas culturas. Não sou religioso, mas digo que seria um pecado capital não ter a curiosidade de buscar tentar entender, compreender e aprender parte de cada uma. O desenvolvimento humano para prosperidade das sociedades depende disso, da compreensão e não atrofiamento do cérebro.
Roadie Metal: Caso queira, deixe suas considerações finais.
Heron: Bem, gostaria de agradecer a Jéssica da Mata, e a toda da Roadie Metal por esse espaço. Aproveito para convidar todos para conhecerem os meus traba- lhos nas bandas Lifeforce e AshBürn, garanto que vão gostar bastante. Abraços a todos!
Conheça as bandas de Heron Ribeiro:
Lifeforce: https://www.facebook.com/lifeforceheavymetal https://www.instagram.com/lifeforcemetal/
AshBürn: https://www.facebook.com/ashburnofficial https://www.instagram.com/ashburnofficial/