O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de bandas de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até o mais técnicos, com total enfoque na questão vocal.
No quadro de hoje conheceremos um pouco da história e da carreira de André Nigoski, vocalista e guitarrista da banda paranaense Macumbazilla, um dos principais nomes da cena pesada paranaense. Atualmente, a banda tem um EP e um single lançado, onde nas músicas eles mostram um som bem pesado, com vocais cheios de drives feitos por André.
Para falar um pouco da sua trajetória como cantor, André Nigoski concedeu entrevista para o redator Renan Soares, a qual vocês irão conferir agora.
Roadie Metal: Quando você começou a cantar?
André: Oficialmente meu primeiro “cargo” de vocalista foi em 1993, em uma banda cover do Sepultura que tive junto com meu irmão e o Antônio, do Imperious Malevolence. Mas esses dias estava fuçando em fotos de família e achei uma foto minha com uns 8 anos cantando em alguma coisa, não consigo lembrar o que (risos).
Roadie Metal: Como você aprendeu a cantar?
André: Não aprendi ainda! (risos) Mas como eu comecei a entrar no mundo do vocal foi através da famosa falta de opção, não tinha ninguém para gritar os Sepultura no ensaio, e acabei fazendo, o pessoal achou que rolava de boa, e acabei começando ali. Foi meio na raça, na base do grito.
Roadie Metal: Quais são suas influências?
André: Esse é um tópico que pelo menos eu considero muito subjetivo. Durante toda vida ouvi várias obras e vários cantores, tenho meus favoritos, mas creio que sempre aprendo alguma coisa diferente com todo som que me atinge de alguma maneira, seja a métrica das melodias, ou como mesclar o uso de vozes, construção de letras e assim por diante. Mas alguns vocalistas que sempre me impressionaram sempre, foram o Chuck Billy do Testament, por causa do drive rasgado, Johnny Cash pela métrica e construção de letras e o Corey Glover do Living Colour por praticamente tudo que ele faz.
Roadie Metal: Sua voz cantada lembra muito a do James Hetfield, vocalista do Metallica, isso foi algo intencional ou foi mera obra do acaso?
André: Metallica é uma referência relativamente nova pra mim, eu achava o drive do Testament e do Slayer mais minha cara, como citei na resposta anterior. Tanto que das primeiras vezes que comentaram que achavam minha voz parecida com a do Hetfield, eu achei meio estranho. Fico lisonjeado com a comparação, ele é um dos maiores vocais de Metal do mundo, mas foi obra do acaso.
Roadie Metal: Como você encontrou seu estilo de canto?
André: Eu não encontrei meu estilo ainda, mas para cada trabalho que fiz de vocal, achei uma identidade para aquele determinado som. E geralmente o processo para achar o vocal do som que estava fazendo era o básico de ouvir e cantar em cima para uma maneira de contribuir mais com o som em questão.
Roadie Metal: Como é a sua rotina de estudos vocais?
André: Essa resposta é aquela que fico com vergonha. Não tenho uma rotina de estudo, fiz aula por um breve período em 2015 e só, mas como eu trabalho com música, e em várias bandas, sempre tive um volume grande de shows, logo a rotina de ensaios e shows acabava sendo o próprio estudo. Mas eu estou fazendo errado!!! Você que está lendo isso, não faça como eu! Busque um professor!!!
Roadie Metal: Você explora outras técnicas de canto?
André: Sim! Eu faço parte daquela porção de músicos que vivem de música, para isso, tenho projetos cover também. Logo, preciso trabalhar mais de um estilo de canto.
Roadie Metal: Você teve dificuldades para conseguir por mais agressividade na sua voz quando canta?
André: Aconteceu de maneira natural, ao longo do tempo, não posso te dizer que tive dificuldade.
Roadie Metal: Fale um pouco do seu trabalho no Macumbazilla.
André: O Macumba é um trabalho que sai orgânico, no começo muita gente reconheceu automaticamente como stoner, mas temos uma influência muito forte de outros estilos como algumas bandas 90 e metal, é um Crossover. Sempre com aquele espirito visceral, fazemos o som que fazemos, não temos ideia de seguir alguma formula ou nada do gênero.
