O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por redatores do site, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de banda de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até os mais técnicos, com tal enfoque na questão vocal.

E hoje, a nossa conversa será com o tenor Drake Chrisdensen, vocalista da banda Ruins of Elysium, a qual vocês poderão conferir a partir de agora.

Roadie Metal: Como surgiu o seu interesse em ser vocalista?

Drake: Eu fui uma criança muito cantora, por assim dizer (rs). Acho que a memória mais antiga que tenho da minha aproximação com o canto foi com os filmes da Disney. Na minha cabeça, se todo mundo cantava durante a vida cotidiana naqueles filmes, então deveria ser assim no nosso mundo real também. Lembro de cantar até pra coisas mais bobas, como pra pedir um bichinho de pelúcia ou brinquedo que eu gostava, por exemplo.

Roadie Metal: Como você aprendeu a cantar?

Drake: Comecei no coral da escola aos 12 anos. Minha vida toda eu ouvia que mandava bem nos karaokês e, bom, resolvi acreditar. Daí eu passei pro estudo do canto popular e, posteriormente, erudito, que foi onde mais me encontrei.

Roadie Metal: Quais são as suas principais influências?

Drake: Costumo brincar que minha primeira “diva” foi o Freddie Mercury e ele é até hoje. Morten Harket, do A-Ha, também foi uma grande inspiração. No erudito, além dos imortais Luciano Pavarotti, Mario Del Monaco e Franco Corelli, diria que o Jonas Kaufmann é minha maior influência devido à similaridade dos nossos registros vocais. Ele é aquele cara que eu observo tudo que ele faz porque temos a mesma classificação vocal e quero chegar onde ele chegou e vem chegando. No rock, além do eterno Freddie, Alfred Romero, Roy Khan e Andre Matos são grandes influências. Outros que aprecio muito o trabalho e tiro inspiração são Josh Groban e Ramin Karimloo.

Roadie Metal: Como é a sua rotina de estudos vocais?

Drake: Tudo começa com preparação corporal. Alongamento, massagem, tudo que possa aumentar a consciência corporal e afastar o pior inimigo do cantor: a tensão. Eu sou um cara muito ansioso e fico tenso muito facilmente, então essa é minha preocupação maior enquanto me preparo. Uma rotina de exercícios físicos é importante para obter esse conforto muscular na hora de cantar e, claro, pra fortalecer a respiração. Não existe canto sem uma boa emissão e sustentação de ar! Malho cinco vezes por semana e danço Stiletto duas vezes ou até mais quando tenho oportunidade, além de aula de bateria duas vezes por semana também. Costumo separar a preparação em três etapas: respiração, aquecimento e colocação de voz. A terceira etapa é a mais técnica no sentido de observar onde a voz está soando e o tipo de resposta que o corpo está me dando com relação às notas que tento fazer, as músicas que tento cantar. Para isso, faço uma série de vocalizes e escalas, além de cantar árias de óperas que me ajudem em um ou outro ponto específico, sempre tomando por referência os grandes cantores que citei acima. Perceba que não estou dizendo pra imitar uma ou outra voz, afinal, cada voz é única! Mas observar as técnicas que auxiliam na produção do som com maior qualidade e saúde é o primeiro passo para entendê-las e, se for o caso, aplicá-las em nós mesmos.

Roadie Metal: Fale um pouco do seu trabalho no Ruins of Elysium.

Drake: Ruins of Elysium se destaca por ser a única banda a contar com o vocal de um Tenor erudito como única voz principal. Isso não foi feito antes e ainda não é, mesmo em bandas onde se utiliza a voz lírica masculina essa vem acompanhada de uma feminina. No entanto, como tenho um amplo estudo na técnica de belting (a utilizada para os musicais. O estilo da Broadway, por assim dizer), trago isso para as nossas músicas de forma a deixar o trabalho mais dinâmico e versátil.

Roadie Metal: No Ruins of Elysium você faz algo bem pouco comum se tratando de metal, que é usar vocal lírico masculino, por que você acha que isso é tão pouco explorado?

Drake: Eu tenho algumas teorias. Percebo que o Heavy Metal cobra uma imagem e posição do homem que é muito peculiar. Nos é exigida uma atitude agressiva, quase caricatural da masculinidade extremada….algo que vai totalmente no oposto da sensibilidade e dramaticidade da ópera e do canto lírico. Temos grandes cantoras eruditas que escreveram e escrevem seus nomes na história do Heavy Metal, mas percebo que ainda existe uma resistência quanto a um homem utilizando essa técnica justamente por romper com uma imagem de virilidade que, sinceramente, não faz sentido nenhum.

Roadie Metal: Você já teve (ou tem) outros projetos fora o Ruins of Elysium?

Drake: Já cantei em algumas bandas, óperas e trabalho como Tenor no grupo de casamentos e eventos Bel Canto. Também sou professor de técnica vocal. No momento, Ruins Of Elysium é meu único projeto.

Roadie Metal: Como você encaixa o seu vocal nas composições do Ruins of Elysium?

