Independente de qualquer contestação que a realidade nos imponha, o certo é que, para quem vivenciou o primeiro Rock in Rio, seja presencialmente ou pela televisão, aqueles artistas que revezavam pelo palco representavam o máximo do que a música da época tinha para oferecer. Nossa sensação era de que estavam todos no ponto máximo de suas carreiras e, com o Scorpions, isso não foi inverídico.

O quinteto alemão vinha pela primeira vez ao Brasil e é bem sabido que o festival foi a abertura de porteira para que mais e mais bandas olhassem para o Brasil em suas turnês, pois o histórico de visitações anteriores era bem pontual. O Scorpions fazia a divulgação de um de seus mais bem-sucedidos álbuns, “Love At First Sting”, lançado dez meses antes daquelas apresentações, e a banda literalmente arrasou.

Um carisma quase sobrenatural, um repertório impecável e um público sedento! Era impossível – no meu caso – tirar os olhos da televisão. Cinco meses depois, saber que aquilo poderia ser revivenciado com o lançamento de um duplo ao vivo, intitulado “World Wide Live”, era ter a certeza de que eu precisava comprar aquele disco.

E comprei, embora não me lembre se foi logo ou se passou algum tempo, afinal ainda era estudante e, até mesmo o conceito de “dinheiro contado”, parecia ser mais do que eu realmente dispunha. Havia também um home vídeo, mas isso demandava a aquisição de um vídeo-cassete, aparelho que não era ainda tão acessível, então nunca me importei tanto com esse formato. Era o disco que importava.

Olhar imagens da capa na internet, ou mesmo a foto que ilustra essa matéria, dá uma sensação de que a beleza da imagem foi ofuscada. A capa do vinil era belíssima, parecia até emanar um brilho e uma sensação de 3D, além do volume que a sinestesia recebia do olhar. O complemento vinha da audição do vinil em contato com a agulha.

Eu reafirmo que não dá para estabelecer uma competição entre os dois live álbuns do Scorpions. “Tokyo Tapes” e “World Wide Live” são tão diferentes quanto perfeitos e essenciais. A banda sabia realmente como entregar esse tipo de material e lhe dar uma peça de recordação inesquecível de quão excitantes eram seus shows. O som da plateia está ali onipresente, como se fosse um sexto integrante do show. Reescutando o disco enquanto escrevo, vem tudo de volta à memória e me lembro quão grandioso era esse grupo, o quanto a voz de Klaus Meine era cristalina, o quanto os solos de Mathia Jabs casavam com aquela sonoridade do Scorpions dos anos 80, da mesma forma que Uli Jon Roth exercia seu talento na encarnação dos anos 70.

O tracklist traça bem essa delimitação e como não ser conquistado por “Blackout”, “Make It Real”, “Rock You Like a Hurricane” e “Dynamite”? Pela sequência belíssima das insuperáveis baladas “Holiday” e “Still Loving You”? Ou pela interatividade magnética em “Big City Nights” e “The Zoo”?

Escutar “World Wide Live” faz um grande bem e seu efeito vai para muito além da mera nostalgia. Faz também perceber o quanto esse tipo de registro perdeu seu encanto ao longo do tempo e, com raras exceções, tem apresentado trabalhos frios e burocráticos. Os espetáculos aumentaram, mas os live álbuns parecem ter diminuído. Na régua para realizar essa medição, o Scorpions marcou dois pontos nos níveis mais altos.

World Wide Live – Scorpions
Data de lançamento: 20.06.1985
Gravadora: Harvest/EMI

Tracklist
01 Countdown
02 Coming Home
03 Blackout
04 Bad Boys Running Wild
05 Loving You Sunday Morning
06 Make It Real
07 Big City Nights
08 Coast to Coast
09 Holiday
10 Still Loving You
11 Rock You Like a Hurricane
12 Can’t Live Without You
13 Another Piece of Meat
14 Dynamite
15 The Zoo
16 No One Like You
17 Can’t Get Enough, Pt. 1
18 Six String Sting
19 Can’t Get Enough, Pt. 2

Formação
Klaus Meine – vocal, guitarra em “Coast to Coast”
Rudolf Schenker – guitarra
Matthias Jabs – guitarra
Francis Buchholz – baixo
Herman Rarebell – bateria

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