No sábado do dia 23 de fevereiro, mesmo com todo o Recife já respirando o clima do carnaval, e com o festival Pré-Amp ocorrendo no Cais da Alfândega, no Recife Antigo, ainda assim houve espaço para o rock pesado ecoar no Burburinho Bar, localizado no mesmo bairro.
A noite prometia muito peso com o Jimmy & Rats, novo projeto do vocalista Jimmy London, ex-Matanza, onde eles fariam seu primeiro show fora do Rio de Janeiro, contando com a abertura das bandas locais Cospefogo, Cabalafoice e Diablo Motor.
Antes das apresentações se iniciarem, os fãs que pagaram o pacote do Meet & Greet puderam subir no andar superior do Burburinho para acompanhar o fim da passagem de som do Jimmy & Rats, e depois trocar uma ideia com os caras da banda na parte de baixo da casa, aproveitando o open bar de chope oferecido pela produção.
O Meet & Greet teve um formato até interessante, pois invés de ser aquela coisa das pessoas entrarem em grupo em uma sala, onde os integrantes estariam sentados lá parados esperando para dar autógrafos, bater fotos, e conversar com os fãs de forma rápida com o tempo contado, a dinâmica funcionou de forma como se o Jimmy & Rats estivessem pelo bar interagindo com as pessoas normalmente, tomando uma, e curtindo a banda tocando no palco (a qual falaremos daqui a pouco).
O único problema é que para alguns que estavam lá e pagaram pelo pacote, não estava muito claro como funcionaria esse Meet & Greet, pois quando Jimmy finalmente desceu do andar de cima do Burburinho para interagir com os fãs, ele esperou mais que eles o abordassem para trocar uma ideia. E com isso, a impressão que deu é que algumas pessoas acabaram não falando com ele por não terem essa informação de como a coisa funcionaria.
Durante o Meet & Greet, consegui trocar umas rápidas palavras informais com Jimmy London, tendo feito três perguntas para ele.
A primeira, foi sobre como o Matanza tinha segurado o tranco de fazer dois shows na mesma noite aqui em Recife, na vez em que eles tocaram no Estelita em março do ano passado. Ele disse que foi uma experiência intensa, mas que eles conseguiram fazer bem, e também revelou não ter sido a primeira vez que o Matanza fez isso, tendo em uma ocasião sido dois shows em cidades diferentes.
A segunda foi sobre futuros trabalhos do Jimmy & Rats, onde ele disse que após o EP e um single, o grupo estava preparando novidades.
Já na terceira, perguntei o que ele teria a dizer sobre a volta repentina do Matanza, onde ele não quis dar maiores declarações sobre o assunto, dizendo apenas que a banda tinha acabado em outubro de 2018, e assuntos de outros grupos não lhe dizia respeito.
Agora finalmente falando dos shows, vamos voltar para o momento em que mencionei sobre uma banda tocando na parte de baixo do Burburinho enquanto ocorria o Meet & Greet do Jimmy & Rats, sendo essa banda a Cospefogo.
Alguns podem até criticar esse detalhe, mas eu gostei dessa ideia do evento começar no andar de baixo, não só pela dinâmica que foi dada ao Meet & Greet, mas também por ser algo novo (pelo menos para mim).
O show da Cospefogo se destacou principalmente por conta da presença de palco de todos os quatro integrantes, tendo eles esbanjado energia do início ao fim, principalmente o vocalista Mau Victorino (que em um momento deu uma de ‘Freddie Mercury’ e cantou com metade do pedestal na mão).
A banda conseguiu com seu rock n roll rápido, cheio de riffs, e em português, fazer um ótimo “esquenta” para os outros shows da noite, e ainda tendo a honra de serem assistidos de perto pelos próprios integrantes do Jimmy & Rats.
De início, o show da Cospefogo começou tendo apenas os participantes do Meet & Greet dentro da casa, tendo o público geral sido liberado para entrar no bar apenas do meio para o fim do show de abertura, mas falarei sobre esse fato com mais detalhes no final do texto.
Após quase uma hora de apresentação, a Cospefogo encerrou o seu show na parte de baixo do Burburinho sob fortes aplausos dos presentes. A partir dali, o evento seguiria seu rumo no piso superior da casa com a banda Cabalafoice.
SETLIST:
01 Endiabrada
02 Tatuagem de Tubarão
03 Flex Power
04 Vem Quente, Que Estou Fervendo (Erasmo Carlos cover)
05 Bafo de Dragão
06 Aurora
07 Valentine
08 Carro
09 Barril de Pólvora
10 Distopia
11 Mr. Heartbreaker
Antes de começar a falar do show, preciso ressaltar a melhora que foi feita no palco do piso superior do Burburinho, tendo agora um pouco mais de espaço para as bandas se movimentarem (ainda não está em alto nível, mas comparado ao apertado que era antes, já é um avanço).
