Hoje em dia, segundo o senso comum, tudo é mais rápido.

Tudo, menos a produção criativa individual das bandas. É impensável que, na atualidade, uma banda lance seu álbum de estreia e, menos de seis meses depois, venha a sequência. Porém, voltando 50 anos no tempo, isso era quase corriqueiro.

Essa era a época em que o Heavy Metal ainda não era uma realidade consumada, mas era um ser que já rasgava o ventre que o continha, abrindo o caminho com suas unhas, buscando ver a luz do dia – ou a escuridão da noite, como poderia parecer mais adequado – e estabelecer o seu domínio.

Anos depois, as bandas que anteciparam o fenômeno foram retroativamente batizadas de Proto Metal. O mesmo ano de 1968 já tinha visto surgir alicerces profundos do estilo como Blue Cheer e Steppenwolf. Iron Butterfly veio na sequência para complementar esse panteão.

Como foi sugerido lá no começo, a banda americana já tinha debutado em janeiro, mas o álbum que se tornaria seu mais reconhecível marco foi o presente disco, de nome enigmático. Muitas teorias já foram divulgadas sobre qual seria o verdadeiro significado da expressão “In-A-Gadda-Da-Vida”, algumas com mais crédito do que outras, mas, no fim das contas, é apenas uma expressão onomatopéica, tão repleta de sentido quanto “Wop-bop-a-loo-mop alop-bom-bom”, por exemplo.

O que importa, de fato, é que a canção se tornou um número antológico. Parte por seu título estranho, parte por sua longa duração, mas principalmente, por sua levada marcial cadenciada, seu riff marcante e inesquecível. De certa maneira, a música título revela-se como uma versão distorcida das longas digressões sonoras que The Doors apresentou em seu primeiro disco, um ano e meio antes, mantendo até mesmo o diálogo entre teclado e guitarra que eram a cereja no bolo de músicas como “Light My Fire” em seu longo trecho instrumental.

Ocupando todo o lado B do vinil original, a canção seria o mais improvável dos singles e, portanto, foi editada para as rádios, mas não há dúvidas que a sua relativa estranheza foi o catalisador dos motivos que a colocaram como peça de divulgação, pois o Lado A do álbum estava repleto de faixas que poderiam ter exercido papel semelhante. Os timbres de teclado evidenciados, que eram perfeitos reflexos da psicodelia sessentista, já tomavam a dianteira em músicas como “Most Anything You Want”, que não escondia a sua vocação para hit. A faixa seguinte, “Flowers and Beads”, mais tendenciosa para uma espécie de balada, soava como se a banda tivesse feito a releitura de uma música de baile, com a voz de Doug Ingle assumindo ares de crooner.

Ingle era o principal compositor e intérprete no Iron Butterfly, mas Lee Dorman e Erik Brann contribuíram com a curtíssima “Termination”, cantada pelo último e dona de algumas cativantes melodias. “My Mirage” trazia reminiscências de Yardbirds que podem reforçar as lendas a respeito de um suposto interesse de Jeff Beck em ter se juntado ao grupo no período anterior a gravação deste álbum, que se complementa com a canção “Are You Happy”.

A cada ano – e esse é um aforismo que pode ser aplicado para cada unidade que se soma ao passar do tempo – surge algum disco que abrirá uma nova vertente, uma nova possibilidade musical, mas decerto que a marca de meio século tem significados que agregam peso maior a sua representatividade. Peso histórico inserto ao momento em que o peso sonoro avançava casas. O Iron Butterfly foi um dos que souberam canalizar os elementos disponíveis e fincar um ponto de referência, um sinalizador que ajudou a guiar tantos que buscavam direcionamento mas não encontravam as vias de acesso.

Formação

Erik Brann – guitarra, vocal

Ron Bushy – bateria

Lee Dorman – baixo

Doug Ingle – órgão, vocal

Músicas

01 Most Anything You Want

02 Flowers and Beads

03 My Mirage

04 Termination

05 Are You Happy

06 In-A-Gadda-Da-Vida