Se estivesse vivo, hoje Eric Carr estaria completando 70 anos.
Nascido em Nova York, no dia 12 de julho de 1950, Paul Charles Caravello tornou-se um emblemático e carismático baterista de Rock, tendo como características uma pegada muito forte e ótima técnica, com um grande domínio do instrumento. Eric passou sua infância em Brownsville, bairro residencial do distrito do Brooklyn , planejando ser cartunista ou mesmo fotógrafo. Era considerado um bom garoto, sem o costume de se envolver em confusões, muito típicas da adolescência de sua época e sempre se dava bem com todos.
Ainda na escola, ele começou a se enveredar para a música, passando por diversas bandas, nos mais variados estilos. Sua primeira banda chamava-se The Cellarmen e foi formada em 1965 por ele e seus amigos, tendo inclusive material lançado por uma gravadora local chamada Jody. A banda se apresentava em vários locais do Brooklyn, bem como do Queens, mas se dissolveu em 1968. No começo dos anos 70 tocou na banda Salt & Pepper, que posteriormente mudou o nome para Creation, tocando Disco Music. Um incêndio criminoso atingiu a banda, durante uma apresentação, em 1974, provocando a morte tanto de alguns membros da banda, como de outras dezenas de pessoas. A banda se reestruturou e continuou, sob o nome Bionic Boogie, com relativo sucesso nas noites nova-iorquinas, inclusive abrindo shows para artistas mais consagrados como Steve Wonder e Nina Simone. Eric tocou até o encerramento das atividades da banda, em 1979. No final do mesmo ano, mudou de estilo, ao se juntar à banda Flasher, um quarteto de Rock que fazia covers. Mas, as coisas não estavam indo bem financeiramente e para sobreviver, ele trabalhava consertando fogões residenciais e chegou a cogitar abandonar a música.
Como foi a entrada no KISS?
Eric ficou sabendo através de um ex-colega de banda sobre a saída do baterista Peter Criss, do KISS e que a banda realizaria uma audição para escolher o novo baterista. Eis uma nova oportunidade para aquele, que já com 30 anos, pensava em desistir da música.
Estrategicamente, ele colocou uma fita gravada por ele do single “Shandi”, lançado recentemente pela banda com seus vocais numa pasta de cor laranja brilhante, para tentar chamar a atenção e surtiu o efeito desejado. Naquele momento, ele se tornou uma das poucas pessoas a ver os membros do KISS sem as maquiagens e pediu que autografassem a lista das músicas que ele deveria tocar, para o caso de não vê-los nunca mais. A audição foi ótima, ele estava muito confortável, tocando com naturalidade, apesar do desastre sonoro das performances dos membros do KISS.
Além da própria performance durante a audição, um outro motivo que fez com que ele fosse o escolhido, foi o fato de que era relativamente anônimo, o que ajudaria em relação ao uso da maquiagem que ele adotaria. Pronto, o novo baterista do KISS estava escolhido, embora isso nunca tivesse sido dito a ele. Paul Stanley disse apenas que em duas semanas a banda estaria no palco. O tempo era curto e preciso. E ainda era necessário escolher seu nome artístico, para esconder a sua verdadeira identidade e a sua maquiagem. A primeira ideia para o nome foi Rusty Blade, mas não vingou. Ele fez um estudo sobre a nomenclatura usada pela banda e notou que havia um padrão, de 3 sílabas, sendo a primeira monossilábica e a segunda dissilábica, exceto o baterista, que apesar de também ter 3 sílabas, era o contrário, dissilábico na entrada e monossilábico na saída, e então decidiu manter este padrão. O sobrenome Carr veio da abreviatura de seu próprio sobrenome Caravello, já o primeiro nome foi uma escolha entre algumas sugestões dadas por sua namorada, na época.
