Estamos de volta! Após um período de recesso para que vós pudésseis descansar de nossas viagens, retomamos hoje nossas jornadas ao redor do globo rumo a países cuja cena Rock/Metall é pouco difundida mundo afora. Aliás, tenho certeza que alguns destes países você nem sequer sabia que existia!

Portanto, acomode-se como melhor lhe aprouver e aperte os cintos, pois nosso avião irá zarpar. Nosso destino de hoje é a “Rússia Branca”, a Belarus!

Belarus, também conhecida entre nós pelo nome não-oficial Bielorrússia, conseguiu sua independência política em 1991 após a queda da União Soviética. Anteriormente, o território que hoje corresponde ao de Belarus pertenceu a diversas federações e reinados como a ancestral da atual Rússia, Kievan Rus, o Grão-Ducado da Lituânia, o Império Russo e, por último, a União Soviética. Desde a época do Império, o território era chamado oficialmente de Bielorrússia, mas isso aconteceu até a independência, quando o país adotou de volta o antigo nome Belarus. O país é governado desde 1994 por Alexander Lukashenko, aquele que é intitulado “O último ditador da Europa”. Muito embora ele jamais tenha dado um golpe de estado propriamente dito e que eleições ocorram periodicamente, é notório o total controle que Lukashenko possui em todas as instâncias regulatórias do país e também as fraudes eleitorais, de modo que seu termo se torne cada vez maior com o passar dos anos. Além disso, restrições sociais e culturais ainda resistem em Belarus, fazendo-a se parecer em vários aspectos com a antiga União Soviética em seu período mais ferrenho.

A economia de Belarus é principalmente baseada em recursos naturais como petróleo e gás natural e depende muito de sua vizinha poderosa, a Rússia. A maior parte da população fala russo e por volta de 25% da mesma também fala a língua local, o belarusso. A capital e maior cidade de Belarus é Minsk. Belarus é a terra-natal do famoso artista avant-garde Marc Chagall e da escritora Svetlana Alexievich, que venceu o prêmio Nobel de Literatura de 2015. A tenista Victoria Azarenka é a mais conhecida esportista de seu país na atualidade. O time de futebol mais bem-sucedido de Belarus é o BATE Borisov, campeão de 15 das 30 edições do atual Campeonato Belarusso e presença frequente na fase de grupos da UEFA Champions League.

O Rock local começou a se desenvolver, assim como em suas coirmãs soviéticas, no fim dos anos 70. A banda Otrazheniye influenciou bastante para que uma cena Rock tenha se desenvolvido em Belarus. As bandas locais de Metal têm se engajado bastante contra o regime de Alexander Lukashenko, como mostra um vídeo com a participação de vários músicos locais se manifestando contrários as fraudes da eleição de 2020 e favoráveis aos grandes protestos que movimentaram o país no ano passado. Atualmente, uma banda belarussa tem chamado bastante a atenção nas redes sociais e sendo tema até de reportagens em importantes jornais mundo afora, o Molchat Doma.

Confira abaixo algumas das principais representante do Rock e do Metal belarusso:

ОТРАЖЕНИЕ (OTRAZHENIYE)

Originários da cidade de Mazyr, o Otrazheniye surgiu em 1978 e é considerada não só a primeira banda de Hard Rock/Heavy Metal de Belarus, mas também a pioneira do movimento Rock no país como um todo. Surgida como uma banda que procurava se adaptar às ordenanças e restrições culturais do regime soviético, mas que de alma buscava imitar e seguir os passos das bandas ocidentais, o Otrazheniye finalmente seguiu o caminho do Metal em 1986 inspirados por um show do Aria que aconteceu em Mazyr. O Otrazheniye encerrou suas atividades em 2008 deixando em sua discografia quatro álbuns de estúdio e diversos outros lançamentos. Ouça no player abaixo o álbum de estreia do Otrazheniye, Мы там, где льют металл (My tam, gde lyut metall).

МОЛЧАТ ДОМА (MOLCHAT DOMA)

Mesmo não sendo uma banda de Heavy Metal, não se pode ignorar a atual importância do Molchat Doma para o Rock belarusso. O trio Post Punk/New Wave foi fundado em 2017 na capital Minsk e rapidamente se tornou um fenômeno principalmente nas redes sociais com sua sonoridade dançante e ao mesmo tempo fria. Quanto mais o tempo passa, mais a popularidade do Molchat Doma aumenta, mas isso tudo não seria um detalhe relevante para este texto caso sua musicalidade não fosse realmente interessante. Recentemente o trio lançou seu terceiro álbum de estúdio, Monument. Ouça abaixo uma versão ao vivo de um dos sucessos do Molchat Doma, Sudno. Veja se você reconhece esta música de algum lugar da internet.