Drake: Como eu sou o compositor principal, creio que as coisas andam juntas nesse sentido. Os vocais já vem “encaixados” porque eles estavam na minha cabeça enquanto eu escrevia as músicas. Quanto a aproximações com diferentes estilos, isso depende da hora da gravação. Ás vezes uma perte pede algo mais “rasgado” ou agressivo. Outras, o lírico vai dar um impacto maior que o belting. Costumo dizer que as peças vão se encaixando naturalmente.

Roadie Metal: Você explora outros estilos de canto?

Drake: Sim! Além do canto erudito, passei um bom tempo estudando o estilo belting. Me mudei pra Nova York em 2017 pra poder estudar com as preparadoras dos grandes musicais da Broadway, Liz Caplan e Marishka Wierzbicki, e foi uma experiência incrível. Uma técnica ajuda bastante na outra, são muito mais próximas do que se imagina.

Roadie Metal: Para estudar canto lírico, é necessária uma dedicação maior do que quando se estuda canto popular?

Drake: Eu diria que sim, mas não por uma questão de superioridade de uma técnica em relação à outra. Temos que ver que o canto lírico é mais “formal” e te dá menos liberdade de performance do que o popular, o que pode ser bem frustrante, já que a execução tem que ser feita de maneira muito mais fixa à forma. Além disso, as classificações e divisões entre tipos vocais, que são tão fundamentais no canto erudito, não existem no canto popular. É importante saber se você é um Tenor Lírico ou um Tenor Dramático na hora de interpretar um papel em uma ópera e nesse sentido, existe bem mais liberdade no belting/popular.

Roadie Metal: Você canta estilos fora do universo do Rock e Metal?

Drake: Sim. Como canto em um grupo de casamentos e cerimônias, estou acostumado a a cantar um pouco de tudo. Até pagode já cantei em um casamento, acredita? haha

Roadie Metal: Como é a sua preparação antes de cantar?

Drake: É quase a mesma preparação diária. Diria que um pouco mais leve, afinal, se eu cansar enquanto uso todo potencial vocal como faço em um estudo, não vai sobrar voz pra hora da performance. Sinto que uma voz pesada, escura e, ainda assim, aguda, como a minha, demanda um pouco mais de preparação e aquecimento, mas posso estar enganado.

Roadie Metal: Como é o cuidado com a sua voz no dia a dia?

Drake: O refluxo é o pior inimigo do cantor, então eu preciso tomar cuidado com esse inimigo em especial. Além das atividades físicas regulares, presto atenção no que eu como pra não piorar o quadro. Bebo muita água durante o dia e corro de fumaça/fumantes. Presto atenção na minha respiração sempre e na posição da minha larigente para me acostumar a deixá-la abaixada o mais tempo possível, importante normalizar certos comportamentos para a musculatura.

Roadie Metal: Você acha que muitos vocalistas, principalmente no Rock e Metal, negligenciam muito o cuidado com a voz?

Drake: Não sei se apenas no Rock e Metal, mas infelizmente é verdade. Tenho amigos queridos e extremamente talentosos que exageram no cigarro e me deixam super preocupado com a saúde deles. Da mesma forma, tenho outros que tratam sua voz como o bem mais precioso que eles tem. Maus hábitos como fumo, sedentarismo e até desidratação existem em todos os estilos, mas o Rock/Metal é o estilo que mais nos cobra justamente pelo volume e agressividade que algumas músicas pedem.

Roadie Metal: Você já passou por algum problema na voz que te impediu de cantar por um período?

Drake: Nunca aconteceu de eu não conseguir cantar, mas algumas vezes eu tiro um regime de voz para poder deixar alguns maus hábitos pra trás. Umas “férias” por assim dizer, mas nada muito longo. É importante para retornar às performances trazendo somente o que o corpo e a musculatura já assimilaram como “bons” para emissão.

Roadie Metal: Qual a dica que você dar para aqueles que querem começar a cantar?

Drake: Digo para todos os meus alunos que não acredito em talento. Sim, algumas pessoas tem mais facilidade e afinidade, mas isso não define quem vai se dar bem ou mal no canto. Acredito em estudo e dedicação. Se tiver uma afinidade, bacana, o caminho é um pouco mais rápido, mas no fim das contas a diferença pesa pro lado de quem se dedicou. Outro ponto: tenha certeza que, quando você começar a cantar, vão querer te parar. Não ache que não vai acontecer, porque vai! E não é porque você “canta mal” ou não “tem talento” pra isso, mas porque subir em um palco e cantar é algo que demanda coragem. Música é arte, canto é arte e arte é auto-expressão, logo, expressar seus sentimentos e verdades através da música é algo mais do que sublime. A questão é que, embora esse “palco” tenha espaço para todos nós, nem todos tem a coragem para subir nele e cantar…logo, é mais fácil puxar os que estão lá do que subir e soltar a sua voz. “Se todo mundo é medíocre, então ninguém é”. Cuidado com as pessoas que tentarão silenciar a sua voz porque não tem coragem de soltar as vozes delas e a sua coragem lembra a elas do quanto são covardes.

Roadie Metal: Há algo não mencionado na entrevista que você queira adicionar?

Drake: Gostaria de agradecer pela oportunidade! Quem se interessar em aulas/dicas e quiser entrar em contato, minhas mídias sociais estão à disposição. Forte abraço a todos os futuros cantores e cantoras.

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