Mário Lúcio, 57 anos, nasceu numa cidade do Interior de Minas chamada São Sebastião do Maranhão,22 de novembro de 1960.
Conheci-o quando fazia reparos como funcionário de serviços gerais para o escritório da empresa que trabalhava de equipamentos de segurança individual. Gostei de cara daquele baixinho que subia no telhado e se enfiava debaixo das mesas, do tipo que resolve tudo.
Solicitei que pudesse fazer algum trabalho em minha casa, do tipo instalar uma cortina, arrumar um encanamento, coisas desse tipo. Lucinho (como o chamo) me fez uma única exigência como pagamento: Que em minha casa tocasse autêntico Rock n Roll enquanto ele trabalhava. Parece que ele foi para o lugar certo. Não obstante, por coincidência, na empresa em que trabalhávamos, nosso chefe também apreciava esse tipo de som.
Desde então acabamos por tecer uma amizade e por vezes nos encontramos, seja para estes ajustes ou em algum show, e quando ele vêm me ajudar nas coisas, o som no talo não pode faltar. Conversando e conhecendo ele ao longo destes (acho que 6 anos), percebi que se tratava de um grande fã que merecia essa resenha, porque ele saiu do interior, do interior de Minas com toda escassez de cultura e informação e por própria natureza se apaixonou e se dedicou com toda dificuldade, a colecionar discos e shows de Rock e Metal.
Se você leu até aqui, veja que bacana o relato dele sobre como descobriu na década de 70 o Rock e o que ele pensa sobre este estilo. É uma aula de história!
Roadie Metal – Me conta a história do começo de tudo. Como foi seu primeiro contato com o Rock?
A primeira vez que vi televisão foi em 1968. A diretora da escola avisou para todo mundo: A televisão chegou na nossa cidade e não existia energia elétrica. A energia veio através de usina na roça que levava um luzinha fraca, que mal chegava para as ruas e as casas. Então chegou la na farmácia do Sr. Geraldo Catarino, pois ele comprou a televisão e pediu a diretora levar as crianças lá para conhecer o que era a “Televisao”. Tava chegando modernidade já no interior. Ai chegou lá aquele aparelho esquisitão. Era amarela, dourada e preta. Eu tinha 8 anos. Esperamos a TV esquentar. A TV era a válvula. E ficou todo mundo sentado esperando, ligou aquela imagem chuviscando, e ai passou uma Propaganda de Rock. Um cara negro, “violão”, terno e um sapato colorido. Quem tinha essas coisas radio ou TV, era prefeito ou gente rica assim. De repente eu vi que o instrumento era diferente. Não era o violão, era uma Guitarra.
Roadie Metal -E na adolescência,década de 70 você já começou a ter mais acesso ao estilo”Rock” em si?
Com 14 anos eu escutei Beatles e Elvis Presley bem novinho. Fomos numa festa, num casamento de uma fazendeira da qual trabalhávamos. Chegamos lá tocou Elvis num toca discos chamado Sonorous e um chamava Johnson. Um móvel grande que abria e tinha o toca discos la dentro. “Uns achava ruim a música”. Eu adorava. Roberto Carlos, Diana também tocou na festa. A Jovem Guarda e Rock cresceram juntos no Brasil.Isso por volta de 74,75…Com 17 anos eu fui para BH, voltei com uma camisa do Kiss. Eu achei doido aquela camisa. Com uns 18 anos eu fiquei sabendo que tinha o show do deles em Belo Horizonte, meus pais não gostaram não. Juntei um dinheiro capinando roça e fui. Meus pais não gostavam porque os caras tinham a cara pintada. Ai recebi um telegrama do meu primo Genésio, avisando do show do Kiss. Eu perguntei: Como é que faz? é de graça?. Ele respondeu: Eu pago aqui e você traz o dinheiro pra mim. [risos]
Roadie Metal -E como foi o show?
Andei 28km de estrada de chão a pé para pegar o ônibus para Itabira. E de Itabira pra cá que tinha aslfato. Meus primos moravam em Santa Luzia [distrito próximo a BH].
Chegamos no Mineirão aquele mundão de coisa. “Os cara vão aparecer no gramado” – disse meu primo. De repente apareceu um tanque de guerra, num túnel no meio do gramado. Eles chegaram e muita coisa saiu da minha cabeça. O show foi uma loucura. Muito bom. Não podia acreditar. No dia seguinte, fomos comprar o disco. Tocava numas radio já na época. Eu já tinha um disco de 76 de uma loja chamava O DISCÃO. Gosto também muito de rock nacional. Paralamas do sucesso,etc.
