Antes de mais nada, é necessário dizer que esse texto não se presta a avaliar os conceitos religiosos que existem por trás da comemoração chamada Natal. A festa existe e acontece todo ano, quer você queira ou não. Dar-lhe um sentido espiritual, pagão ou, porque não dizer, meramente comercial, é tarefa para as reflexões íntimas de cada um.

Dito isso, embora a tradição cristã referencie a data como sendo a do nascimento de Jesus Cristo, é certo que ela foi adaptada pela Igreja Católica a partir de celebrações pré-cristãs que comemoravam o solstício de inverno, o dia de nascimento do Deus Sol (Dies Natalis Solis Invicti). Havia também o Yule, festival de inverno da Escandinávia, que ocorria no mesmo período do ano. Um caleidoscópio do que foi retirado de cada uma dessas culturas é o que faz a festa ser o que é hoje, e traz a origem de várias simbologias como a árvore, a troca de presentes, etc…

Outra de suas características é a música. As canções natalinas tornaram-se uma espécie de subgênero da música popular e, em outros países, discos de artistas interpretando esse seguimento, como Elvis Presley ou Frank Sinatra, foram muito bem recebidos, sendo que isso é algo que ainda está crescendo no Brasil. O antigo líder dos Stray Cats, com sua Brian Setzer Orchestra, talvez seja um dos músicos que mais investem nessa linha atualmente, já tendo produzido três álbuns do tipo, sendo seguido de perto por Ritchie Blackmore e seu Blackmore´s Night e pelo Jethro Tull, mas os olhos dos músicos de metal tem, aos poucos, mirado no caminho percorrido pelos três reis magos.

Rob Halford lançou um de seus trabalhos solos apenas com músicas de Natal, assim como o fez o Twisted Sister. Tarja Turunen, ex-Nightwish, também registrou recentemente o seu, mas nada se compara ao Trans Siberian Orchestra. Tendo nascido de dentro do Savatage, o TSO tornou-se um dos espetáculos mais rentáveis dentro do território norte-americano, com apresentações impactantes que, para atender a demanda, divide-se em equipes que podem realizar mais shows, dentro de um mesmo período, em locais distintos.

Canções esparsas, porém, são mais comuns, e artistas absolutamente díspares como AC/DC, Manowar, Ramones, Sonata Arctica, Amon Amarth e mesmo King Diamond, já registraram algumas. Diamond, por sua postura satânica, talvez fosse aquele de quem menos se esperaria algo dessa natureza, mas ele já afirmou gostar do Natal, justamente pelas suas origens pagãs. Marco Hietala, o conhecido baixista do Nightwish, fez participações no disco natalino criado pelo guitarrista finlandês Erkka Korhonen. A maioria das mais relevantes interpretações do tipo está compilada na coletânea “We Wish a Merry Christmas”, que traz momentos peculiares, como Lemmy cantando “Run Rudolph Run”, acompanhado por Billy Gibbons e Dave Grohl, “Santa Claws is Coming to Town”, cujo Claus do título foi devidamente alterado para Claws (garras) para enquadrar-se dentro do Horror Rock de Alice Cooper; Lips, do Anvil, dando voz à “Frosty The Snowman”, e, finalmente, os dois principais destaques: “God Rest Ye Merry Gentlemen”, celebrando o reencontro de Ronnie James Dio com Tony Iommi, e “Silent Night”, onde Scott Ian faz a base para a mais conhecida das músicas natalinas, desconstruída de qualquer solenidade pelo gutural extremo de Chuck Billy, do Testament.

Ainda poderiamos passar algum tempo listando artistas e canções, mas acreditamos que a última citação em nosso texto é forte o suficiente para concluir o assunto temporariamente. Christopher Lee, o mitológico ator, cujo barítono deu vida a alguns dos mais temíveis vilões do cinema, juntou os dois temas dessa matéria e gravou os EPs “A Heavy Metal Christmas” e “A Heavy Metal Christmas Too”. Portanto, é com sua versão de “Jingle Hell” que encerramos aqui, desejando-lhe apenas que você tenha um bom Natal, de acordo com o seu sentimento em relação ao mesmo, seja ele qual for.

 

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