O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de banda de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até os mais técnicos, com tal enfoque na questão vocal.
Na edição de hoje, conheceremos um pouco da trajetória de Fábio Caldeira, frontman do Maestrick, e que também participa do supergrupo Soulspell, em entrevista exclusiva a qual vocês podem conferir a partir de agora.
Roadie Metal: Quando você começou a cantar?
Fábio: Foi meio natural, porque na minha família, principalmente por parte de pai, todo mundo sempre foi muito musical. Então sempre cresci ouvindo a minha avó, que cantou na música “Penitência”, presente no último disco do Maestrick, sempre a ouvi cantando enquanto fazia as atividades domésticas. Sempre tive esse contato, meu pai tem uma voz sensacional e nunca estudou, meu tio também, minhas tias, então era comum ter música cantada na minha família. Do lado da minha mãe tinha o irmão dela que tocava violão e cantava, aí pedi para entrar no violão quando tinha uns 7 anos, e coincidentemente fui o primeiro da minha família a ter condições de estudar – porque as famílias dos meus pais sempre foram mais humildes, e não tiveram condições de estudar. Aí comecei a tocar violão popular, escolhi o violão popular em vez do clássico porque cantava junto, e eu comecei a cantar nessa época com 7 ou 8 anos de idade. Mas era despretensioso, só cantava para acompanhar. E depois comecei a estudar piano erudito aos 13 anos, e eu sempre tive essa ânsia de fazer o meu som, então no piano comecei a compor. Já tinha formado a minha primeira banda de Rock, mas nessa época eu tocava guitarra, e acho que um dia eu disse “cara, vou cantar na banda” (risos). E a gente tocava Punk Rock, a gente não conhecia o mundo do Rock mais pesado, mas eu gostava muito de cantar. Depois com 15 anos eu formei minha primeira banda de Metal onde comecei a estudar canto, e desde então não parei mais.
Roadie Metal: Quais são as suas influências?
Fábio: Eu sempre gostei muito de Milton Nascimento, que é um cantor que eu ouvia muito quando eu era criança por conta da minha mãe, ouvia muito Ivan Lins, Tom Jobim, e depois que conheci música orquestral – lembro que na época tinha a Revista Caras que tinha umas coletâneas de discos, e eles fizeram dos três tenores, o qual a minha mãe comprou. Então foi uma época que conheci a música orquestral, lembro que tinha uma época dos compositores eruditos, como Vivaldi, e foi aí que tive esse contato com o piano. E a música orquestral sempre foi algo que me encantou muito. E depois quando conheci o Heavy Metal, quando tinha uns 15 ou 16 anos, com um amigo, quando um dia ele chegou com os álbuns “Dawn of Victory” do Rhapsody, o “Angels Cry” do Angra, e o “The Time of the Oath” do Helloween. Então fiquei doido com as misturas que essas bandas faziam, foi a primeira vez que vi esses dois mundos juntos (Metal e Orquestra). Eu diria então que minhas influências são Música Orquestral, Heavy Metal, Rock Progressivo, Trilha Sonora de Filme, amo alguns compositores mais modernos, a exemplo de um norueguês chamado Thomas Bergersen, de música erudita gosto de um compositor francês chamado Camille Saint-Saëns, Richard Wagner, a trindade da música erudita que é Beethoven, Mozart e Bach. E em relação a referências artísticas posso citar o Tim Burton – a gente do Maestrick se identifica muito com a forma dele de fazer arte – teatro musical também, já compus trilha pra essa área. E vocalmente, atualmente Freddie Mercury é uma das minhas principais referências, Bruce Dickinson, Dio, o Roy Khan (ex-Kamelot), e fora do Rock tem o Nat King Cole, inclusive influencio meus graves nele, além deles outros nomes como Elvis Presley, Andre Matos, Michael Kiske
Roadie Metal: Como você aprendeu a cantar?
