O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por redatores do site, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de banda de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até os mais técnicos, com tal enfoque na questão vocal.
E na edição de hoje, a conversa será com a cantora pernambucana Maríllia Lzzy Costello, ex-vocalista das bandas Subinfected e Dark Grimorium.
E antes de iniciarmos precisarei contextualizar uma situação aqui. Como essa quadro exige que cada redator que faz parte do mesmo publique uma entrevista uma vez por mês, para não ter nenhuma dor de cabeça na Hora H eu sempre coleto as entrevistas com meses de antecedência para garantir uma boa frente de postagens.
No caso da entrevista de hoje, a mesma foi coletada em meados de abril, quando Maríllia ainda era vocalista da Dark Grimorium. Mas, infelizmente, entre a coleta e a publicação ela e a banda se separaram, e por isso, precisei fazer alterações no texto, principalmente em perguntas que eram referentes ao projeto em questão.
Tendo tudo isso explicado, vamos para a entrevista:
Roadie Metal: Como você começou a cantar?
Maríllia: Bem, Primeiramente(de certa forma [risos]) vou considerar o meu primeiro choro ao chegar nesse mundo, (Querendo ou não foram as primeiras vibrações de minhas cordas vocais)… O quando do começar para ser específica em relação a tempo não sei bem ao certo, porém, veio junto a minha vinda, de certa forma logo quando nasci. A música em si sempre permaneceu ao nascer e ao crescer e continuará assim ate o último de meus dias…
Roadie Metal: Como você aprendeu a cantar?
Maríllia: Desde pequena sempre ocorreu aquela brincadeira de ouvir e repetir/imitar independentemente da música. E digo com convicção que o aprendizado é constante – o estudo, a técnica, 0 respeito vocal , intervalos, descansos , aquecimentos – há quem aprenda com o tempo como eu, que procurei estudar logo após de já estando nos palcos e fazendo shows com a minha primeira banda. De certa forma recorri a estudos e melhorias. E eu digo a todos “todo pokémon evoluí”(risos), basta esforço, estudo e prática. Tem gente muito ignorante em relação a voz, tem gente que nem tem o mínimo cuidado e muito menos respeito com a própria voz e ainda acha o foda. De foda não tem nada, vai além de irresponsabilidade.
Roadie Metal: Quais são suas influências?
Maríllia: Se eu começar a citar e listar não terminarei nem tão cedo (risos). Assim como a vida, sou uma caixinha de surpresas, aqui tem de tudo, da mais belas sinfonias e atos de Beethoven, Bach, até o funesto e cadavérico Mayhem e Dark Funeral, por exemplo. A lista é longa, sério. Mas não posso deixar de mencionar o primeiro contato musical, a primeira ouvida. Fui criada com vó de certa forma, portanto os discos dela eram minha maior companhia de quando nasci até os 10/12 anos, me recordo da primeira voz que ouvi, Yma Sumac, Yma foi o primeiro fascínio. Depois conheci Erna Sack, Robin, Maria Callas e outras divas, e também muita árias e sinfonias. Aos 12 anos, apesar de já conhecer rock (minha vó tinha LP do Queen sim viu gente [risos]), o gosto foi se aprimorando. Peguei gosto também com minha mãe com coisas oitentistas, Darkwave, Synthpop. Goth Rock e tals. Aos 13 conheci Black Sabbath, Therion, Mercyful Fate e “um moi”. Aí só foi ladeira abaixo (risos).
Roadie Metal: Sei que você canta limpo, gutural e lírico. Essa versatilidade foi intencional?
Maríllia: Foi tudo acidente, juro, foi tudo uma tremenda tragédia (risos). Brincadeiras a parte, tem gente que me conhece através do lado extremo, do vocal bruto que creio que irá se surpreender por não ter ciência dessa informação, mas é isso aí meu caro eleitor, nem sempre cantei feito ” dinossauro” (risos). Resumindo, comecei com limpo. lírico, e tentativas de drive. E em seguida, o gutural.
