Lá naquele comecinho dos anos 80, quando vídeos eram difíceis, revistas eram difíceis, discos eram difíceis, a inocência e o desconhecimento de um neófito – tanto na idade quanto no estilo – fã de Rock, fazia com que fossemos mais impressionáveis: “O que é esse monstro nas capas do Iron Maiden?”, “O Ozzy comeu um morcego?”… não faltavam essas e outras perguntas que, hoje, parecem bobas e pueris, mas que ocupavam o imaginário e geravam alguma diversão nas conversas do colégio.
Entre todo esse contexto meio fantasioso, poucos grupos poderiam se igualar ao Kiss em termos de fascínio: “Esses caras têm esse visual misterioso, ninguém nunca os viu sem máscara e aquele ali assemelha-se a um demônio cuspindo sangue”!
Sim, tudo muito estimulante para uma juventude que não dispunha nem de informações sobre a origem da banda, mas que tinha seu interesse despertado sem sequer escutar uma única nota. Era impossível que a música daqueles caras não fosse tão espetacular quanto todo o conceito que orbitava em seu redor.
Nesse período, passava-se mais tempo mexendo nas capas de discos nas lojas do que efetivamente comprando. Eram muitas idas e vindas, olhando e reolhando cada um antes de decidir onde, efetivamente, gastar o pouco dinheiro arduamente economizado. Mas, na realidade, contrariando um pouco de tudo que falei até agora, as capas do Kiss não me chamavam tanta atenção, com apenas duas exceções; “Creatures of the Night”, com suas cores noturnas e olhos luminosos, e “Alive”, com um instantâneo da banda em ação!
Sim, o “Alive II” já existia, mas não era a mesma coisa. Não parecia haver um show ali dentro, contido naquela capa, e essa talvez devesse ser a primeira regra para um bom disco ao vivo: o pacote de impressões sensoriais deveria ser completo e, desde a sua imagem ilustrativa, deveria ser criada a expectativa de imersão naquele ambiente interativo tão diferenciado que é um show musical. De poder sentir-se, até mesmo, em cima do palco, olhando a banda de perto, como a capa de “Alive” – produzida em estúdio – permite.
Quando a agulha tocou o primeiro lado, não houve perda de tempo. A chamada clássica “You wanted the best, you got the best. The hottest band in the world. KISS” surgia rapidamente e dava espaço para a primeira canção. Claro, dizer que a chamada é clássica é uma perspectiva atual, pois à época eu sequer sabia o que estava sendo dito ou que aquilo era uma tradição dos shows dos novaiorquinos. Não importava esse desconhecimento, da mesma forma que não importaria também saber que boa parte do que consta ali passou por correções no estúdio. O produtor Eddie Kramer precisou recorrer a esse expediente – que é mais comum do que tantos possam ainda pensar – para solucionar alguns problemas como captações imprecisas de vozes. Fazia diferença para mim? Não! O que importava era que o resultado nos sulcos do vinil transmitia a plena experiência de como deveria ser um show do Kiss. O volume, a vibração da plateia… O Kiss que dominava os palcos ainda não havia encontrado seu caminho na transposição de suas canções para os discos de estúdio e era por essa razão que seus três primeiros álbuns, a base das apresentações aqui registradas, não vinham ainda mostrando bons resultados de vendas. “Alive!” virou o jogo e mudou a sorte da banda, sendo considerado não apenas um de seus melhores álbuns, mas também um dos melhores registros ao vivo de toda a história do Rock!
Durante a audição, tudo soa barulhento, com pertinentes doses de sujeira e reverb que traduzem a maneira como todo disco ao vivo deveria efetivamente soar. Quem deseja pureza de captação, durante um registro dessa espécie, parece não saber para o que serve. Começando com uma dobradinha fantástica retirada do primeiro álbum, “Deuce” e “Strutter”, e finalizando de forma festiva com “Rock and Roll All Nite” e “Let Me Go Rock’n’Roll”, o álbum duplo não possui momentos de baixo entusiasmo em seu miolo, contendo faixas maravilhosas como “Nothin’ to Loose”, “Parasite” e a inevitável tradição setentista de inclusão de um solo de bateria durante “100,000 Years”.
“Alive!” deve ter significados diferenciados para a maioria das pessoas, mas para mim representa uma época em que todas as lacunas teriam que ser preenchidas pelo som. Não havia shows de verdade para assistir, não havia vídeos para que eu soubesse como aquelas pessoas se comportavam no palco, não havia sequer conhecimento prévio do repertório, pois eu não tinha escutado e nem sequer comprado os álbuns antecedentes…
Mas havia a capa. E por ela eu paguei o “ingresso” para adentrar no espetáculo de “Alive!”.

Alive! – Kiss
Data de lançamento: 10.09.1975
Gravadora: Casablanca

Tracklist:
01 Deuce
02 Strutter
03 Got to Choose
04 Hotter Than Hell
05 Firehouse
06 Nothin’ to Lose
07 C’mon and Love Me
08 Parasite
09 She
10 Watchin’ You
11 100,000 Years
12 Black Diamond
13 Rock Bottom
14 Cold Gin
15 Rock and Roll All Nite
16 Let Me Go, Rock ‘n’ Roll

Formação:
Paul Stanley – guitarra, vocal
Ace Frehley – guitarra
Gene Simmons – baixo, vocal
Peter Criss – bateria, vocal

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