Metal Além da Música #4: Skinheads

“Metal Além da Música” é um quadro criado pelos redatores Jéssica da Mata e Renan Soares com o objetivo de falar dos principais estilos dentro do Rock/Metal. A proposta é abordar características peculiares, estilo visual, ideais e mais. Como diz o título da coluna: Metal Além da Música!

O Rock e o Metal são dois dos maiores gêneros musicais que surgiram com o propósito de “protesto”, marcando a sociedade através das décadas com seu visual e atitude. Com o passar dos anos, foram aparecendo novos estilos e vestimentas especificas, e com eles, ideais sobre diversos assuntos, como política, sociedade e religião.

Punk, grunge, gótico, emo, são alguns dos estilos que vocês conhecerão por aqui, desde o seu surgimento, características, convicções e curiosidades.

E antes de começarmos a falar do tema de hoje, permitam-me falar de forma mais coloquial por um instante, até porque como o ser humano tem uma tendência de não ler as coisas até o final antes de tirarem qualquer conclusão, há uma coisa que preciso esclarecer primeiramente.

Certamente, a imagem que muitos de vocês têm dos Skinheads é aquela de que os colocam como sinônimos de neo-nazistas, certo? Pois bem, sim, infelizmente existe essa vertente do movimento que propaga ideias racistas e xenófobas, mas quero ressaltar primeiramente que não são todos os Skinheads que seguem esse tipo de ideologia, e principalmente, não é a maioria que segue essas ideias.

Vocês verão ao longo desse texto que existem várias ramificações do movimento, onde cada um carrega a sua ideologia, deixando claro que o intuito da matéria não é defender nenhuma ideologia A ou B, apenas mostrar a existência de cada uma. Isso tudo vocês irão entender a partir de agora.

O início do movimento Skinhead veio nos anos 60, logo após a independência da Jamaica do Reino Unido, tendo ocorrido assim um grande fluxo de imigrantes jamaicanos para a Inglaterra. Sendo assim, o movimento se derivou da cultura mod britânica e teve fortes influência dos Rude Boys jamaicanos.

Com isso, o movimento Skinhead foi criado a partir da união de brancos e negros, e seu primeiro elo de ligação na música não foi o Rock, e sim o Reggae jamaicano, mais especificamente o Ska.

O termo “Skinhead” surgiu pelo fato dos integrantes do grupo, que andavam em gangues, se caracterizarem pelas suas cabeças raspadas (em português o termo significa “cabeças de pele”). Além disso, o tipo de vestimenta comum entre os integrantes do movimento são os coturnos e os suspensórios (vestimentas da causa operária), mas dependendo das ramificações da subcultura, outras características também podem aparecer, como o uso de roupas pretas.

Falando e questões ideológicas, a primeira geração dos Skinheads, surgida no anos 60 através da união de ingleses e imigrantes jamaicanos, ainda não abordava questões políticas, tendo como principal luta a união das raças, onde negros e brancos poderiam convergir e curtir Reggae e Ska juntos.

Os Skinheads surgiram da ramificação da antiga cultura Mod, que adotava uma ideologia mais “paz e amor” dos Hippies, sendo os “Carecas” uma oposição a isso ao se unir com os “Rude Boys” da Jamaica, que se inspiravam bastante nos filmes gangster dos anos 30.

Algumas bandas e artistas que caracterizaram essa fase do movimento foram Desmond Dekker, Laurel Aitken e Symarip, tendo esses também adotado o termo “Skinhead Reggae” para definir o seu estilo.

Mas desde essa época que o movimento começou a causar polêmica na sociedade inglesa, isso porque ocorria de jovens integrantes de grupos Skinheads promoverem confrontos nos estádios de futebol, além também se serem registrados casos de xenofobia desses grupos contra paquistaneses e asiáticos, apesar desses integrantes em questão se considerar antinazistas e repudiavam o racismo.

E então é a partir daí que começamos a entrar um pouco na “parte cabulosa” da cultura Skinhead, que foi quando o movimento começou a se politizar mais, coisa que começou a acontecer principalmente a partir da segunda geração Skinhead nos anos 70, que foi quando o Rock foi introduzido ao mesmo.

