Saindo brevemente das agradáveis águas do mar Mediterrâneo e indo para a Europa Central, nesta última viagem do Heavy Metal Pelo Mundo de 2020 vamos visitar a Hungria e descobrir como é o seu cenário musical pesado, bem como algumas de suas bandas. Vamos lá?
Localizada na região conhecida como Bacia dos Cárpatos, a Hungria (Magyarország, no original) faz divisa com a Eslováquia (norte), Romênia (leste), Sérvia (sul), Croácia (sudoeste), Eslovênia (oeste), Áustria (noroeste) e Ucrânia (nordeste). Tendo como idioma oficial o húngaro, sua capital e cidade mais populosa é Budapeste e sua população é estimada em quase 10 milhões de habitantes, espalhados por uma área total de 93.030 km² – que por sua vez são divididos administrativamente entre sete regiões, dezenove condados e 173 sub-regiões (vilas, cidades ou condados urbanos). Como pontos turísticos a Hungria oferece, entre os seus principais atrativos naturais, o Lago Balaton, as cavernas do Parque Nacional de Aggtelek, e ainda a Basílica de Santo Estevão, o Castelo de Eger, entre alguns outros.
A história do país remonta ao final do século IX, sendo fundado pelo grão-príncipe húngaro Arpades (850 – 907) no episódio conhecido como “Honfoglalás” (“conquista da pátria”), após o território ter sido sucessivamente ocupado ao longo dos séculos pelos povos celtas, romanos, hunos, eslavos, gépidas e ávaros. Entretanto, durante a Idade Média, seria a vez do Império Otomano ocupar a região por um longo período, de 1541 até 1699. Após ser dominado pela Casa de Habsburgo, o país – juntamente com a Áustria – seria parte importante do Império Austro-Húngaro, que durou de 1867 a 1918, mas foi apenas depois da Primeira Guerra Mundial que suas atuais fronteiras foram estabelecidas, através do Tratado de Trianon (1920). A partir de 23 de outubro de 1989 o país se tornou novamente uma república parlamentar democrática, após quatro décadas sob influência da União Soviética e seu governo comunista.
Do ponto de vista musical, pensando rápido, é fácil mencionar como um de seus principais representantes a banda Ektomorf, que surgiu em meados dos anos 90 e apresenta uma sonoridade bastante influenciada por Sepultura. Além disso, voltando algumas décadas e mudando completamente de estilo, o Locomotiv GT também figura entre os principais nomes do país, voltado ao Hard Rock e ao Rock Progressivo, com período de atividades de 1971 a 1992 e de 1997 a 2016. Outro nome com reconhecimento internacional é o do vocalista Attila Csihar, que gravou os vocais do álbum ‘De Mysteriis Dom Sathana’ (1994), do Mayhem e que a partir de 2004 passou a integrar oficialmente a polêmica banda norueguesa. Além disso, participa de outros projetos como Sinsaenum, Gravetemple, Tormentor, entre outros.
Em relação a festivais, podemos citar o Rock Marathon Hungary e o Volt Festival – esse último sendo mais abrangente, contando também com atrações de outros estilos.
Com um número significativo de bandas (mais do que eu poderia imaginar, se me permitem a confissão) e até mesmo de gravadoras, como de costume escolhi oito nomes distintos para termos uma breve noção do cenário húngaro, em se tratando de Rock e Heavy Metal.
ACTION
Para quem curte um mix bem equilibrado entre Heavy e Groove Metal, não pode deixar de conhecer o Action, que apesar do nome em inglês, tem suas letras compostas exclusivamente em húngaro. Suas atividades foram iniciadas em 1994 e duraram até 2002, mas após uma década sem lançamentos, a banda retornou em 2012. Ao todo, são oito álbuns de estúdio até o momento, sendo o último, ‘Ébredő Erő’, de 2018.
AETHERIUS OBSCURITAS
A pegada primeva do Black Metal também se faz presente na Hungria, tendo como um de seus partidários o Aetherius Obscuritas, que tem na figura de Viktor “Arkhorrl” Vágvölgyi a sua força motriz – amparado ainda pelo baterista Zson. Tudo começou em 2002, mas a estréia oficial foi apenas dois anos depois com o debut independente ‘Az éjszaka császára’. De lá para cá, outros sete álbuns foram lançados. Nas composições, apesar do seu idioma natal ser predominante, ao longo dos discos é possível se deparar também com algumas faixas em inglês.
