Hoje em dia, a ideia de líderes religiosos cometendo “equívocos imorais” é muito conhecida pelo povo em geral – e nada tolerada, embora muitos fiéis ainda insistam em lotar determinadas igrejas. Contudo, há 20, 30 anos, determinados “deslizes” eram recebidos com ainda mais escândalo. Foi o que aconteceu com o pastor pentecostal estadunidense Jimmy Swaggart, que ficou muito famoso no mundo inteiro no fim dos anos 80 e início dos 90 com seu programa televisivo de culto religioso, que era transmitido por mais de 3.000 estações de rádio e TVs a cabo semanalmente no mundo inteiro.
Também escritor, radialista e músico, a forma de Jimmy Swaggart de guiar o culto com músicas alegres onde ele mesmo tocava piano, histórias, pregação e ensinamentos fundamentalistas influenciou muitos pastores da geração seguinte, provando seu sucesso.
Contudo, devido ao fato de ser pastor e ostentar status, passava a ideia de reputação e moral ilibada. Até mesmo fazia questão de, envolto em indignação, protestar contra o adultério de outros pastores como Marvin Gorman e Jim Bakker, fazendo duras críticas.
Mas como a vida é cheia de doces ironias, em 1988, Jimmy Swaggart não se deu conta da própria hipocrisia e acabou sendo flagrado por um fotógrafo na companhia de uma prostituta em um motel na Luisiana. O caso gerou uma grande repercussão e seu arrependimento, choro ao vivo e pedidos de perdão não foram suficientes. Suas ações desencadearam sua suspensão e, três anos mais tarde com outro escândalo sexual, desafiliação da Assembleia de Deus e destituição do título de pastor.
Em uma época em que o Metal era ainda mais marginalizado do que ainda é, alguns artistas não perderam tempo e trataram de tecer ácidas composições abordando o fato com muito humor, sarcasmo, desaprovação e realismo.
O primeiro deles foi o lendário Ozzy Osbourne por meio da canção “Miracle Man”, que abre o álbum “No Rest For The Wicked”, de 1988. A letra faz duras críticas e chega a mencionar diretamente seu nome, como em “agora Jimmy foi pego com as calças arreadas”. Entre acusações de hipocrisia, de ser um “demônio com um crucifixo” e pecador, Ozzy Osbourne refrisa o tempo inteiro no refrão que o “homem milagre – foi pego!”.
Um ano mais tarde, Lou Reed faz a mesma menção ao pastor através da faixa “Strawmen”, a décima terceira do álbum “New York”. Ao longo de uma letra que critica a ganância, luxúrias desnecessárias e exacerbadas, muito com poucos e pouco com muitos, em um trecho é dito “será que alguém precisa de um carro de $60 mil dólares? Será que alguém precisa de outro presidente? Ou os pecados de Swaggart partes 6, 7, 8, e 9? Ah…”.
Em 1990 foi a vez dos britânicos do Iron Maiden darem a sua alfinetada ácida com a faixa “Holy Smoke”, a segunda do álbum “No Prayer For The Dying”, de 1990. Assim como no caso do Lou Reed, a faixa critica a ganância, mas com maior ênfase nos líderes religiosos, deixando clara a desaprovação pela exploração da fé em troca de dinheiro promovida por eles. “Eles salvam sua alma em troca de seu dinheiro. São moscas em volta de merda, abelhas em volta do mel”. Também tão acidamente quanto no caso do Ozzy, o nome de Jimmy é diretamente mencionado no trecho “Jimmy Réptil e todos os seus amigos dizem que estarão com você até o fim, queimando discos, queimando livros… são soldados sagrados com aparência nazista”, referindo-se ao pastor como uma víbora e ironizando sua hipocrisia com muita veemência como demonstra o trecho “eu vivi em sujeira, eu vivi em pecado, mas ainda assim eu sou mais limpo que você”. Onde há fumaça, há fogo, e essa “fumaça é santa”.