Roadie Metal: Nas bandas em que você participou, como você encaixava a sua voz nas composições?
Maríllia: Primeiramente há um processo de criação onde grande parte de composição já foi premeditada, ocorre automaticamente certos encaixes. E ótimo é que mesmo em processo de criação há a mentalidade mútua, há esse troca de energia muito interessante entres as cinco cabeças, não há complexidade. Há sim a sintonia que torna tudo de forma natural, para alguns um dom para outros, talento. Claro que cada um tem a sua versatilidade musical e técnicas das mais variadas, cada um tem o seu diferencial e sua personalidade.
Roadie Metal: Fale um pouco dos outros projetos que você teve antes da Dark Grimorium.
Maríllia: Primeiramente comecei aos 12/14 anos, convenhamos que a primeira banda nessa idade era de Goth Rock/Synthpop/Pós-punk. Em seguida tive um projeto Celtic/Folk/Symphonic/Pagan metal (esse projeto foi engavetado) e recebi proposta de uma chamada “Prophetycus” (não sei se está correto o nome). Em seguida, recebi convite para uma de metal sinfônico e afins. (Não vingou Portanto, au revoir haha). Quando resolvo tirar da gaveta o meu projeto e tocar pra frente. Recebo o convite para ser frontwoman da Subinfected, depois Sceptic Angel, até chegar na última, a Dark Grimorium.
Roadie Metal: Apesar de cantar em uma banda de metal extremo, sei que você também tem o seu lado “Symphonic Metal”, fale-nos um pouco disso.
Maríllia: Aquele lado B do disco que quase ninguém sabe (risos), quase segredo de estado. Porque antes de cantar metal extremo, eu cantava limpo e lirico. Pouquíssimas pessoas presenciaram isso. Comecei aos 12/13 nos palcos e hoje me vejo em constante evolução. De pirralha que cantava Synthpop/Goth Rock até os dias de hj no Black-Death. Mas entre esses dois gêneros citados, houve esse meu encontro com esse gênero que é até apelidado de Metal Sirens ou o bendito rótulo de Gothic metal(crianças, não misturem o tema com a sonoridade, há diferenças entre o “Gothic Metal” com o “Symphonic Metal”) portanto isso fez parte de um geração na qual até hoje é marcada. E te confesso que era algo altamente inevitável, pela nascença de mulheres a frente, de representatividade, foi o estímulo, a coragem e o tesão de muitas naquela época. Resumindo em relação a pergunta. Sim, tenho esse lado, denominarei de Lado A , porque ele habitou muito antes do vocal extremo/gutural. Há uma versatilidade de certa forma, ocorreu foco, estudos e práticas, e por ter esse campo, é necessário respeitar intervalos de uma voz para outra. Quem sabe futuramente voltarei e demonstrarei. Porém, nunca se sabe.
Roadie Metal: Como é a sua rotina de estudos vocais?
Maríllia: Anteriormente á pandemia, bastante frequente. Claro com shows, trabalhos, apresentações frequentes e assim por diante, era hábitos que nunca foram burlados. A rotina era severa, dos cuidados ao aquecimento. Já hoje em dia, perante Pandemia, te confesso que relaxei, relaxei bonito , não vou mentir, se antes fazia 3/4 vezes por semana, atualmente uma vez por semana. Edigo que esse relaxamento vai acabar…
Roadie Metal: Como você se prepara antes de cantar?
Maríllia: Mediante a shows e gravações tem que rolar aquela preparada pelo menos uma semana antes, pois mesmo que relaxe e taque um ‘fofaci’ eu tenho que me respeitar não só como musicista (a voz é um instrumento sim), mas também como artista. A minha voz é meu instrumento, portanto, precisa de afinação, precisa de aquecimento como as cordas de um instrumento. Há técnicas, há treinos, até a temperatura da água já é um diferencial.
Roadie Metal: Quais os cuidados que você tem com a sua voz no dia a dia? E antes de cantar?