Para a escolha de sua maquiagem, a ideia inicial seria “The Hawk” (O Falcão), com um macacão amarelo-alaranjado brilhante. Paul Stanley rejeitou o projeto, dizendo que ele ficara parecido com o personagem Garibaldo, da série televisiva Vila Sésamo. Eric sugeriu um novo projeto, chamado “The Fox” (A Raposa) e Gene Simmons ficou contente com este, pois se assemelhava com a personalidade astuta do novo membro, até porque o prazo final estava se esgotando rapidamente. Alguns ajustes ainda foram necessários serem feitos no projeto . Nascia assim o emblemático Eric “The Fox” Carr, o novo baterista do KISS, que fora apresentado oficialmente no programa dominical Kids Are People Too, da Rede ABC, voltado para o público jovem, que foi ao ar em setembro de 1980, apesar de a estreia dele ter sido em 25 de julho de 1980, há exatos 40 anos, na casa de shows Palladium, em Nova York. “(Music from) The Elder” marcou sua estreia em estúdio com o KISS, lançado em 1981. O curioso é que mesmo após estar oficialmente no KISS, Eric Carr ainda trabalhou consertando fogões, por um tempo.
Foi com Eric Carr na bateria que o KISS desembarcou pela primeira vez no Brasil, em 1983, ao final da “Creatures of the Night Tour”, junto com Paul Stanley, Gene Simmons e Vinnie Vincent, que havia entrado no lugar de Ace Frehley, como guitarrista solo. Naquela ocasião, foram 3 shows em solo brasileiro, no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, com a maior bilheteria da história da banda e consequentemente seu maior público, registrado no Maracanã, com 180 mil pessoas passando pelas catracas, mas com a abertura dos portões, a invasão chegando a impressionantes 250 mil pessoas, aproximadamente. O show de São Paulo tornou-se o último show da banda com as maquiagens, pois ao final daquele ano, o KISS retirou as maquiagens, revelando suas verdadeiras identidades e permaneceu assim até o retorno dos membros originais, Ace e Peter, em 1996.
Eric Carr, é tido por muitos fãs, incluindo essa redatora que vos escreve, como o melhor baterista que passou pela banda, justamente pela sua técnica, feeling e pegada forte, além de seu grande carisma. O último álbum gravado por Carr, atrás de seu kit de bateria foi o álbum “Hot in the Shade”, lançado em 1989. Pouco tempo após o lançamento deste álbum, Eric foi diagnosticado com um raro câncer no coração, que apesar de todas as tentativas para tentar curá-lo, sua vida foi ceifada, aos 41 anos, em 24 de novembro de 1991, no mesmo dia em que a morte levou embora também a lenda Freddie Mercury, e talvez por isso, sua partida acabou sendo ofuscada.
Com o KISS, em 11 anos ininterruptos, Eric Carr lançou 8 álbuns de estúdio, entre 1980 e 1989, sendo sua última participação a gravação de backing vocals para a faixa “God Gave Rock’n’Roll to You II”, lançada no álbum “Revenge”, em 1992. Apesar de ter sido Eric Singer, seu substituto a gravar as partes de bateria na música, é Eric Carr que aparece no clipe oficial.
Durante o período em que esteve no KISS foram muitos sucessos lançados, sendo alguns clássicos, como “I Love it Loud” e “War Machine” (Creatures of the Night/82), “Lick it up”, “All Hell’s Breakin’ Loose” (de autoria do próprio Eric Carr), “A Million To One” e “Fits like a Glove” (Lick it up/83), “Heaven’s on Fire”, “Thrills in the Night”, “Under the Gun” (também de autoria de Carr) (Animalize/84), “Who Wants To Be Lonely”, “Tears Are Falling” (Asylum/85), “Crazy Crazy Nights”, “Reason to Live”, “Turn on the Night” (Crazy Nights/87), “Hide Your Heart” e “Forever” (Hot in the Shade/89).
Em 1999, em conjunto com a família de Carr, o guitarrista Bruce Kulick produziu o álbum “Rockology”, que contém músicas que os dois e Adam Mitchell estavam trabalhando antes de sua morte.
Hoje, estamos prestando essa singela homenagem ao baterista Paul Charles Caravello, mais conhecido como Eric Carr, a Raposa do Rock, pelos 70 anos de seu nascimento e 40 anos desde a sua entrada para o KISS, que catapultou a sua carreira ao estrelato e escreveu seu nome definitivamente na história do Rock, porém mais que isso, mantendo-o vivo eternamente em nossas lembranças e dentro de nossos corações.
Obrigada por tudo, Eric Carr.