Fábio: Como te falei, comecei a estudar canto com 16 ou 17 anos, mas na época o estudo era baseado no Bel Canto, que é uma escola de cerca de 500 anos, mas eu tinha dúvidas em relação a certas coisas que vocalistas de Metal e Rock faziam que por ser mais empírico o estudo, na época, isso me deixava muito em dúvida em relação a algumas coisas, mas isso me ajudou a evoluir e a conseguir tudo que eu queria cantar na época. E depois tive um período de tensão antes de gravar o “Unpuzzle”, primeiro disco do Maestrick, e eu gravei o disco bem tenso, minha voz praticamente sumiu, e eu vim estudando dessa forma, isso lá por 2006. Depois disso eu comecei a fazer aula com um professor de São Paulo chamado Rafael Barreiros, na época lecionava e o “Slipt Level Singing”, que era uma técnica que estava bombando na época. Então estudei essa técnica com ele por uns quatro ou cinco anos, fiz algumas Masterclass com alguns gringos, e aí conheci o Ariel Coelho, que faz uns 12 anos que estudo com ele. E estou dizendo isso porque meu estudo é voltado para a parte fisiológica, trabalho como se fosse uma academia, todo dia trabalho um músculo vocal diferente dependendo da técnica. Eu quase parei de cantar em 2006 por conta dessa insegurança que eu tive, mas então pensei que tudo que acontece com a gente na vida a gente pode considerar como uma maldição ou como uma benção, e eu falei “pô, é isso que eu gosto de fazer”. Então comecei a estudar 2 horas por dia todos os dias. Hoje, nos dias que estou cansado eu estudo no mínimo 1 hora e meia por dia, mas eu sou muito disciplinado, então sempre posso eu estou estudando, estou pesquisando. O estudo é eterno, você sempre tem que está atualizando.
Roadie Metal: Como você encontrou o seu estilo de canto?
Fábio: Olha, canto popular! Às vezes eu flerto com o canto erudito, principalmente quando preciso fazer algo meio sarcástico, então nessas horas eu flerto com a postura do Bel Canto, que é a laringe mais baixa, mas normalmente uso canto popular. Mas eu não me prendo a uma técnica só, até porque tem muito a ver com a questão de mercado. Na verdade eu procuro entender o que acontece fisiologicamente, e aí você ver que muitas vezes existem os métodos que funcionam, mas há a tentativa de reinventar a roda, eu procuro entender o ajuste muscular e tentar reaplicar isso.
Roadie Metal: Conte um pouco sobre o seu trabalho no Maestrick.
Fábio: Eu vinha com o Montanha (baixista) de outras bandas, e nós precisávamos de um baterista, isso em 2005 e 2006. E aí conhecemos o Heitor (Matos, baterista), fizemos o primeiro ensaio e vimos que ele era o cara que estávamos procurando, e nesse primeiro ensaio a gente já começou a compor, foi bem bizarro, rolou uma energia muito legal. Embora a gente fosse muito novo ainda, a gente já tinha experiência de banda e de composição, então decidimos que iríamos fazer o disco do nosso jeito e ver o que a gente poderia trazer. Então surgiu a ideia do Maestrick, embora o nome na época ainda não existisse, o nome era Ramsey II naquele tempo, que era uma outra banda que a gente tinha com outro projeto e outras músicas. Quando Heitor entrou a gente manteve o nome até acharmos o nome Maestrick, mas o Maestrick já começou ali por conta do conceito. A nossa ideia é a união de diversos estilos musicais, diversas formas de expressão artística, e fazer isso de forma espontânea, usando quem nós somos e o que nós somos, e apresentar isso de forma coerente. Nós sempre trabalhamos com histórias, e as vezes as histórias tem pontos de realismo fantástico, ou pontos surrealistas, ou pontos mais concretos, e nós temos todo um figurino, uma apresentação de palco, muitos shows a gente fez com elenco teatral fazendo algumas cenas. Nossa ideia é apresentar um espetáculo, como um show teatral. O Rock tá ali, claro, mas diria que a arte é a nossa linha principal. Dentro disso o Heavy Metal é uma das influências, a música erudita, a música brasileira, a World Music, então a gente está aberto, contanto que seja espontâneo. Então essa é a proposta da banda, ser plural e ser espontâneo.
Roadie Metal: Como você encaixa os seus vocais nas composições do Maestrick?