Maríllia: Alimentação, evitar estresses e certos alimentos, a temperatura da água não pode ser nada, mais é tudo. Não sou ignorante como muitos que bebem e fumam como a voz fosse melhorar com isso. Não! Não mesmo! Isso é algo que prejudica de forma feiosa, não tendo respeito com a sua voz ele passará a não ter respeito em qualquer ocasião. Dessa forma, ela tem prazo de validade.
Roadie Metal: Como você aprendeu gutural?
Maríllia: Sempre houve tentativa, mas não com seriedade e prolongação. Quando pirralha, assim como todos. ouvia e repetia, mas nunca tive preparação e nem respeito na qual tenho hoje em dia. Aprendi assim como aprendi a ler e a escrever, nas tentativas, nos treinos, nos estudos, nos progressos, nos erros e acertos. Lembrando que o estudo deve ser constante.
Roadie Metal: Gutural é uma técnica que se não for feita da forma certa pode ser prejudicial para a voz, qual a dica que você dá para aqueles que querem aprende-la?
Maríllia: Independente de qualquer canto , todos precisam de cuidados e técnicas, até quem brinca com lírico, se for fazer sem técnica, sem aquecimento e sem jeito, dá merda sim. Qualquer canto isso pode ocorrer. Mas as principais dicas é NÃO BEBA E NEM FUME antes de/a um show ou gravação, sem esse mínimo cuidado, até a temperatura da água, não consumir coisas geladas antes. Sem esse mínimo cuidado a voz tem um certo prazo de validade. Não adianta se sentir foda sem se cuidar e nem respeitar a sua própria voz, ela é instrumento como as cordas de um violão, tem uma afinação, tem um cuidado para não forçar porque se não ele tora. Não adianta você se sentir o fodão ou a fodona se não se cuida. Se bebe e fuma como não fosse interferir e prejudicar o seu empenho vocal, não adianta se titular de Dani Filth ou Nergal achando que foi foda, mas não foi, tem falhas gravíssimas na gravação, ou shows, sempre vai ocorrer falha. Independente do caso, tem gente que não respeita e nem sabe o que é metrônomo ou nunca fez o uso. Desse jeito é complicado e dessa forma sua voz tem a lápide pronta, seja seu próprio agiota se possível. Se corrija, não seja babaca em relação a isso. Necessita de treino, de respeito, de cuidado e estudo.
Roadie Metal: Você acha que existe essa preocupação técnica entre o pessoal que canta gutural?
Maríllia: Existe, poucos, mas sim. Mas sei também que tem muita gente arrogante e taca o foda-se com os cuidados, e isso é a maioria.
Roadie Metal: Você acha que vocalistas em geral negligenciam o cuidado com a voz?
Maríllia: Eu não gostaria de generalizar, porém é a grande maioria. Isso é bem vergonhoso e ridículo, além de que é uma grande comédia quem se acha, fazendo coisas que “fodem” a voz e que é prejudicial como se não fosse nada. Acredito que há a influência de cada área., se eu colocasse numa balança; cantores de forró com quem canta extremo, infelizmente direi que os “forrozeiros” não negligenciam a sua voz como os que fazem extremo. O foda é que o metal é a maior guarda chuva de estilos, modos e técnicas que possam influenciar na voz. Power metal é de um jeito, assim como Black, Death e até o clássico Heavy metal.
Roadie Metal: Nos últimos anos, temos visto surgir várias bandas de metal extremo com vocais femininos, na sua opinião, ao que se deve isso?