BEYOND
O Beyond é um antigo representante do Thrash Metal nas terras da condessa Elizabeth Báthory, com seu primeiro registro, a demo ‘Black Magic Night’, tendo sido lançado em 1986. Entretanto, informações dão conta que o início das atividades em si datam de um pouco antes: 1982. Após algumas outras demos, o primeiro álbum completo sairia apenas em 1994, ‘Tömik a fejed’, através da PolyGram. Coincidência ou não, o Beyond também tem grande parte de suas letras escritas em húngaro, muito embora dois, dos seus seis álbuns, sejam exclusivamente em inglês.
BLOODCROWN
Se até aqui mostrei bandas com anos de carreira, agora é a vez de uma novata: Bloodcrown. Com apenas quatro anos de história, a banda vem da capital Budapeste e entrega aos ouvintes um competente Melodic Death Metal. Como não poderia deixar de ser, a modesta discografia apresenta apenas o EP ‘Forthcoming Darkness’, de 2018 e o álbum ‘Miscreant’, que foi lançado no último dia 06 de junho.
DALRIADA
Uma nação com séculos de existência obviamente seria homenageada com a vertente folclórica do Metal e o Dalriada o faz com bastante orgulho. Lá se vão dezessete anos de trajetória e dez álbuns de estúdio. Como material mais recente, a banda composta por András Ficzek (vocal e guitarra), Laura Binder (vocal, flauta e violino), Mátyás Németh Szabó (guitarra), István Molnár (baixo), Ádám Csete (gaita, flauta, violão e backing vocal), Gergely “Szög” Szabó (teclados e backing vocal) e Ádám Monostori (bateria), tem o single ‘Ezer csillag’, deste ano.
DEVIL SEED
Com o nome possivelmente inspirado pela composição de mesmo nome, presente no álbum ‘King of the Grey Islands’ (2007), do Candlemass, o Devil Seed traz ao mundo mais uma opção em se tratando do chamado Epic Doom Metal. Tendo em sua linha de frente a vocalista Stragessa, a banda é completada por Rev. Hopkins (guitarras), Father Black (teclados), Elshadai (bateria) e Akephalos (baixo). O disco autointitulado foi liberado em 11 de fevereiro deste ano.
IDEAS
Outra banda com um tempo considerável de atividades no cenário húngaro e com vocal feminino é o Ideas! Tendo surgido em 1994, a banda estreou com ‘Maze (Portrait of Our Race)’ em 1998 e não parou mais. Entre mudanças consideráveis na formação durante todos esses anos, foram lançados (até o momento) sete full length. Como fato interessante, pode-se destacar que a partir de ‘Ébredés / Revival’ (2006) a banda passou a fazer lançamentos duplos, com um disco cantado em húngaro e o outro em inglês! Ah, e o estilo? Um Symphonic/Gothic Metal bastante interessante e diversificado!
PERFECT SYMMETRY
O Perfect Symmetry fecha a nossa matéria de hoje, com um estilo que não poderia faltar aqui: o Prog Metal! Apesar de 1995 ser a data de sua fundação, o primeiro disco ‘The Human Machine’ foi lançado apenas em 2001, enquanto que o segundo ‘Szabad Akarat’ saiu oito anos depois. Ampliando um pouco mais sua bagagem, ‘Tökéletes szándék’ (2012) é o terceiro trabalho completo, sucedido pelos EPs ‘Valtozom’ – do mesmo ano – e ‘Kezdet’, de 2016. Além disso, ainda tem-se a participação da banda no tributo “Somewhere in Hungary – Tribute to Iron Maiden” (2002), com a música “The Evil That Men Do”.
Buscando apresentar um pouco de cada vertente do Heavy Metal, além da costumeira qualidade encontrada em bandas que geralmente a maioria de nós jamais teria o prazer de conhecer, nota-se, pelo menos nos exemplos de hoje, a preocupação e o respeito dos músicos em compor em sua língua nativa, e também a permanência no cenário de bandas com mais tempo de atividades e o surgimento constante de novos nomes.
O quadro Heavy Metal Pelo Mundo retorna em 2021 – no dia 08 de janeiro, para ser mais específico – e na oportunidade agradeço a todos que nos acompanharam até aqui, ao longo deste complicado ano. Sob a responsabilidade de uma equipe formada, atualmente, por seis redatores (que se revezam individualmente a cada semana), foram apresentados até aqui quase 50 países diferentes e algumas centenas de bandas, em matérias que trouxeram além da música, um breve panorama cultural e geográfico de cada uma das nações abordadas, mostrando de uma vez por todas que não existem fronteiras para a Música!
Boas Festas e até o ano que vem!!