O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de bandas de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até o mais técnicos, com total enfoque na questão vocal.
No quadro de hoje conversaremos com Erick Jones, vocalista recifense que desde 2017 está a frente dos microfones da banda pernambucana de Metal Progressivo Phrygia, tendo gravado com eles o EP homônimo do grupo lançado em 2019. Atualmente, o grupo está em processo de produção do primeiro álbum.
Em conversa com o redator Renan Soares, Erick contou um pouco da sua história, e detalhes da sua carreira de vocalista, que pode ser conferido a partir de agora.
Roadie Metal: O que te fez começar a cantar?
Erick: Eu sempre fui fã de Hard Rock por influência do meu pai que sempre curtiu bandas como Guns, Bon Jovi, Simply Red, entre outras. Algumas vezes me pegava cantando alguns desses clássicos e esse foi um gatilho para que eu iniciasse a primeira bandinha de garagem chamada Road In Flames – banda de Hard Rock que fazia tributo à Bon Jovi – aos 16/17 anos.
Roadie Metal: Como você aprendeu técnica vocal?
Erick: Inicialmente eu estudei aproximadamente 2 anos no João Pernambuco (Escola de Música localizada no Bairro da Várzea) no qual estudava canto coral. Foi onde eu comecei a estudar com regularidade, aprendendo a introdução à teoria musical e solfejar as primeiras melodias. Posterior a isso, eu também estudei técnica vocal com Daniel Moura (Vocalista da Ultima Formação do Silent Moon). Formávamos grupos de estudos, e ele me direcionava para o canto mais voltado ao Heavy Metal. Por sinal, Daniel Moura, como bem também, Daniel Pinho (Terra Prima), eram os caras que estavam em evidência em Recife, e talvez frontman das únicas bandas de Metal Melódico que conseguiu ganhar notoriedade em Pernambuco e que a galera até hoje lembra!
Roadie Metal: Quais são suas principais influências?
Erick: No meio Metal eu curto muito caras como Nando Fernandes, Russell Allen, Michael Vescera, Fábio Lione, André Matos, Edu Falaschi, entre outros. Já olhando uma ótica fora do Metal, nomes como Mick Hucknall (Simply Red), Bryan Adams, Whitney Houston, Ed Motta, Bon Jovi, Kenny Loggins. Eu poderia escrever milhares (risos).
Roadie Metal: Como você encontrou o seu estilo de cantar?
Erick: Até hoje, eu acredito que não achei ainda meu estilo. Sinto mais confortável fazendo uma coisa aqui, outra ali, mas a definição, eu acredito que ainda preciso adquirir muita maturidade pra conseguir definir o que mais encaixa no estilo. Eu parei 5 anos com bandas por conta de faculdade/pós e essas coisas… E isso me fez cair bastante de produtividade na música. Eu brinco com os amigos que eu estive na escuridão esses 5 anos (risos). Talvez se não tivesse parado, eu teria uma resposta mais concreta.
Roadie Metal: Você explora outros estilos de canto (drive, gutural, lírico, ou outros)?
Erick: Eu estudo há pouco tempo Drives, aproximadamente 2 anos, e sabemos que ele possui várias vertentes, mas técnicas como Drives supra glóticos, Phaser Voice, Power Creaky Voice, Growling entre outros subgêneros dos Drives, está no repertório de estudos e de músicas que costumo cantar. E sobre os outros estilos, o Metal já tem essa veia Lírica. Meu professor atual é Cantor Lírico (Tenor Lucas Melo) então, eu costumo falar que a gente populariza o lírico (risos).
Roadie Metal: Como é a sua rotina de estudos vocais?
Erick: Eu costumo praticar ao menos 2 vezes na semana no mínimo. Exercícios como aquecimento vocal, vocalizes, técnicas isoladas, ornamentos vocais, e até a teoria que tanto nós deixamos de lado. Sim, teoria para saber a forma didática certa para executar cada técnica. Entender a psicoacústica da voz vai fazer com que você se conheça mais e entenda seus limites, e até corrija possíveis execuções erradas.
Roadie Metal: Você costuma cantar outros estilos além do Rock/Metal?
Erick: Canto na noite com uma banda de Pop/Rock, com um repertório que vai do Bon Jovi ao Flashdance, dai você pode imaginar (risos). O que eu busco? Versatilidade!
