Desde muito cedo que eu tenho escutado ser “Unleashed in the East” a representação definitiva do que era o Heavy Metal. Não discordo, muito pelo contrário, embora minha relação com o disco tenha se modificado ao longo do tempo, mas sempre em sentido crescente.

Judas Priest e AC/DC tem sido minhas mais perenes paixões desde que eu descobri que esse tipo de música existia. Dessa forma, impulsionado pelos comentários positivos, o disco ao vivo do Judas foi um dos primeiros vinis que comprei. Claro que a capa imponente também foi um com estímulo, com uma imagem da banda simulando estar em ação, apesar do imperdoável defeito de não mostrar o baterista, pois Les Binks já estava sendo desligado da formação na época do lançamento.

Apesar da magnitude do disco, confesso que minhas primeiras impressões foram de uma leve decepção. Havia pouca interatividade de Rob Halford com a plateia no intervalo das músicas e, essa mesma plateia, soava pouco audível durante a apresentação. Isso retirava, para mim, aquele tempero essencial que dá brilho a um disco ao vivo, aquilo que diferencia os registros dessa natureza.

Mas não tinha como escapar da força do repertório e, anos após, o tempo cuidou para fazer com que, o que era excelente, tornar-se extraordinário! O advento do CD fez com que o disco fosse relançado, em sua versão digital, com quatro músicas a mais, retiradas das mesmas apresentações. Sendo também beneficiado pela remasterização, posso afirmar que, após mais de trinta anos, a experiência de escutar o álbum tornou-se algo completamente diferente, pois este soa mais pesado, mais vibrante e mais poderoso do que já soava por ocasião de seu lançamento, além de tornar mais perceptível a vibração da audiência.

O que é aquele ataque de pedal duplo no refrão de “Exciter”? A faixa abre o álbum sem aviso, jogando você imediatamente dentro da carga massiva de ataque que o Judas Priest representa, e não lhe resta mais o que fazer, senão “cair de joelhos e se arrepender, por favor”, da mesma maneira que Rob evoca a plateia a repetir. Talvez os japoneses não tivessem o hábito, mas certamente, caso o show tivesse sido no Brasil, o público certamente iria cantar junto com o solo dobrado da mais emblemática dupla de guitarristas da história do Heavy Metal. K.K. Downing e Glenn Tipton.

O repertório abordou todos os álbuns antecedentes, deixando apenas as canções de “Rocka Rolla” de fora. O trio de músicas do começo parece ter sido delineado de maneira a gerar um rol de sugestões para batizar bandas que viriam a ser criadas a partir das influências do quinteto inglês: “Exciter”, “Running Wild” e “Sinner”. Nessa última faixa, é difícil não ficar extasiado com os tons altos alcançados por Halford. Não é segredo que uma parte dos vocais teve que ser refeita em estúdio, pois o vocalista estava um pouco gripado durante os dias no Japão, mas é exagero insinuar que houve uma regravação completa, pois fãs mais atentos já realizaram comparações com o que foi captado em bootlegs do mesmo período e não identificaram divergências de performance significativas entre as apresentações.

Após uma versão correta de “The Ripper”, vem uma sequência de duas aulas demonstrando como se deve realizar um cover: “The Green Manalishi (With the Two Pronged Crown)” e “Diamonds and Rust”, com Binks dando um novo espetáculo e Ian Hill, a pedra fundamental do peso da banda, delineando o caminho.

“Victim of Changes” jamais poderia faltar, mas o que vem a seguir foi aquela para a qual eu mais vezes repeti o ato de deslocar a agulha do toca-discos! “Genocide” é um exercício de futurologia, com trechos que se aproximam do Thrash Metal muito antes que esse estilo fosse sequer imaginado. Você quase consegue, nesse momento, sentir o calor humano da plateia ao seu redor, de tão forte que é a sensação de imersão que a música lhe proporciona. Para terminar, “Tyrant” traz a aceleração para o centro do palco e conclui em grande estilo sua experiência com o vinil.

Mas eis que o CD resgatou mais quatro números e somos presenteados com “Rock Forever”, “Delivering The Goods”, “Hell Bent For Leather” e “Starbreaker”, com destaque para essas duas últimas. A perfeição do novo tracklist é tanta que você fica imaginando porque diabos esse disco não foi lançado como um álbum duplo originalmente!

“Unleashed in the East” foi um disco essencial para mim e conseguiu, como poucos, ultrapassar as fronteiras da memória afetiva. Soa muito melhor hoje do que soa na minha recordação. Nenhuma surpresa, afinal, é o melhor disco ao vivo já feito no Metal; é a melhor banda da história do Metal!

Unleashed in the East – Judas Priest
Data de lançamento: 17.09.1979
Gravadora: Columbia

Tracklist:
01 Exciter
02 Running Wild
03 Sinner
04 The Ripper
05 The Green Manalishi (With the Two Prong Crown)
06 Diamonds and Rust
07 Victim of Changes
08 Genocide
09 Tyrant
10 Rock Forever
11 Delivering the Goods
12 Hell Bent for Leather
13 Starbreaker

Formação:
Rob Halford – vocal
K. K. Downing – guitarra
Glenn Tipton – guitarra
Ian Hill – baixo
Les Binks – bateria

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