Após todos acompanharem toda a história do Matanza, envolvendo o repentino fim no ano passado, e ainda mais repentina volta em nova formação e novo nome, foi finalmente chegada a hora de ver todo o resultado disso.
Após lançarem o novo disco em maio, o intitulado “Crônicas de Post Mortem: Guia Para Demônios e Espíritos Obsessores”, o Matanza Inc iniciou sua turnê pelo Brasil tocando as músicas do novo trabalho, que conta agora com Vital Cavalcante nos vocais, e também as suas clássicas. Um desses shows ocorreu na última sexta-feira (28/06) em Recife, no Estelita Bar, com a abertura da banda pernambucana Mojica.
Antes do “racha” na banda, o nome do Matanza era muito forte no cenário nacional. Qualquer show deles em qualquer lugar do Brasil era certeza de casa cheia. Mas infelizmente, depois de todo o “divórcio” de Jimmy e o resto do grupo, isso acabou mudando.
O próprio show do Jimmy & Rats, novo projeto do Jimmy London pós-Matanza, ocorrido aqui em Recife, no Burburinho Bar, no início desse ano, foi uma prova disso. Aquela apresentação em questão deu até um público considerável em certas proporções, mas não chegou a dar casa cheia, e falo isso porque já estive em 6 shows do Matanza anteriormente, e todos eles estavam lotados, tendo alguns dado inclusive “sold out”.
Se aquele show do Jimmy & Rats já não tinha dado tanta gente, esse do Matanza Inc no Estelita deu menos ainda, não sei se o fato da data ter sido marcada com menos de um mês de antecedência pesou, ou então se as chuvas que atingiram Recife naquela noite também interferiram, mas de qualquer forma isso foi a prova que o nome da banda perdeu força.
Falando finalmente do show, começando com a abertura dos portões que foi realizada pontualmente às 22h (e na hora certa, porque pouco depois um pé d’água começou a cair na cidade), mas as apresentações ainda demoraram para iniciar. Quando o público entrou no Estelita, o Mojica ainda estava passando som, e por isso, o acesso a pista ainda não estava liberado.
Enquanto o evento não começava por completo, foi interessante ver uma mudança do Matanza em relação ao público, que foi o fato de dessa vez eles andarem entre eles, trocando ideia com os faz e ficando mais próximo dos mesmos. Antes era sempre aquela coisa deles ficarem apenas no camarim enquanto o público aguardava na pista o início do show, para depois, se muito, conversarem com os fãs e tirarem algumas fotos.
Dessa vez, todos os integrantes estavam completamente acessíveis para todo o público durante todo o evento, tendo inclusive, eles feito o seu stand de merchan na porta do camarim.
Por volta de 23:30, a banda pernambucana de Stoner, Mojica, finalmente subiu ao palco do Estelita abrindo os trabalhos naquela noite.
Apesar do baixo público, o Mojica fez um show completamente insano. Não faltou peso e nem insanidade em suas músicas. A banda apresentou no palco todas as músicas do seu EP “Truculento” e mais algumas autorais.
A junção do peso das guitarras distorcidas, as letras com temática de filmes de terror B, e o forte vocal de Nel Guerra, resultou um som sujo com muita “porradaria”, e brechas para que se formassem mosh pits.
Apesar da apresentação ter tudo para ser completamente insana, o público não correspondeu muito, tendo Nel tentado instiga-lo em diversas ocasiões, os chamado para perto e pedido rodas punk. Para o primeiro mosh da noite ocorrer, precisou que Nel descer do palco, juntar a galera que estava na frente para que ele mesmo instigasse a roda.
Mas independente da reação do público, posso dizer sem sombra de dúvidas que o Mojica proporcionou um dos melhores shows de abertura que já vi em minha vida.
SETLIST:
- Reflexo
- Louco Sentido de Ser
- Execução
- Quando Minha Alma Acordar
- Abismo
- Dia de Fúria
- Imbecis
- A Cura
O relógio marcava quase uma da manhã quando finalmente o show do Matanza Inc iria se iniciar, infelizmente, o público não chegou a aumentar nesse meio tempo, tendo ainda um grande espaço no Estelita (que já é uma casa pequena). Mas mesmo assim, a expectativa era grande entre os presentes.
Agora com dois guitarristas no palco (Donida voltou para os palcos após 10 anos se dedicando apenas as composições), o Matanza Inc abriu o show com a faixa “Guia Para Demônios e Espíritos Obsessores”, com o pequeno público do Estelita já formando a primeira roda punk.