Mais ou menos 10 minutos após o fim do show da Cospefogo, a Cabalafoice iniciou sua apresentação, abrindo os trabalhos no andar superior para um público ainda pequeno na área.
A Cabalafoice tem uma proposta interessante, eles misturam ritmos regionais como o manguebeat e o coco, com o peso das guitarras do rock. Apesar deles com certeza terem influências em Nação Zumbi (tanto que o percussionista deles também toca alfaia), não dá para encaixa-los no Manguebeat, já que o som deles abrange muito mais coisas.
Foi um som que podemos chamar de “genuinamente pernambucano”, o que combina principalmente com a época do carnaval em que estamos, período onde a cultura do Estado é ressaltado cada vez mais.
Como disse anteriormente, o público na parte do superior do Burburinho ainda estava em menor número, então bem por isso que o mesmo não interagiu tanto com a banda, tendo no máximo acompanhado o grupo com palmas no momento em que eles tocaram um coco.
Para mim, duas coisas se destacaram durante a apresentação deles. Primeiro, a versatilidade do percussionista do grupo, e segundo, a presença e carisma do guitarrista Zé Façanha, principalmente durante o coco.
SETLIST:
01 Abertura + Tua Cultura
02 Ladeiras do Samba
03 Vou Com Tudo
04 Missão de Paz
05 Cidadão em Crise
06 Orixá
07 Cabalafoice
08 Estrategicamente Posicionado
09 Regional
10 Na Contramão
11 Coco (Mazuca de Agrestina + Dona Amara)
12 Caboclo Nordestino
Encerrada a boa apresentação da Cabalafoice, se iniciava a expectativa para o início do show da veterana Diablo Motor.
Essa não foi a primeira vez em que vi o Diablo Motor ao vivo, no caso, já tinha visto eles quando a banda abriu para os Raimundos em 2013. Na ocasião, o vocalista Rafael Sales ainda fazia parte do grupo.
Seis anos depois, finalmente iria voltar a ver uma apresentação deles, mas dessa vez com o guitarrista Filipe Cabral assumindo os microfones.
Assim como na apresentação da Cabalafoice, durante o show do Diablo Motor o público preferiu mais ficar bebendo na parte do baixo do bar do que no piso superior acompanhando a apresentação.
De qualquer forma, o quarteto conseguiu mostrar com maestria o peso do seu Hard Rock em português, apresentando as músicas dos seus dois discos lançados, o homônimo de 2013, e o “Inflama” de 2018.
Além disso, a banda também tocou dois covers, sendo esses das músicas “Feel Good Hit Of the Summer” da banda Queens Of The Stone Age, e “Breed” do Nirvana, onde ocorreu uma pequena roda punk por parte do público.
Agora, fazendo um pequeno comparativo com o último show que vi deles em 2013, podemos dizer que a saída de Rafael pesou um pouco, mas não no quesito vocal, e sim na parte de “presença de palco”.
Filipe não é nenhum mal vocalista, mas como ele é guitarrista também, certamente para ele não é possível ter a mesma energia que um cantor solto teria na apresentação, tudo bem que há vocalistas que conseguem esbanjar presença mesmo tocando um instrumento, mas são casos e casos.
Talvez eu esteja pedindo demais (possivelmente sim), mas uma coisa é fato, a energia intensa que senti durante o show deles que vi há 6 anos não se repetiu ali no Burburinho. Mas enfim, vida que segue.
SETLIST:
01 Ultimato
02 Réquiem
03 A Mesma História
04 Anti-Zen
05 V
06 Não Quero Te Entender
07 Vietnã
08 Feel Good Hit Of The Summer (Queens Of The Stone Age cover)
09 Sem Moderação
10 Breed (Nirvana cover)
11 Mais Que Três
Encerrada a apresentação do Diablo Motor, todo o Burburinho entrava na expectativa para o show do Jimmy & Rats, principal atração da noite.
Certamente, nesse momento, todo mundo que estava na parte de baixo do Burburinho subiu para o piso superior a espera do início da apresentação. O intervalo entre o show do Diablo Motor e do Jimmy & Rats acabou sendo o que mais demorou. Possivelmente a justificativa seria por conta da quantidade de instrumentos que a última banda utiliza.
Com o relógio já próximo de meia-noite, finalmente o Jimmy & Rats subiu ao palco do Burburinho, levando as mais de 200 pessoas na casa a loucura.
A banda intercalou seu repertório com músicas do próprio Rats, e também com clássicos do Matanza, tendo inclusive o show se iniciado com “A Arte do Insulto”.
Além desse, o público presente também cantou junto com a banda do início ao fim, músicas “Rio de Whisky”, “Tempo Ruim”, “Naufrágio”, “Todo Ódio da Vingança de Jack Bufalo Head”, “Escárnio”, a inédita “Sol Menor”, e outras.