Roadie Metal: Fale um pouco do seu trabalho na Phrygia.
Erick: A Phrygia foi a banda que me descobriu no meio de pilhas de projetos e obras (risos). Me resgatou e me trouxe novamente para o meio musical. Somos uma banda de Metal Progressivo = não sei se continuará rotulado assim após esse próximo álbum (risos) – mas é uma banda que está me fazendo investir muito em qualidade vocal, resistência e versatilidade. Eu acredito muito no trabalho, e isso só tem a acrescentar na minha história como vocalista.
Roadie Metal: Como você encaixa os seus vocais nas composições da Phrygia?
Erick: No processo atual do novo álbum nas composições, os guitarristas Marcílio Cabral e Dayvson dos Santos trazem as ideias melódicas para a voz e Madjer Santos (baterista), que é o letrista da maioria das composições, geralmente se atenta em iniciar o processo temático e dissertativo da música e eu fico com o papel de ajustar a melhor forma de execução.
Roadie Metal: Você cantou em outras bandas além da Phrygia no âmbito autoral? Se sim, fale um pouco delas.
Erick: Passei pouco tempo em uma banda chamada Morphose. A banda não gravou nenhum trabalho, mas tinha tudo para ser uma banda nacional de qualidade. Fora a Phrygia, não houveram outras com maior relevância.
Roadie Metal: Como os covers te ajudam a desenvolver o seu vocal?
Erick: As palavras são resistência e versatilidade. É uma construção! Se eu fosse depender de shows de Metal, eu só estaria estudando e me preparando para shows que variam de 3 a 4 meses. Se você não tem uma rotina constante de execução daquilo que você estuda ou estudou, você começa a perder rendimento, desempenho e experiência de palco. Isso sim conta muito!
Roadie Metal: Quando vocês escolhem uma música para tocar, e a mesma não encaixa na sua voz, vocês a descartam, tentam adapta-la ou vão na tora?
Erick: Puxado essa pergunta hein? (risos). Geralmente eu tento me adequar a música, mesmo que seja modificando as características originais. Não saindo feio, está tudo certo. Mas eu já descartei muita música por conta da modificação ficar extremamente fora do contexto original.
Roadie Metal: Como você cuida da sua voz antes e depois de cantar?
Erick: Água, muita água. Aquecimento vocal 30 minutinhos antes dos shows. Evito falar alto e falar muito durante o dia. Não como alimentos gordurosos, não abuso de bebida, procuro dormir muito bem antes do show e logo após o show, desaqueço a voz, e continuo me hidratando.
Roadie Metal: Quais cuidados você tem com a voz no dia a dia?
Erick: Nos dois últimos dias antes de show, eu corto líquidos gelados, procuro não me expor à poeira, e evito ficar muito tempo em lugares com ar condicionado muito intenso.
Roadie Metal: Você já passou por situação onde você precisou ficar sem cantar por conta de algum problema na voz? Se sim, como você lidou com isso?
Erick: Garganta inflamada por conta de exposição á poeira, ou mudança de clima. Precisei ficar uns 3 dias sem cantar e tive que colocar um sub para executar um show na banda de tributos.
Roadie Metal: Você acha que muitos vocalistas negligenciam o cuidado com a voz?
Erick: Sim. Acredito que não é simplesmente berrar. Acredito que se o vocalista busca uma longevidade na sua carreira, ele precisa abrir mão e muita coisa. Temos vários nomes da música, que perderam 60,70, 80% da sua capacidade vocal.
Roadie Metal: Que dica você dá para quem tem interesse em começar a cantar?
Erick: Primeiro de tudo, é você entender suas limitações. Após compreender isso, você precisa buscar ajuda para saber se as limitações que você listou podem ser vencidas. Tudo exige dedicação, estudo e determinação. Assim como um acorde de teclado, guitarra, entre outros instrumentos. Buscar uma ajuda de um professor é bem válido, mas eu entendo que nos dias de hoje, o investimento é relativamente alto, quando você se depara com todo o custo de equipamentos e meios que façam você de fato ser levado a sério como vocalista. Mas eu defendo a teoria! Eu acho que se você compreender bem a forma teórica de como uma técnica é executada, você pode achar meios de treinar “sem lesionar”. Mas o auxilio do professor pode trazer uma maior propriedade e rapidez no desempenho.