Metal Voice: entrevista com Gabriel Bonilha, vocalista da banda Vulcane

O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de bandas de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até o mais técnicos, com total enfoque na questão vocal.

No quadro de hoje conheceremos um pouco da história e da carreira de Gabriel Bonilha, vocalista da banda Vulcane e criador do canal do YouTube Monstro Vocal. Em dezembro de 2020 Gabriel, lançou seu EP Live solo “Like A Monster” com influencias de Dark Country e Grunge, onde ele expõe um lado mais obscuro que passou nos últimos anos com letras pesadas e melancólicas. Gabriel também participa de um grupo de Southern Rock e Grunge chamado Coyotes, onde é vocalista e violão base, fazendo covers e futuramente autoral.

Roadie Metal: Conte um pouco sobre como você começou a se tornar um vocalista.

Gabriel: Sempre fui péssimo em esportes e na escola, mas desde os 11 era fascinado por Slipknot, lembro a primeira vez que ouvi Wait And Bleed, tava de pijama pronto pra dormir e meu irmão tinha baixado pela internet discada, demorou uma semana pra poder ouvir, comecei a me debater e tentar cantar em inglês tudo errado… era inocente não sabia que aquilo estava me representando, passei a ouvir mais e mais, por influências de amigos conheci bandas novas.

Passou o tempo decidi montar minha própria banda, tinha ganhado uma guitarra do meu irmão, enfim a primeira tentativa foi em um ensaio, como sou péssimo em tudo, não deu outra a galera já disse: “Larga essa guitarra e tenta cantar” foi assim por acaso, peguei gosto pela coisa, ainda sim não deixava de ser horrível, mas coloquei na minha mente que pelo menos nisso eu tinha que treinar e ficar bom!

Roadie Metal: Como você aprendeu a cantar?

Gabriel: Tentativa e erro, sério eu ralei muito, nos 5 primeiros anos ainda sentia dores perdia a voz, mas gradativamente isso foi passando, não porque eu tava me acostumando mas sim eu estava desvendando meus ídolos, era fascinado em ver os caras ao vivo em entrevistas e tentar copia-los, daí surgiu a origem do quadro Desvendando Vocal do meu canal.

Lembro uma vez que vi Avenged Sevenfold no SWU em 2011 pelo YouTube, sou de família humilde, nunca tive grana até trabalhar pra ir em shows, lembro de ver pela tela o Mat Shadows no auge dando aqueles Screams, eu me via lá, único cara que usava um boné pra trás que nem eu, enchendo a plateia de energia, foi insano comecei a tentar imita-lo. Lembro de olhar pro espelho e falar pra mim mesmo, eu vou alcançar esse cara… foi assim na determinação caçando informações nos buracos da internet, muito vírus no Pc e força de vontade!!!

Roadie Metal: Quais são suas principais influências?

Gabriel: São várias mas as principais: Mat Shadows (Avenged Sevenfold), Corey Taylor (Slipknot), Layne Stanley (Alice in Chains), Phil Anselmo (Pantera e Down), Shawter (Daboga), Dave Williams (Drowning Pool).

Roadie Metal: Como é a sua rotina de treino vocal?

Gabriel: Meus treinos são bem simples, busco trechos de músicas que preciso treinar gatilhos, repito eles por um tempo que acho necessário, treino resistência também agora que canto e toco violão, passo horas tocando e cantando.

Já técnicas novas eu busco referências e exploro minhas estruturas vocais, aqui é o treino mais difícil, sair da zona de conforto poucos encaram, é uma terapia pra mim, na real uma lição de vida, nunca tô confortável, acho que vou passar a vida me aprimorando.

Roadie Metal: Como e por que você escolheu o seu tipo de vocal?

Gabriel: Sempre fui um cara intenso, sempre curti gritos cheios com melodias maiores, distorções potentes, coisas que sinto que engrandecem a alma. Quando tô no palco sinto que uma força me domina me torno completo e intimidador, ali é minha batalha.

Por 5 anos fiz cover de Pantera e DOWN, me comparavam demais com o Phil Anselmo nessa época, então eu não queria viver na sombra de ninguém assim comecei a buscar sonoridades minhas, eu sempre tive meu negócio, um grito meu, que eu misturo com as técnicas, é bizarro sempre esteve comigo só fui aperfeiçoando e mostrando ele cada vez,dá pra perceber algo gradativo desde a Stoned Bulls até o EP da Vulcane é possível sentir, algo único evoluindo…. minha personalidade sei lá…. mas já melhorei ele de novo, cada dia que passa eu tô me encontrando cada vez mais, isso me torna vivo!

Foi testes e testes, até hoje continuo mas o que tento fazer é deixar o meu Vocal cada vez mais um espelho do que sinto, só assim acho que as pessoas vão compreender o que passa na minha cabeça, são coisas que não dá pra explicar, só sentindo pra sacar… enfim colem em um show pra ver!