Maríllia: Desculpe-me o palavreado, mas isso é foda pra caralho. Sério mesmo, é estimulante, cativante, sem falar no tesão que isso causa. Presenciar isso acontecer de forma crescente e frequente é muito lindo de se vê, apesar de viver em uma sociedade patriarcal e altamente machista. Ainda há muito preconceito, muito Zé Cueca não aceita o espaço que uma mulher pode conquistar, muita gente é cavernosa nesse quesito. Namoral, já deu! Eu poderia citar e dar exemplo das carniças faladas a respeito de uma mulher, tem umas que fazem por onde e fazem jus ao que dizem, mas isso não interfere de forma gradual. Basta ter postura! E profissionalismo.(Se tende a não se respeitar, portanto será uma eterna amadora. Não se respeitar na postura. na conduta e na própria voz). Portanto, ao que se deve pelas influências, o leque é gigantesco e nem sei por onde começar ou citar, mas acredito que aquela onda de bandas Gothic Metal ou Symphonic Metal teve um porcentagem de culpa. Recordo vagamente que todas queriam ser iguais as divas, as Frontwoman. Claro que não foi ou foram as únicas influências. Mas sei que aflorou muito desejo, muito tesão e coragem-estimulo de muita Girl.
Roadie Metal: Para você, o vocal deve se adaptar a música, ou a música deve e se adaptar ao vocal?
Maríllia: Acredito em versatilidade. Há aqueles que sim e aqueles que não. Até quem se especializa/se forma em canto erudito, por exemplo, devem estudar e se habituar em certos atos, em certas sinfonias, e assim por diante ocorre em grande maioria – aos que fazem trabalho autoral – ocorre a sua própria moldura. Até quem se arrisca com músicas que já existem, brincam com molduras/modulações. Ser criativo, e isso é de cada. Em compensação a maioria é que muitos se adaptam a música, e outros porcentos, o inverso.
Roadie Metal: Qual a dica você tem para aqueles que desejam começar a cantar?
Maríllia: Mete a cara, nunca saberás se não tentar. E tente com respeito, a sua voz é um instrumento, prepare, aqueça, treine e claro ESTUDE. Tem gente que tá há anos arranhando/berrando por aí sem preparo e coberto de falhas se achando foda que não sabe o que é um metrônomo. Não tem a mínima noção de tempo, quanto mais a própria voz. Não seja delinquente, ignorante ou irresponsável como o que citei acima. Invista em si. Se encontre antes de tudo, as vezes você pode ser um tenor, uma soprano e etc e não sabe, é necessário se encontrar, se desejar seguir um estilo, mesmo sem preparo, necessita de tempo respeito vocal e cuidados. Saiba que tudo é questão de evolução. E claro, evolua como ser humano, não seja esnobe e nem FDP, beleza?Conselho da Tia Lzzy. Não seja cuzão. Seja digno e se encontre, se respeite, faça por onde. não atropele ninguém. Lembre-se de que tudo que vai, volta.
Roadie Metal: Qual a sua mensagem final para os leitores da Roadie Metal?
Maríllia: Aos leitores, aos fãs e aos seguidores. Defendam a arte, musica é arte. Defenda isso, e claro, defendam a liberdade. Não defenda o conservadorismo, pois ele é a cavernosidade em si. Conservadorismo é a HIPOCRISIA, é a intolerância, é o PRECONCEITO, é a homofobia, é o racismo, misoginia. Eu juro que tentarei não citar política. mas tudo é política. Os seus atos, o seu voto, o que você come, o que recebe, o que paga, o que convive , oque se alimenta, principalmente o que deixarás pro seus filhos, netos e por aí vai. Se você se cala perante calamidade e desgraça e concorda com um boçal, você é um FDP. E decidam ser headbanger ou conservadores, pois os dois não dá. Metal em si é a complexidade e movimento libertário. Recinto onde não se deve existir hipocrisia e muito menos conservadorismo. Sou politizada, não sou apenas cantora, compositora, produtora e frontwoman. Antes de qualquer coisa, sou artista, sou arte. Arte é liberdade! Aqui deixo não só a minha opinião, mas sim a minha personalidade e caráter perante a leitura-estrevista. Sou artista, sou libertária, minhas músicas, meus atos, meu silêncio e gritaria, meu berro e minha sinfonia. Sou a arte, sou liberdade!
“Baixe nosso aplicativo na Play Store e tenha todos os nossos conteúdos na palma de sua mão.
Link do APP: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.roadiemetalapp
Disponível apenas para Android”