ANTI

Esta banda de Thrash Metal foi fundada em 1984 na cidade de Grodno e, aos trancos e barrancos, sobreviveu até 1997 graças a persistência de seu líder, o vocalista e guitarrista Sergey Medved. O único registro do Anti, o álbum Anger, foi gravado em 1995 e lançado oficialmente somente em 2010 após um processo de remasterização da gravação original.

ASGUARD

Esta ótima banda praticava um Death Metal melódico cheio de arranjos de teclados e de orquestrações antes que uma mudança de sonoridade os direcionasse rumo a um som Industrial, mas que ainda carregava um pouco da essência original do grupo. Fundado em 1996 na cidade de Mogilev como Ancient Castle, o Asguard permaneceu na ativa até 2009. Em 2016, um quarto álbum do Asguard foi lançado, Hidden God, com composições do vocalista e baixista Alexander Afonshenko para um projeto-solo que jamais saiu do papel.

GODS TOWER

Vindos de Gomel, o Gods Tower pratica um Doom Metal com influências de Folk e Pagan, mas nem sempre foi assim. Fundada em 1989 com o nome Ranger, o grupo tocou Thrash Metal até 1992, período no qual também ficou conhecida como Chemical Warfare. Até sua primeira separação em 2001, o Gods Tower havia lançado dois álbuns de estúdio. Após o retorno em 2010, um terceiro full-lenght foi lançado em 2011, Steel Says Last.

EXIMPERITUSERQETHHZEBIBŠIPTUGAKKATHŠULWELIARZAXUŁUM

Não, o teclado de meu computador não deu pane! Este é o nome da banda e nem ouse tentar pronunciá-lo! Possa ser que você invoque alguma marmota advinda das trevas do infra-mundo que vai comer seu cérebro! Bem, o “Eximperitus” (como eles próprios costumam abreviar o nome da banda) é um grupo de Technical Death Metal da capital Minsk cujas letras versam principalmente sobre história e misticismo sumério/babilônico. Em 2016 a banda lançou o seu debut singelamente intitulado (respire…) Prajecyrujučy sinhuliarnaje wypramieńwańnie Daktryny Absaliutnaha j Usiopahłynaĺnaha Zła skroź šaścihrannuju pryzmu Sîn-Ahhī-Erība na hipierpawierchniu zadyjakaĺnaha kaŭčęha zasnawaĺnikaŭ kosmatęchničnaha ordęna palieakantakta, najstaražytnyja ipastasi dawosiewych cywilizacyj prywodziać u ruch ręzanansny transfarmatar časowapadobnaj biaskoncaści budučyni u ćwiardyniach absierwatoryi Nwn-Hu-Kek-Amon, uwasabliajučy ŭ ęfirnuju matęryju prach Ałulima na zachad ad ękzapłaniety PSRB 1620-26b. Para o fim deste mês de janeiro, o segundo full-length da banda, intitulado (calma!) Šahrartu será disponibilizado e uma das novas músicas você poderá ouvir no player abaixo. Tamanha simplicidade faz até os nomes das músicas do Nile parecerem milimétricas.

KLIODNA

Fundado em algum momento nos anos 2000 como Melodic Noize, a banda se chamou Teos entre 2008 e 2012, ano em que adotou o atual nome. Praticando um Symphonic Power Metal, o Kliodna lançou em 2016 o seu primeiro álbum de estúdio, The Dark Side (​.​.​.​of the stories). Em 2017 a cantora Natalia Senko chegou para ser a nova vocalista e com ela a banda já registrou dois singles.

Basta. Essas bandas servem para que você conheça um panorama geral de como se comporta o Rock e o Metal belarusso. Existem muito mais bandas. Só o Encyclopaedia Metallum registra 452 bandas vindas de lá. Portanto, pesquise mais sobre o Metal de Belarus e descubra muito mais coisa bacana que tem lá! Semana que vem, a queridíssima Jeniffer Kelly assumirá a posição de comandante de nossa aeronave e nos conduzirá rumo a algum país o qual eu tenho certeza que você não conhece quase nada do Metal local. Até lá!