Botswana? Isso é um país? Como se pronuncia esse nome? Onde diabos fica esse país?
Calma, jovens! Compreendo-vos. A Botswana não é um dos primeiros países que vêm a sua cabeça se a Geografia mundial não é um de seus principais interesses. Então, preparem-se, pois é para lá que o nosso avião zarpará hoje. Apertem bem os cintos. Em caso de necessidade, máscaras de oxigênio cairão por sobre vossas cabeças.
A Botswana, cuja capital é a cidade de Gaborone, é um país africano que fica localizada ao norte da África do Sul (não confundir com “Sul da África do Norte”, inexistente país de onde veio um dos jogadores de ioiô contratados pelo Seu Madruga em um dos episódios do Chaves) que detém o recorde de democracia mais longeva da África. Eleições diretas para presidente acontecem ininterruptamente desde 1966, ano em que a Botswana se tornou independente da Inglaterra. Além disso, segundo estudos de órgãos internacionais competentes, a Botswana é o país africano com menor índice de corrupção na política. Ainda, a Botswana apresenta os maiores índices de crescimento de economia e de educação do continente. Por outro lado, é lá onde ainda se registram os dados mais alarmantes no que se refere ao contágio pelo vírus da AIDS.
Mas o nosso interesse principal desta coluna na Botswana é o Heavy Metal praticado por lá. Aquele país possui uma cena underground bastante movimentada, cuja semente foi plantada por lá ainda nos anos 70 com a chegada ao mercado local dos grandes nomes do Classic Rock e do então emergente Metal e com o surgimento da seminal banda Nosey Road.
Algo que chama bastante a atenção na cena Metal de Botswana são os figurinos usados pelos fãs. A maior parte deles usam chapéus de cowboy e roupas de couro ao estilo de motoqueiros, como se eles quisessem misturar as roupas de Rob Halford com as usadas pelo Motörhead na capa de Ace Of Spades. Afora as vestimentas, o respeito e a camaradagem entre os “irmãos de Metal” do lugar e a conexão com a espiritualidade são traços bastante específicos do underground botswanês. Devido a toda essa irmandade e parceria, alguns nomes do Metal de Botswana já conseguiram se destacar para além das fronteiras do país.
Conheçamos a seguir algumas bandas que movimentam o underground de Botswana, composto majoritariamente por Metal tradicional e por Death Metal:
NOSEY ROAD
A pioneira do Hard Rock/Heavy Metal de Botswana. Fundada por integrantes da família Sbrana, de origem italiana, o grupo influenciou o movimento Metal do país desde os anos 70. Tristemente, maiores informações sobre a história do Nosey Road, bem como música on-line, são bastante escassas.
METAL ORIZON
O grupo mais antigo de Heavy Metal genuíno da Botswana. Fundado em 1990, o grupo pratica um Heavy Metal clássico com referências ao Hard Rock oitentista que enaltece o continente africano em suas letras. O debut do Metal Orizon, Ancestral Blessings, foi lançado somente em 1998. Com longos intervalos entre os lançamentos de um álbum e outro, o quarto álbum do Metal Orizon, Kings Of Africa, só viu a luz do dia em 2018.
WRUST
Uma das bandas mais reconhecidas daquele país. A banda formada em 2000 na capital Gaborone carrega várias influências em suas músicas, que vão desde o som groovado e de baixas afinações do Sepultura até o Death Metal típico do Obituary. O Wrust possui em sua discografia dois álbuns de estúdio, Souless Machine (2007) e Intellectual Metamorphosis (2013).
SKINFLINT
Outro nome bastante renomado do Heavy Metal de Botswana. O Heavy Metal praticado por esta banda é diferente, único e muito criativo. É como se o Iron Maiden encontrasse o Metsatöll e misturassem entre si influências da música local de Botswana. Fundada em 2006 por Giuseppe e Alessandra Sbrana (sim, eles são sobrinhos dos integrantes do Nosey Road, citado dois parágrafos acima), o prolífico grupo possui seis álbuns de estúdio em sua discografia, sendo o mais recente deles autointitulado, lançado em 2018. A baterista Alessandra Sbrana também era a responsável por criar as artes de capa não só dos álbuns do Skinflint, como também do Vale Of Amonition, uma importante banda de Uganda. Ela deixou o grupo em 2019, sendo substituída por Cosmos “Cossy” Modisaemang. O baixista Kebonye “Raskebo” Nkoloso não faz nenhuma cerimônia em tocar linhas palhetadas na região aguda de seu instrumento quase que o tempo todo. Recentemente o Skinflint esteve em turnê pelos Estados Unidos abrindo para o Soulfly.
OVERTHRUST
Esta banda de Death Metal segue um caminho mais tradicional e podre do que o “Sepultura-influenced” Wrust. Fundada em 2008 na pequena cidade de Ghanzi, distante mais de 600 Km da capital Gaborone, o Overthrust leva bastante a sério a fama de “cowboys do Metal” que existe entre os headbangers de Botswana com suas vestimentas. O som do grupo remete a nomes importantes do Death Metal como Deicide, Autopsy e Morbid Angel. Em sua discografia constam um full-length, Desecrated Deeds to Decease (2015), e um EP, Suicide Torment (2019).
Países vizinhos à Botswana também possuem cenas movimentadas de Heavy Metal, todavia com informações mais escassas. Provavelmente no futuro este quadro aborde em uma matéria só o trabalho de bandas de uns quatro ou cinco países de uma vez só, como Uganda, Zimbábue e Namíbia, dentre outros. Nesta região africana, a Botswana é a que cada vez mais se destaca, junto a própria África do Sul, em termos metálicos, provando para nós, que nos achamos conhecedores do Metal mundial, que nosso tão amado gênero musical é endêmico em todos os lugares de nosso planeta, não importa o quão inusitado ele seja.
Vamos embora da Botswana. Em breve voltaremos novamente à África, mas outro dia, já que há duas semanas o talentosíssimo redator Vitor Sobreira nos apresentou o Metal egípcio. Na próxima semana, o redator Mauro Antunes assumirá o cockpit de nosso avião e nos levará para conhecer o Heavy Metal de algum outro país nem sempre lembrado pelos headbangers mundo afora. Até lá!