Roadie Metal -Sei que você já foi ver o Iron Maiden chegar com o Ed Force One e você não perde um show…
Eu fui em todos os shows do Iron Maiden em Belo horizonte. O meu gosto com a música é diferenciado, o metal melhorou meu gosto musical. Minha familia respeitava meu gosto do Rock. Lembro me de comprar um toca-discos a pilha, o povo no meio do mato tinha que ouvir o toca disco à pilha Rayovac. Fomos ter energia eletrica eu ja tinha 28 anos de idade. Ai que pude comprar um aparelho de vinil e CD. Voltando ao assunto, a banda de metal que eu mais gosto é Iron Maiden. Não gosto de Aerosmith; U2 tambem não vou em show não. Mas qualquer música do Iron Maiden eu gosto. Rolling Stones eu vou em qualquer lugar. Black Sabbath tambem fui ao show. Um show que me marcou muito foi o Kiss em novembro do ano passado, no Mineirinho. O baixista ainda é o mesmo. É a mesma coisa de 25 anos atras. Também adoro vinil do Van Halley. Eles já vieram tocar aqui? Eu queria muito ter ido no show do The Who. Eu vou em todos os shows de Rock que posso.
O pai dele xingou “pra caramba”, falando que la tinha droga.
mas a gente não gostava disso.
A gente nunca ia é deixar de gostar de rock.
Roadie Metal – Quantos discos de Rock você tem hoje?
Tenho 60 discos de vinil de Rock. CD e DVD eu perdi a conta. Banda Nacional eu tenho RPM, Legiao Urbana, Paralalams, Rita Lee. Raimundos por exemplo, tem gente que critica. Eu acho que eles tem umas músicas boas. Scorpions, vários do Kiss, vários do Led Zepellin, Van Halley, Beatles,alguns do Iron Maiden, uns 4 do Jimmy Hendrix, The Who, Rush, Pink Floyd, uns do UFO, Black Sabath, Queen, Led Zepellin, Rolling Stones, Vários do Black Sabath, AC DC, Creedence, Peter Frapton, Rocker Fastway e muitos outros. Não lembro de tudo *
https://www.youtube.com/watch?v=nDO1nb_3_6g
Roadie Metal – E qual a banda do seu coração?
Nacional é Paralamas. Internacional é Creedence, depois Iron Maiden, depois Kiss.
Roadie Metal – Agora me diga o que se manteve e o que mudou no Rock em geral.
A letra das músicas de 60,70,80. As letras eram bonitas, as de hoje não. Era sempre alegria, romantismo ou falavam de coisas boas. A qualidade do som manteve e até evoluiu. Mas as letras…E não é só no Rock não. As letras das músicas em geral, desde os anos 90 pioraram. O espaço que as bandas antigas tinham no nosso coração, hoje eu não consigo colocar numa nova banda. Cansa meu ouvido. Eu prefiro um show de Rock de uma banda antiga, eu vou sair satisfeito. Pelas pessoas que eu vou encontrar também. Mulher e homem como eu. Hoje a música brasileira então é cheia de sofrência. Que isso? Nós nao tinhamos isso não. Eu ponho meus meninos para ouvir CENTURY e SCORPIONS e meus filhos querem ouvir sofrência. Cabou o sentimento pela música. Dificilmente uma banda de rock hoje vai engrenar como antigamente… Banda de 2000 pra cá num vinga.
Lucinho respira Rock em tudo que faz. Positivo e ágil, ele sempre soube romper as barreiras onde o ambiente era propicio somente aos estilos de música extremamente regionais e de grandes comunidades como o sertanejo e outras vertentes da música brasileira. Mas as guitarras do ROCK tocaram seu coração e ele foi longe, mesmo se sentindo as vezes fora do ninho…
Hoje, esse pai de vários filhos, tenta ensinar ou passar um pouco da sua experiência com a trilha sonora da sua vida. Ano passado ele tirou foto com Paulo Ricardo do RPM e já é figura conhecida. Ele representa para todos nós onde esse som pode chegar. E assim, sempre será!
*Lúcio fotografou todos seus LPs e me mandou via Whatsapp. Registrei a maioria deles.