Hidden Treasures: Obtained Enslavement – Witchcraft (1997)

Em meados dos anos 90, tivemos a 3ª onda do Black Metal, onde bandas que fugiam um pouco das características conhecidas do estilo até então, ganharam proeminência no cenário. Nomes como Dimmu Borgir, Cradle of Filth e Old Man’s Child se tornaram comuns tanto em grandes festivais, quando na mídia especializada, que não tardou de rotulá-las como Black Metal Melódico, ou Black Metal Sinfônico. Em comum, o uso extensivo de riffs melódicos em suas músicas, e a utilização de sintetizadores para emular elementos orquestrais e instrumentos de música clássica. E é justamente desse período que vêm o álbum do qual falaremos hoje no Hidden Treasures, “Witchcraft”, da banda norueguesa Obtained Enslavement.

Formada em 1989 por Pest (vocal), anos antes desse se consagrar como vocalista do Gorgoroth, Døden (guitarra) e Torquemada (bateria/percussão), com uma pegada inicial mais Death Metal, a banda lançou duas demos no início da década de 1990, e debutou com o ótimo “Centuries of Sorrow”, em 1994. Mais foi 3 anos depois, que se destacaram com aquele que é sem dúvida, um dos melhores álbuns lançados com o rótulo de Black Metal Sinfônico até os dias de hoje, o espetacular “Witchcraft”.

Mas o que faz desse um verdadeiro tesouro do estilo? Gravado no ano de 1996 no icônico  Grieghallen Studio, local onde foram gravados verdadeiros clássicos do Black metal, como “De Mysteriis Dom Sathanas” (Mayhem), “Pure Holocaust” (Immortal), “In the Nightside Eclipse” (Emperor), “Pentagram” (Gorgoroth), dentre outos, e já com uma formação de quinteto — completada por Heks (guitarra/teclado) e Tortur (baixo) —, “Witchcraft” consegue mesclar com perfeição única, a natureza neoclássica do Black Metal Melódico/Sinfônico, com a brutalidade e o ódio daquilo que muitos chamam de “True Black Metal”.

A característica mais marcante de “Witchcraft” é sem dúvida, que, durante toda a extensão do álbum, é utilizada a técnica do contraponto, onde os instrumentos tocam melodias diferentes de forma simultânea, mas fazendo com que isso soe como um todo. É comum as guitarras estarem tocando melodias levemente diferentes, e o sintetizador entrar com uma terceira melodia, que tem a função de criar a atmosfera da música. A forma como tudo isso se harmoniza ao final é simplesmente inexplicável, dando profundidade e complexidade melódica às canções.

Como já dito, a banda consegue equilibrar muito bem todas as suas facetas. Você vai encontrar aqui um Black Metal clássico, odioso e esmagador, mas, ao mesmo tempo, as melodias e características do Sinfônico se fazem presentes. Os vocais soam infernais, e as guitarras são responsáveis por uma quantidade absurda de riffs, quase sempre marcantes. São elas também que entregam ótimas melodias, mas na medida certa para a música não perder sua rispidez. A parte rítmica também se destaca, com o baixo cumprindo bem o seu papel, a bateria soando não menos que explosiva. Já os sintetizadores são um caso a parte, assumindo não só a função de criar a atmosfera das canções, como também tomando para si o papel de coro, cordas, cravo, piano e órgão. Inclusive, em muitas passagens, ele consegue criar um clima Folk/Medieval que enriquece ainda mais o trabalho.

Não vou ficar aqui apontando as músicas que mais se destacam, porque tudo aqui é brilhante. Mesmo as instrumentais que abrem e fecham o álbum, soam pertinentes. A produção é um caso a parte, e soa perfeita para  o estilo. Aquela crueza que  se espera de um álbum de Black Metal, é aliada a clareza dos instrumentos, que conseguem ser ouvidos em sua totalidade. Simplesmente perfeita.

Se você é fã de Black Metal, mas por algum motivo ainda desconhece essa obra-prima intitulada “Witchcraft”, está aqui a oportunidade de começar a recuperar o tempo perdido.

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