Fábio: Normalmente eu componho os vocais tocando, tem músicas que já vem quase inteiras na cabeça de cara. A gente não costuma fazer o instrumental primeiro. Claro, as vezes vem a ideia de um riff, mas como as melodias são praticamente a minha parte, e eu digo isso porque é uma parte que me esforço muito para que fique da forma que eu sinta que fique melhor, mas claro, todo mundo decide junto no final. Mas eu costumo cantarolar e as melodias vem na cabeça, e a gente vai lá e acha os acordes, harmoniza em cima disso. Mas é muito natural. As vezes os caras tocam alguma coisa e eu vou improvisando, normalmente fica muita coisa, e fica bem espontâneo e natural. Aí há os arranjos de Contracanto, as harmonias paralelas e tal, só que esse é um segundo momento, mas as melodias vêm dessa forma.
Roadie Metal: Como está a situação do “Espresso Della Vitta: Lunare”?
Fábio: A gente está finalizando a pré-produção, e a ideia é começar a gravar o quanto antes. A pandemia atrasou tudo, então não vou falar data, porque a gente tinha planejamento que acabou mudando. Então a gente vai gravar o disco esse ano, mas dependendo de como for, de repente seja interessante lança-lo no início do ano, mas fica pronto esse ano. Mas se iremos lançar em 2021 ou em 2022… Só que se a gente lançar ano que vem será em janeiro. No mais, a gente está muito feliz com as músicas.
Roadie Metal: Como você entrou no Soulspell?
Fábio: Foi natural pra caramba! O Heleno (do Vale, baterista do Soulspell) foi convidado para o coquetel que fizemos de lançamento do “Espresso Della Vita: Solare”, organizado pelos nossos parceiros do Som do Darma, e ele foi. Trocamos ideia por lá, e lembro que quando o Soulspell fez os primeiros concursos, eu estava bem inseguro em relação a minha voz e acabei nem participando. E eu chamei o Heleno para lá porque queria trocar uma ideia, conversar com ele, e tal, e ficamos muito amigos, foi muito legal porque o santo bateu completamente. Lá ele me levou vários presentes do Soulspell, e depois o convidei para vir a minha cidade (São José do Rio Preto/SP). Ele ficou por aqui, jantou, e tal, tínhamos acabado de chegar da turnê da Europa, e então ele me convidou para assistir a gravação do DVD do Soulspell, e eu fui. E engraçado, juro que não houve interesse nenhum de chamá-lo para me oferecer, e se ele julgar que eu tenho algo acrescentar, show de bola, mas se não, tudo bem, ganhei um amigo. Então ele me chamou para participar da música “Faster” (Within Temptation), que já estava fechada, ia ser o (Victor) Emeka e a Talita (Quintano). Aí ele falou “vou te por em um trecho ali”, e foi minha primeira participação. E depois fiz outras coisas, como o cover de “March of Mephisto” (Kamelot), os pianos de “Frozen”, e assim, o principal foi que fiquei amigo do Heleno, depois participei do show tributo a Andre Matos no Araraquara Rock. Foi algo muito natural, acho que tem muito a ver porque eu e o Heleno somos muito tranquilos, e entendemos que o que importa é o melhor do todo, não só do individual.
Roadie Metal: Qual a diferença do trabalho que você faz no Soulspell com o que você faz no Maestrick?
Fábio: No Soulspell eu faço participações, coisas já pensadas pelo Heleno, então eu entendo a ideia e faço o meu melhor. No Maestrick eu sou uma das mentes criadoras. Até o momento só fiz tributo com o Soulspell, não houve momentos de composição, no máximo rearranjos. A diferença é essa, no Soulspell eu faço participações já pensadas, e no Maestrick é algo feito por quatro pessoas. O Maestrick é a minha família, o Soulspell está se tornando minha família, já que a Talita (Quintano) também está cantando com a gente no Maestrick. São dois universos distintos, eu diria.
Roadie Metal: Então podemos considerar a Talita Quintano uma integrante oficial do Maestrick?