Como dito anteriormente, a banda mesclou músicas do novo disco com as da época antiga, seguindo com “Interceptor V6”, “Seja O Que Satan Quiser”, “Odiosa Natureza Humana” e “O Lodo No Fundo do Copo”.
E como não podia ser diferente, o momento mais insano do show foi durante a música “Todo Ódio da Vingança de Jack Bufallo Head”, a mais Hardcore da carreira da banda, onde mais uma roda punk foi formada.
De uma forma ou de outra, o show acabou sendo bem intimista por conta do baixo número do público, muitos puderam ver a apresentação bem próximo ao palco, e não deixaram de cantar a letra de todas as músicas do início ao fim.
É interessante mencionar que o baixista Dony Escobar estava naquele dia tocando em casa, pois para os que não sabem, ele é pernambucano, e o Vital Cavalcante fez questão de ressaltar isso durante a apresentação. O próprio Dony utilizou essa carta para chamar o público para mais próximo em alguns momentos.
Após “Todo Ódio da Vingança de Jack Bufallo Head”, não houve mais nenhum ponto alto no show, ou nada que saísse da normalidade (chegou a ter uma invasão de palco, mas nada de demais). Com isso, o setlist seguiu com a banda tocando 26 músicas ao todo.
Com o público tendo a mesma energia do início ao fim, o show se encerrou por volta de duas da manhã com a banda fazendo a sequência “Bom É Quando Faz Mal”, “O Chamado do Bar” e “Pandemonium”.
SETLIST:
- Guia Para Demônios e Espíritos Obsessores
- Interceptor V6
- Seja O Que Satan Quiser
- Odiosa Natureza Humana
- O Lodo no Fundo do Copo
- Todo Ódio da Vingança de Jack Bufallo Head
- O Elo Fraco Mais Fraco da Corrente
- A Arte do Insulto
- Muitas Maneiras de Arruinar a Sua Vida
- Eu Não Bebo Mais
- A Cena do Seu Enforcamento
- Sabendo Que Posso Morrer
- Péssimo Dia
- Pé Na Porta e Soco Na Cara
- Tudo De Ruim Que Acontece Comigo
- Eu Não Gosto de Ninguém
- Para o Inferno
- Ressaca Sem Fim
- Pior Cenário Possível
- Chumbo Derretido
- Pode Ser Que Eu Me Atrase
- Country Hardcore Funeral
- Remédios Demais
- Bom É Quando Faz Mal
- O Chamado do Bar
- Pandemonium
Finalmente avaliando a atuação do vocalista Vital Cavalcante nas músicas antigas, foi perceptível que a banda precisou subir alguns tons as músicas, já que sua voz em comparação a do Jimmy é mais aguda em comparação a do ex-vocalista que era bem grave. De qualquer forma, Vital se saiu bem, seu vocal também é bastante sujo, o que ajudou a ele se encaixar na proposta da banda.
Apesar do setlist contemplar diversos clássicos da banda, alguns foram deixados de fora propositalmente, como “Ela Roubou Meu Caminhão”, “Tempo Ruim” e “Clube dos Canalhas”. Segundo o guitarrista Maurício Nogueira falou em entrevista para a Roadie Metal, das faixas antigas, foram deixadas de fora aquelas que não eram “porrada”, algumas que não se encaixaram na voz de Vital e outras que eles não aguentam mais (tendo exemplificado com ‘Ela Roubou Meu Caminhão’).
Agora fazendo as considerações do show em geral, falando com a propriedade de quem já havia presenciado 6 shows da banda, definitivamente não senti o mesmo “feeling” nessa apresentação no Estelita.
Sim, eu sei que a alma da banda é o Donida, tanto que mesmo com essa nova formação e tudo o mais, a sonoridade e a temática das letras não mudaram quase nada. Mas, o Donida pode até ser a alma da banda, mas o Jimmy era a cara do Matanza, tanto que é impossível desassociar a imagem dos dois.
Como disse anteriormente, o Vital Cavalcante se saiu bem na função, mas ele não tem a mesma presença palco do Jimmy, que praticamente comandava o público lá na frente.
No mais, foi um bom show, mas não chega perto daquilo que o Matanza já proporcionou em ocasiões passadas. No fim, a apresentação do Mojica acabou se destacando mais do que a da atração principal.