Roadie Metal: Como você encaixa seus vocais nas composições do Macumbazilla?
André: Geralmente quando estou compondo as linhas de guitarra, já sai alguma coisa no solfejo né?! Dai pra frente é ladeira abaixo. Depois que a parte instrumental da música está completa, sento e começo a rever linhas de vocal. Mas muita coisa acaba sendo alterada nas pré-produções, ou até na sessão de gravação de voz mesmo, pelo fato de estar ouvindo o como a música está soando de uma maneira mais próxima ao final.
Roadie Metal: Você teve outros projetos além do Macumbazilla? Se sim, fale sobre eles.
André: Tive sim, além de vários projetos cover, tive algumas bandas autorais que lançaram materiais. Nos anos 90 fui baixista de uma banda local chamada Prankish, que chegou a ganhar prêmios da Rock Brigade e coisas assim, tivemos 2 discos lançados. No começo dos anos 2000 trabalhei com o A.M.F, uma banda de metal, que pode ser considerada nu metal, na pegada de Machine Head e afins, como baixo e vocal. E também gravamos dois álbuns, mas não chegamos a lançar o segundo oficialmente. Como vocal, trabalhei com uma banda chamada Voduck também, uma pegada mais hardcore experimental em português. E na mesma época do começo do Macumbazilla estava trabalhando com o Machete Bomb, porém como baixista.
Roadie Metal: Como você cuida da sua voz no dia a dia? E quando você vai cantar?
André: Como eu tinha te respondido anteriormente, esse é o tipo de pergunta que me lembra que eu deveria me cuidar mais. Não tenho um ritual para a voz diariamente. Geralmente era o fato de usar todo dia que mantinha ela sendo “treinada”. Quando vou cantar e sinto que a garganta está cansada, ou estou fazendo o segundo show do dia, faço alguns aquecimentos que aprendi com um fono. E não tomo água gelada, pode estar 50 graus no palco.
Roadie Metal: Percebo que você usa bastante drive na voz, quando você canta ao vivo, você utiliza esse drive do início ao fim da apresentação, ou tentas dosar entre as músicas?
André: Com o Macumbazilla eu tento fazer 100% da entrega! Quando subo no palco, é hora da gritaria. Lógico que se você está vindo de uma semana puxada de shows e tudo mais, acaba dando uma segurada, mas eu sempre tento tratar como se fosse o último show, para entregar tudo que posso, tenho a sensação que o som do Macumba tem muito de feeling, sentimento e não me sentiria sincero se não colocasse o som com a agressividade que ele carrega.
Roadie Metal: Pelo drive ser uma técnica que se usada de forma errada pode ser muito prejudicial para a voz, qual dica você dar para aqueles que tiverem interesse, possam aprender a fazer de forma mais segura?
André: PROCUREM UM PROFESSOR!!! Quando comecei a cantar não existia uma corrente especializada em Rock, era tudo muito precário e por sinal até hoje em dia não me considero um vocalista, sinto que sou mais um músico que canta por acaso (risos). Já nos dias de hoje, temos excelentes professores, voltados ao estilo, volta e meia penso em fazer aula!!! Mas das poucas aulas que tive e de comentários em conversas com amigos da área, vi que vários chegaram ao seu drive, tentando achar um lugar onde ele não machuca, que foi o processo que usei instintivamente.
Roadie Metal: Você costuma cantar outros estilos além do Rock/Metal?
André: Até meus trabalhos cover são voltados ao rock, mesmo que de outras vertentes. Mas acaba rolando uma ou outra coisa no meio.
Roadie Metal: Já aconteceu de você ter um problema na voz que o deixou sem cantar por um longo período? Se sim, fale-me um pouco desse momento.
André: SIM!!!!! Em 2016, fiquei afônico por mais de um mês, resultado de Refluxo, algo que várias pessoas têm, e pode prejudicar muito a voz. Até hoje tomo remédios e estou buscando tratamento para ver a possibilidade de resolver o problema.
Roadie Metal: Qual dica você dar para aqueles que querem começar a cantar?
André: Vão em frente!!!! Cantar ajuda a lidar com emoções e tudo mais! É importantíssimo procurar aula de canto, sendo que hoje temos muito mais professores e escolas que são voltadas ao Rock.