Nessa época os Skinheads começaram a fundir a sua cultura junto a sonoridade do Punk Rock, mas especificamente do subgênero chamada “Streetpunk”, mais conhecido como “Oi!”.

O termo “Oi!” surgiu por conta de uma música da banda Cockney Rejects cujo o nome é “Oi! Oi! Oi!”, tendo se popularizado após a mídia utilizar o termo para definir o Streetpunk, o que passou a ser basicamente uma saudação entre os integrantes do movimento Skinhead.

Além do Cockney Rejects, outras bandas de renome da vertente são Sham 69, The Redskin, Angelic Upstarts e The Opressed.

Apesar dessa fusão do movimento com o Streetpunk, ainda nos 70 houve o revival do Ska dos primórdios dos Skinheads, surgindo uma vertente chamada “2 Tons” (fazendo referências as cores pretas e brancas – a união das raças).

Nessa vertente, os grupos que mais se destacaram foram o The Specials, Madness e The Selecter.

Agora, lembram que chegaríamos agora na parte mais cabulosa do movimento? Pois bem, como também mencionei, foi a partir da segunda geração do movimento Skinhead onde pautas políticas começaram a caracteriza-la, e vale ressaltar, pautas essas que eram tanto de direita quanto de esquerda, dependendo da ramificação a qual os integrantes pertenciam.

Isso começou exatamente nos anos 80 após um partido de extrema-direita britânico chamado National Front começar a se infiltrar no movimento, ganhando adeptos aos seus ideais, provocando assim um racha entre eles e os Skinheads que tinham a ideologia mais puxada a esquerda.

Com isso, vários grupos específicos de Skinheads começaram a surgir. Primeiramente, há os “Skinheads Trojan” e os “Suehead”, que é a vertente que mantêm toda a ideologia inicial do movimento quando surgiu nos anos 60, inclusive na questão musical e de vestimentas.

No âmbito mais a esquerda surgiram vertentes Skinheads a quais defendem os ideais comunistas, socialistas e anarquistas, a exemplo dos Redskins, os R.A.S.H (Red And Anarchist Skinheads), e os F.A.S.H (Federación Anarco Skinhead).

Infelizmente, após a intervenção da National Front no movimento, começaram a surgir as vertentes Skinheads neonazistas, a qual alguns preferem chama-los de “Boneheads” ou de “Hammerskins” para não vinculá-los ao movimento Skinhead original, que como foi mencionado mais acima, teve sua origem a partir da união de brancos e negros.

Com isso, como uma resposta a esses “Skin” que passaram a vincular o movimento a ideologia supremacista-branca, surgiu os S.H.A.R.P (Skinheads Against Racial Prejudice), que como o próprio nome diz, tem como principal ideologia o combate ao racismo e ao preconceito em geral, sem nenhum vínculo com partidos ou organizações políticas.

E falando do movimento Skinhead no Brasil especificamente, por aqui os grupos de maior destaque dentro desse universo são os “Carecas do Subúrbio” e os “Carecas do ABC”. Ideologicamente, eles tinham mais ligações com as pautas defendidas pelo movimento Punk, mas com o passar do tempo os “Carecas” passam a defender as ideologias da direita conservadora, tendo como principal pilar a defesa dos valores, da família e o pensamento antidroga. Mas vale ressaltar que ambos os grupos citados não defendem pautas “white powers”, inclusive, eles acreditam que a identidade brasileira é uma grande miscigenação de várias raças.

Como vocês podem ver, são várias ideologias existente dentro de um mesmo movimento, que inclusive vivem em constante conflito (as vezes chegando em casos de agressões físicas). E justamente por isso tudo podemos dizer que o movimento Skinhead é uma das tribos urbanas mais polêmicas existentes dentro do universo do Rock, e que divide opiniões.

Com isso, encerramos mais em “Metal Além da Música”, fiquem ligados porque daqui a duas semana a redatora Jéssica da Mata falará de uma dos estilos mais clássicos do Rock, cujo todo o visual e o estilo de vida marcou toda uma geração.

Até a próxima!

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