A apresentação começou intensa, principalmente após a segunda música (Do Meu Jeito), onde a guitarra acabou tendo uma das cordas toradas.
Certamente, o show foi parado por um momento para que o problema fosse resolvido, tendo logo em seguida a banda arrumado outra guitarra, apesar deles não terem se entendido com a mesma pelo resto da apresentação, pois o instrumento estava com algum mal contato, fazendo-o chiar constantemente.
Mas claro, isso não fez que a energia do show abaixasse em nenhum momento.
O público correspondia bem a energia da banda no palco, mas ainda faltava uma coisa essencial, que era a roda punk, tendo a primeira sido formada apenas após Fernando Gajo (acordeão) descer do palco e instigar o mosh ele mesmo.
Após isso, alguns outros moshs foram formados em momentos específicos da noite, como no momento em que foram executadas as músicas “Todo Ódio da Vingança de Jack Bufallo Head” e “Ela Roubou Meu Caminhão”.
Em certos momentos, a impressão que se tinha era de estar em um show do Matanza, e não falo isso apenas pelas músicas que foram tocadas, mas também por conta da forma que Jimmy interagia tanto com o público, quanto com a própria banda, e pelo fato deles também não darem intervalos entre uma faixa e outra na maioria das vezes, da mesma forma feita pelo Matanza.
Mas o principal “highlight” da noite foi quando Jimmy, pela primeira vez, cantou e tocou violão ao mesmo tempo quando a banda executou a nova faixa “Sol Menor”, a qual eles dedicaram ao calor infernal do Rio de Janeiro (sua cidade natal) e de Recife.
Além do repertório do Rats e do Matanza, o grupo também tocou três covers, sendo eles “Don’t Think Twice, It’s All Right”, do Bob Dylan, “Redemption Song” do Bob Marley, e “War Pigs” do Black Sabbath, faixa escolhida para encerrar a noite.
Após um pouco mais de uma hora de show, o Jimmy & Rats encerra sua apresentação entregando ao público recifense aquilo que eles esperavam, um show pesado, sujo e ofensivo.
SETLIST:
01 Carmina
02 A Arte do Insulto
03 Do Meu Jeito
04 Medo
05 Escárnio
06 O Velho e o Cão
07 Sabendo Que Posso Morrer
08 Naufrágio
09 Lobo do Mar
10 Rio de Whisky
11 Tempo Ruim
12 Redemption Song (Bob Marley cover)
13 Todo Ódio da Vingança de Jack Bufallo Head
14 Somos Nós
15 Don’t Think Twice, It’s All Right (Bob Dylan cover)
16 Sol Menor
17 Ela Roubou Meu Caminhão
18 War Pigs (Blac Sabbath cover)
Agora, vamos entrar finalmente nas considerações finais sobre a noite.
Antes de tudo, falando do público. De início eu esperava uma platéia em número maior (não que tivesse ido pouca gente) principalmente pelo fato do show ser do novo projeto do Jimmy London. Mas, isso deve ser o fato de que o nome Jimmy & Rats ainda não deve ter a mesma potência que o Matanza tinha, e falo isso porque já fui em seis shows da ex-banda do Jimmy, e em todas deu casa cheia, isso sem falar no fato que bastava a banda entrar no palco para o “pandemônio” se iniciar na pista com as rodas punks, que duravam até o fim da apresentação. Como já relatado aqui, o mesmo não ocorreu no show do Jimmy & Rats.
Mas de qualquer forma, a casa pode não ter lotado, mas o público que foi ao Burburinho foi muito bem receptivo com a banda, e isso é o que importa no fim das contas.
Sobre os shows de abertura, quando comentei com algumas pessoas do fato da Cospefogo ter tocado na parte de baixo do Burburinho para a galera do Meet & Greet, alguns criticaram, mas sinceramente, é bem capaz do número de pessoas que viram o show deles embaixo ter sido igual ao número dos que viram as bandas que tocaram no piso superior, falo isso porque como mencionei anteriormente, a maioria do pessoal estava bebendo na parte de baixo do bar durante os shows da Cabalafoice e do Diablo Motor. Lembrando que naquele dia, só estava dentro do Burburinho aqueles que pagaram ingresso para o evento em questão.
E até mesmo por isso, uma dinâmica que poderia ter sido interessante era a de intercalar os shows nos palcos de cima e de baixo, ou seja, o Diablo Motor ter tocado embaixo. Fica ai essa sugestão para futuros eventos do tipo.
E sobre o som da casa, no andar de cima estava perfeitamente limpo, se ouviu muito bem o show de todas as bandas que lá tocaram. O mesmo não posso dizer do som do palco de baixo, onde em alguns momentos a guitarra ficava mais baixa em relação aos outros instrumentos.
No mais, os presentes saíram satisfeitos do Burburinho após mais um evento para se guardar na memória.