Roadie Metal: Sei que você explora outros tipos de vocais no seu canal do YouTube (Monstro Vocal), mas além disso, você explora outras técnicas que ainda não sabemos

Gabriel: Boa pergunta! Sim sem dúvida, tipo a caixa de Pandora muitos mistérios, no mundo Vocal tem muita coisa é um infinito de possibilidades, muita coisa nem catalogada é, são estudos muito recentes. Não posso revelar, porque tenho que ter certeza do que estou falando, não quero colocar em risco ninguém, sempre o lobo mais velho vai na frente pra não colocar a matilha em risco, levo isso a sério

Roadie Metal: Você fez do seu amor pela música o seu trabalho como professor de canto e o seu canal no YouTube Monstro Vocal, como chegou nesta ideia?

Gabriel: Compaixão, essa é a palavra chave, faço o que não fizeram por mim quando comecei, tudo sozinho é complicado e frustrante, tudo começou com um vídeo de Drives onde eu estava ensinando a técnica pra uma garota que queria cantar nossas músicas da antiga Stoned Bulls…. e olha que engraçado tô dentro de um ônibus indo dar aula pra uma galera da Capital, incluindo a Fernanda Lira maior Front Woman da atualidade.

Eu falo que o que eu passo pras pessoas não é Técnica Vocal e mais que isso, passo esperança, força e fé que o Metal vai dar a volta por cima, e eu tô recrutando novos soldados pra essa batalha! E melhorando quem já tá na guerra faz tempo… tem um filme que já vi umas 20 vezes me inspiro muito nele chama-se “Até o último Homem” e tem duas frases que levo comigo: “Se eu não estiver firme no que acredito quem eu sou?” e a clássica “Por favor Deus me ajude a resgatar mais um” e é desse jeito que meu amor pela música é alimentado…eu não vou parar

Roadie Metal: Na sua opinião, qualquer um pode se tornar um vocalista de Metal?

Gabriel: Na minha opinião todo mundo DEVERIA se tornar um Vocalista de Metal, é uma lição de vida, é uma filosofia, é mostrar pras pessoas que tudo é possível quando se tem força de vontade!

Roadie Metal: Quais métodos você utiliza para vocalistas iniciantes?

Gabriel: São métodos criados por mim mesmo, engraçado porque minha metodologia apareceu de maneira espontânea, percebia padrões nas coisas, e como eu sempre tive dificuldade pra aprender, são coisas que só quem sofre com TDAH (Déficit de Atenção) entende, acho que meu ponto fraco virou forte, sempre imagino eu garoto me encarando na aulas tentando entender o que o velho Gabriel tá tentando explicar, mas o velho Gabriel tem respeito e paciência com o garotinho, e com aquele bônus de ser um pateta barbudo que curte fazer piadas ehehehe…

Assim eu desenvolvi o método de gatilhos, são coisas do dia a dia que a gente faz que acessamos a técnica sem perceber, e é dali que eu trabalho com os meus alunos

Roadie Metal: Como você cuida da sua voz no dia a dia? E quando vai cantar?

Gabriel: Cuido da minha saúde fazendo esportes me alimentado direito, hoje me dedico a academia e o MMA, além de tomar muita água pra me manter hidratado, enfim pro tipo de som que executamos energia e resistência é muito importante, faço aquecimentos e exercícios vocais quase diariamente, além das aulas que dou que considero treino também.

Quando vou cantar, faço aquecimentos e busco não exagerar na bebida antes…

Roadie Metal: Você já teve algum problema na voz que o deixou um período sem cantar? Se sim, fale um pouco a respeito.

Gabriel: Já, bem no começo, lembro de uma vez que eu tentei imitar o Corey Taylor na Wait and Bleed, e depois de várias tentativas com muito volume e impostação errada, não saiu nenhuma voz, fiquei rouco por uns três dias, achei que ia perder a voz. Mas com o tempo ela foi voltando, comecei a me policiar mais e mais, dai então me preocupei em buscar as técnicas e ter um cuidado maior com ela.

Roadie Metal: Você acha que muitos vocalistas negligenciam o cuidado com a voz? Principalmente os vocalistas que utilizam a técnica gutural?

Gabriel: Acho, vejo muitos vocalistas famosos até, dos quais ainda persistem na ideia de tudo ser cem por cento feeling, com o tempo a brincadeira fica séria e o preço é cobrado, acredito que ninguém quer passar por uma cirurgia de reparação vocal, mas enquanto não chegam lá esnobam essa ideia de vocal ser algo sério, e tem sim a maneira correta e saudável de se fazer.

Roadie Metal: Quais dicas você pode deixar para os vocalistas iniciantes ou aqueles que se inspiram em você?

Gabriel: Para os iniciantes eu digo, já fui iniciante, já tive medo de errar, já tive medo de ser julgado… a verdade que tudo isso persiste, a diferença é que agora meu ponto de vista é diferente: sem isso não evoluiria, não tem graça, aprecie o erro para buscar o acerto.

Poxa… pra quem se inspira em mim… acredito que veio a cena que citei acima sobre M Shadows… um dia espero que alguém olhe no espelho e diga: “Vou superar esse cara” espero de verdade ter mais pessoas para falar sobre vocal, porque não é legal quando a gente tá sozinho na batalha.

Então não pare, a vida nos deixa longe do que amamos, agarre com força, se você se tranca no quarto e bate cabeça cantando e se divertindo, saiba que você pode inspirar e salvar alguém também, você é importante, você vive a verdade, só que talvez ainda não enxergou, e o mundo precisa ver isso.

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