O nosso continente é um local de inconcebível beleza, seja histórica, natural, ou cultural. Existem problemas imensos, distorções que beiram o escárnio nas relações entre os povos e seus governos, mas isso não tira tudo que temos de bom.
Em termos linguísticos, o Brasil tornou-se uma espécie de ilha cercada de terras, colonizadas, em sua maioria, pelos espanhóis, e talvez venha daí, em parte, a falta de uma proximidade mais latente entre as bandas de Heavy Metal dos países circunvizinhos.
A intenção dessa matéria é explorar um pouco o que está sendo feito de interessante nas proximidades de nossas fronteiras, sem querer, de modo algum, esgotar as informações, até porque isso seria virtualmente impossível. As bandas listadas a seguir, nessa primeira parte, são exemplos aleatórios, pinçados através da garimpagem. Cinco bandas. Cinco países. Cinco estilos. Eventualmente, no futuro, pretendemos trazer, periodicamente, cinco outras bandas a cada nova oportunidade.
Dragonauta – Argentina
O Dragonauta é uma banda de Doom Metal da Argentina que existe desde 1999 e já lançou quatro álbuns. Após o segundo disco, houve mudanças significativas na formação, da qual permaneceram apenas o guitarrista Daniel Libedinsky e o baterista Ariel Solito, que juntaram novos integrantes e assim permanece até hoje. O som do Dragonauta, por ser calcado no Doom Metal, não deixa de possuir a inevitável influência de Black Sabbath, mas essa não transparece tão evidente quanto costuma ser em bandas desse estilo. Lembra mais o Doom da geração do começo dos anos 90, que flertava bastante com o Death Metal. As músicas transmitem uma sensação de desespero e tem como ponto de destaque o ritmo bem forte e marcado. Na mistura do som do Dragonauta, você poderá identificar alguns elementos de stoner na linha Kyuss e, até mesmo, toques de post hardcore que lembram bastante a banda americana Neurosis.
Blizzard Hunter – Peru
O Blizzard Hunter é o atual projeto do guitarrista Lucho Sanchez e ainda está no começo de sua trajetória, tendo lançado apenas um EP e o seu primeiro álbum, intitulado “Heavy Metal To The Vein”, após a entrada do vocalista Sebastian “Dragon” Palma. O título do disco vai lhe ser bastante informativo em relação ao que a banda faz, pois trata-se exatamente disso: Heavy Metal puro, diretamente na veia. A banda tem bastante influência de Iron Maiden e Helloween, executando músicas bem rápidas, com muita melodia, mas sem aquele excesso de sacarose que saturou o metal melódico. A pegada aqui é de músicas executadas com bastante energia, com guitarras bem evidentes, fazendo par com a voz de Sebastian, que segue à escola Michael Kiske de canto.
Akbal – Chile
O Death Metal do Akbal é originário da cidade de Talca, que dista 255 km ao sul da capital Santiago. A banda já lançou dois discos sem alterações na formação, sendo o mais recente, “Mirando Al Cielo”, sido lançado em 2015, e executa um Death Metal bastante técnico e quebrado, intercalado por muitas passagens mais lentas e climáticas, transparecendo bastante sobriedade em suas composições. Em certos momentos, lembra a sonoridade de um Fear Factory sem os elementos industriais ou de como soaria o Helmet, caso esse fosse uma banda de Death.
Upon Shadows – Uruguai
O Upon Shadows é uma dupla de garotas uruguaias que executa um Black/Dark Metal de muita qualidade, sendo Natalia Arocena, no baixo, e Tamara Picardo, nos vocais, teclados, baixo e guitarra. Tendo lançado seu primeiro álbum no ano de 2010, outros quatro já lhe seguiram e, como é típico nessa linha musical, temas como morte se intercalam com o amor e a melancolia. O Uruguai não possui o frio escandinavo, mas a dupla assimilou bem as lições daquela região e mescla passagens de puro Black Metal nórdico com momentos de música ambiente, assemelhando-se a trilhas sonoras.
Kraken – Colômbia
Conhecer tardiamente uma banda tem dessas coisas… O Kraken lançou o primeiro de seus oito álbuns em 1987. Trata-se de uma banda com uma história de tradição na música da Colômbia e sua música transita entre o Heavy Metal, o Hard Rock e o AOR. Em seus trinta anos de atividade, já executaram todo o percurso das bandas pesadas que preservam um pouco de pegada radiofônica, inclusive já tendo gravado com orquestras. Seu vocalista, Elkin Ramirez, é um músico muito carismático e de enorme talento e, justamente, sobre sua pessoa, repousa o dilema sobre o futuro da banda, pois Ramirez, infelizmente, faleceu recentemente, no começo de 2017, tendo tido pouco tempo para colher os frutos do lançamento do ótimo álbum “Sobre Esta Tierra”. O disco permanece como seu último legado e merece ser conhecido.