Fábio: Posso dizer que sim, ela é uma prioridade quando formos gravar o “Lunare”, e dos shows também. Mas quando você fala “membro oficial” a gente tem um pouco de resguardo, porque por exemplo, tínhamos dois guitarristas no primeiro disco, que depois decidiram sair. E é complicado porque você tira as fotos, tem toda a questão de definição de imagem da banda, chegamos a ter outro guitarrista que também decidiu sair. Agora a gente colocou um guitarrista oficial e tiraremos fotos com a formação oficial, mas também temos a formação ao vivo, a nossa ideia inclusive é efetivar um tecladista, que quase estamos fazendo isso, que eu gosto muito dessa parte de orquestra, de regência, e aí queria um cara que entende mais dessa parte de sintetizador, de solos, seria uma coisa a mais para acrescentar pra banda. Mas podemos dizer que a Talita é uma integrante oficial para as apresentações e para as gravações.
Roadie Metal: Como é a sua preparação antes de cantar?
Fábio: Cara, pra gravação e pra shows, principalmente shows seguidos, eu sempre procuro treinar o meu físico, porque esse fôlego que você precisa vem de uma condição metabólica. Se você treinar a musculação de forma certa, você vai melhorar, vai criar ramificações nos vasos sanguíneos. O exercício físico contribui muito para a qualidade da voz, como já faço o trabalho técnico todo dia, eu também procuro fazer esses exercícios. E antes de cantar, antes de gravar, com essas bases faço os aquecimentos, tenho acompanhamento de uma fono, faço exercícios, eu me cuido muito, faço inalação com soro fisiológico, com água, e me cuido o máximo. Pra mim o gelado não funciona, se eu tomar gelado me contraio muito rápido, então perco agilidade e extensão, com isso eu procuro só tomar natural. São coisas que percebi ao longo dos anos que me ajudam.
Roadie Metal: E como é o cuidado com a voz no dia a dia?
Fábio: Bom, eu não falo alto, procuro dormir bem, e não comer tanto excesso, não sou tão chegado em bebida alcóolica, me alimento bem para controlar possíveis refluxos, não como carne vermelha, o que acaba contribuindo para que eu não tenha problemas de gastrite, de refluxo, de azia, e afins. E faço exercícios diários, mas claro, tem dias que eu preciso descansar, mas ainda assim algumas coisas de vibração, mas coisas pontuais para não acabar fadigando. E o principal, não parar de estudar, porque tem muita novidade rolando, as vezes algo que era uma verdade absoluta amanhã não é mais, você precisa ter a humildade de admitir que não sabe tudo. Quanto mais a gente estuda mais a gente ver que não sabe, e acho que isso é a melhor coisa que a gente pode fazer.
Roadie Metal: Qual o seu recado para aqueles que querem começar a cantar?
Fábio: Bom, querer algo já significa muita coisa, porque a gente não costuma querer nada por acaso, mas se você quer cantar, procure. Esqueça aquilo de “pra cantar tem que nascer chorando afinado”, se você assim eu não cantaria hoje. O canto é resultado da sua vontade, mas também é resultado de estudo, para você entender como seus músculos vão se comportar. Não pense “minha voz não é pra isso”, já me falaram muito isso, e por fim cai por água. Acredite naquilo que você tem de verdade, porque normalmente você está ouvindo o seu coração falar. Não duvide de você, tenha influências e use-as ao seu favor, vai muito pelo conforto, pense bastante também pelo momento técnica, se você não consegue cantar uma música agora não significa que você nunca vai conseguir cantar ela, significa que você precisa entender o que está fazendo de errado e estudar para entender o mecanismo. Aí você canta e pensa “acho que pro meu estilo isso aqui não vai rolar”, está bom, você tentou, não se bloqueei, e sempre com o suporte de um profissional. Felizmente a gente tem hoje em dia muita informação e conteúdo para desenvolver as coisas da melhor forma possível. Siga o seu coração, não tenha medo de errar, e você vai errar pra caramba, mas o erro é bom, porque ele vai te mostrar o que você precisa fazer, e eu sou a prova viva disso, se eu conseguir, qualquer um consegue.
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