“Metal Além da Música” é um quadro criado pelos redatores Jéssica da Mata e Renan Soares com o objetivo de falar dos principais estilos dentro do Rock/Metal. A proposta é abordar características peculiares, estilo visual, ideais e mais. Como diz o título da coluna: Metal Além da Música!

O Rock e o Metal são dois dos maiores gêneros musicais que surgiram com o propósito de “protesto”, marcando a sociedade através das décadas com seu visual e atitude. Com o passar dos anos, foram aparecendo novos estilos e vestimentas especificas, e com eles, ideais sobre diversos assuntos, como política, sociedade e religião.

Punk, grunge, gótico, emo, são alguns dos estilos que vocês conhecerão por aqui, desde o seu surgimento, características, convicções e curiosidades.

Hoje, falaremos de um dos movimentos musicais mais amados e polêmicos dentro do universo do Metal, principalmente no meio underground, tendo dado o que falar principalmente nos anos 80 e 90, quando começou.

Como muitos sabem, o estilo de Black Metal é um daqueles que ou você ama, ou você odeia, e isso ocorre não apenas por motivos musicais, já que entre todas as vertentes do Metal, esse é a que tem a questão ideológica mais forte e evidente.

Então, para entender um pouco esse universo do movimento do Black Metal, comecemos do início.

Capa do álbum ‘Black Metal” do Venom

O termo “Black Metal” surgiu primeiramente nos anos 80, principalmente por conta da banda inglesa Venom, que em 1982 lançou um álbum com esse nome. Outras bandas pioneiraa também foram a sueca Bathory, e a suíça Hellhammer (que posteriormente virou Celtic Frost).

Nessa primeira onda, o que caracterizou o estilo foi a sonoridade pesada, suja, acelerado, com atmosfera sombria e com guturais mais rasgados, que virou a principal base para as bandas que viriam, isso tudo juntando com letras que falavam de satanismo, anticristianismo e paganismo (principalmente referente a mitologia nórdica).

https://www.youtube.com/watch?v=yCUx5WKIZ1E

Apesar dessas bandas ainda não se utilizarem dos famosos corpse paints, ainda assim a parte visual já possuía características bem marcantes, como o uso de pentagramas e a imagem de um bode (sempre fazendo referência a entidade Baphomet) em suas artes, e a utilização de vestimentas pretas, muitas vezes de couros, e braceletes de espinho.

Capa do álbum homônimo do Bathory
Banda Hellhammer

Mas o momento mais marcante do Black Metal veio nos anos 90, mais especificamente na Noruega, com o surgimento do famoso Inner Circle, sendo composto por bandas como Mayhem, Burzum, Darkthrone, Immortal, e algumas outras.

Varg Vikernes, único integrante do Burzum

É aqui, na Segunda Onda do Black Metal, onde encontramos as histórias mais “cabulosas” do movimento, principalmente envolvendo as bandas Mayhem, liderada na época por Euronymous, e Burzum, projeto do polêmico Varg Vikernes. Nessa época, foram adicionadas a parte visual os famosos corpse paints (que são maquiagens que tem a intenção de passar a imagem de cadáveres em decomposição), e todos os elementos anticristãos possíveis, como a cruz invertida.

https://www.youtube.com/watch?v=QIf2GgA1rGc

Além da maioria dos integrantes das bandas passarem a se autodenominar através de pseudônimos satânicos, se utilizando de linguagens de tribais antigas para nomeá-los, alguns exemplos são o Cronos (Venom), Quorthon (Bathory), Abbath (Immortal), Shagrath (Dimmu Borgir), e outros. Essa prática é algo que já vinha desde a Primeira Onda do movimento, originária na Inglaterra.

Chegando finalmente na questão ideológica, muitas bandas do Inner Circle não só pregavam, como também praticavam o satanismo e o anticristianismo, inclusive realizando rituais, e principalmente, queimando igrejas, sendo a cena do Black Metal norueguês sido responsável pelo incêndio de diversas Igrejas principalmente na cidade de Oslo, capital da Noruega.

Cartaz do filme “Lord of Chaos”, de 2018

Em outros casos, como o de Varg Vikernes, os integrantes se consideram pagãos (não exatamente satanistas), mas ainda assim defendiam a expulsão do cristianismo da Noruega, argumentando que o país deveria seguir a sua religião original, baseada na mitologia nórdica.

Banda Immortal

Mas, a queima de igrejas ainda era fichinha para outras coisas que aconteciam no Inner Circle, sendo a história mais bizarra a referente do suicídio do vocalista Dead, do Mayhem, o qual o mesmo tirou a própria vida com um tiro de espingarda, tendo o guitarrista Euronymous tirado uma foto da cena e a colocado na capa do álbum “Dawn of the Blackhearts”, de 1995 (e se você estiver curioso para ver a capa em questão, procure no Google, pois pelo teor gore eu não a colocarei aqui). E como se não bastasse, ainda há boatos de que Euronymous teria feito sopa com os miolos de Dead, e um colar com pedaços do crânio do mesmo.

E para carimbar ainda mais isso tudo, tem o fatídico assassinato de Euronymous ocorrido em 1994, cometido por Varg Vikernes, tenho o músico do Burzum apunhalado o guitarrista do Mayhem com “apenas” 20 facadas, tendo lhe rendido uma pena de 21 anos de prisão, a qual ele recebeu rindo em pleno tribunal.

Atualmente, o Black Metal ainda mantêm bastante o teor satanista, pagão, e principalmente anticristão, em suas temáticas, mas sem chegar ao extremo de queimar igrejas, em alguns casos os integrantes realmente acreditam naquilo que falam em suas letras, e em outros toda essa questão visual é usada apenas como estética. Além disso, boa parte da cena Black Metal é defensora de que a vertente deve sempre permanecer em sua essência no underground, sempre criticando tudo que vier do chamado “mainstream”.

O movimento também criou algumas variáveis, essas as quais são bastante criticadas, cada uma por uma razão especificamente. Uma delas é o Symphonic Black Metal, representado principalmente pela banda Dimmu Borgir, um dos nomes mais conhecidos vindos da cena da Noruega. Como o nome já diz, essa ramificação se diferencia do Black Metal Tradicional por adicionar elementos do Metal Sinfônico, como teclados e elementos de orquestras, sendo em alguns casos um som mais bem trabalhado, o que faz os adeptos mais “raiz” do movimento torcerem bastante o nariz.

Outra ramificação é o chamado Unblack Metal, que é o contra ponto do Black Metal Tradicional, sendo essa a vertente cristã, onde as bandas desse estilo pegaram todas as características sonoras e visuais do movimento original, mas dessa vez falando em favor do cristianismo e contra o satanismo. Não preciso nem dizer o porquê que essa variação do movimento é polêmica, né? (e não entrarei em mais detalhes sobre essa vertente especificamente porque futuramente teremos um ‘Meta Além da Música’ sobre White Metal)

E a mais polêmica de todas é o chamado Black Metal Nacionalista, que é uma vertente cuja suas temáticas flertam com ideologias nazistas. Acho que não preciso falar mais nada dessa aqui, né?

No Brasil, o principal representante do Black Metal até hoje é a banda mineira Sarcófago, que surgiu junto ao Sepultura nos anos 80, tendo como principal disco o “INRI”, de 1987.

Banda Sarcófago

E encerramos aqui mais um “Metal Além da Música”, daqui a duas semanas estaremos de volta com a Jéssica da Mata falando sobre mais algum grande movimento existente dentro do universo do Rock/Metal.

Até a próxima!

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