Antes de começar, faz-se necessária a explicação da ideia conceitual que existe por detrás do finlandês Vainaja, já que a mesma é de suma importância para a compreensão não só do álbum, como também de todo clima que o permeia.
Todo o conceito estilístico da banda se baseia em uma história de ocultistas do século XIX, que atuaram em uma pequena cidade rural da Finlândia, o Culto de Vainaja, e que induziram o caos entre os paroquianos da região. Pouco conhecimento se tem a respeito do mesmo, já que não restaram muitos resquícios da seita, mas sabe-se que o foco se dava em três figuras. O pregador local (The Preacherman), Wilhelm, o cantor da Igreja (The Cantor), Kristian, e o coveiro louco (The Gravedigger), Aukusti. Os cultos eram realizados na mansão do cantor, que se encontrava adjacente a Igreja, e nos mesmos, além de blasfêmias, ocorriam assassinatos rituais e subjugação de moradores que eram enterrados vivos. Tal culto encontrou seu fim quando seus membros foram condenados a serem queimados vivos no altar da Igreja local.
Aparentemente, nas ruínas da mansão do cantor foram encontrados alguns materiais que levantam uma luz sobre o culto, dentre eles, um tomo de 6 capítulos intitulado Verenvalaja, que especula-se, faz parte de um livro maior de 17 capítulos, estando assim 11 deles ainda perdidos. O trabalho de estreia do Vainaja, Kadotetut (14), foi feito com base em sermões tradicionais do pregador Wilhelm Waenaa, que foram reunidos de forma aleatória com tal intuito. Já em seu novo trabalho, o trio se baseia no livro, que aparentemente descreve de ressurreição de Wilhelm.
Verenvalaja é a continuação natural do debut da banda, e aqui podemos perceber que o Vainaja tornou sua música mais dinâmica e variada, mas sem alterar de forma significativa o que foi apresentado. A adição de algumas melodias ajudou nesse resultado, assim como os vocais limpos que surgem em determinados momentos. Por sinal, esses ajudaram a maximizar o clima claustrofóbico das canções. Ainda sim, tais melodias não suavizaram em nada a sonoridade do trio finlandês e não soa exagerado dizer que esse trabalho é ainda mais pesado que a estreia.
Na abertura, como “Risti”, já notamos o maior dinamismo citado. Os vocais limpos, quando surgem, dão um tom mais lúgubre à música e os riffs, pesados e arrastados, passam aquela sensação de medo que permeia toda a audição do álbum. Os elementos mais melódicos dão as as caras em “Sielu”, faixa seguinte. Uma das canções mais esmagadoras aqui presentes, possui riffs bem fortes e uma atmosfera bem densa e assustadora. Essa atmosfera se mantêm “Usva”, melhor faixa de Verenvalaja. Com seus quase 11 minutos, possui partes ambientais que maximizam seu clima aterrorizante. Seus riffs sinistros e os guturais que parecem vir das profundezas do inferno, transmitindo uma forte sensação de caos e dor. Já “Valaja” é outra que se destaca pelo ótimo trabalho da guitarra e por vozes assustadoras que surgem em seu final, enquanto “Kultti” soa como uma versão mais maligna do Black Sabbath e os sintetizadores dão a ela algo de psicodelismo típico dos anos 70. O encerramento com “Kehto” é o momento mais experimental de Verenvalaja. Pendendo mais para o Funeral Doom, tem inserida em si alguns elementos eletrônicos bem sutis.
A produção do álbum é muito boa, tendo sido realizada pela própria banda, também responsável pela mixagem, exceto no caso da bateria, que foi feita por Jarno Hänninen. A masterização ficou nas mãos do mestre Dan Swanö e o resultado final de tudo isso é excelente, já que o som soa vivo! Além disso, também tivemos as participações especiais de Lasse Pyykkö, do Hooded Menace, nos solos de “Sievu” e “Usva” e de Jarkko Nikkilä, do Valonkantajat, responsáveis pelos vocais limpos em “Risti”, “Sievu”, “Usva” e “Kehto”.
Por todo o conceito que os cerca e por toda a categoria e criatividade mostrada em suas composições, não soa exagero afirmar que o trio formado por The Preacherman (vocal, baixo e pregação), The Cantor (guitarra e cantando) e The Gravedigger (bateria e cavando sepulturas) é uma das bandas mais interessantes do cenário do Metal atual, apesar de desconhecida de grade parte do público. Esbanjando peso e com um clima ritualístico que dá a sua música um ar maligno e perturbador, Verenvalaja é um álbum essencial para os amantes de Death/Doom .