Girls Rock Camp: projeto ensina empoderamento feminino através da música

Em época de um discurso que o rock morreu, um projeto tem mostrado que não tem nada disso. Empoderamento feminino num meio que durante muito tempo foi (e ainda é) dominado por homens não é fácil, mas para cada mulher que luta todos os dias por seu lugar ao sol (inclusive essa redatora que vos fala) é recompensador ver um projeto assim. Letras como “garotas são sensacionais”, “podemos tudo”, “respeito e preconceito não” são ouvidas em meio a baterias,teclados, guitarras e baixos. Essa foi a primeira impressão do Girls Rock Camp Curitiba.

O projeto teve início em Portland, nos Estados Unidos, há 16 anos. Curitiba foi a terceira cidade brasileira a receber a iniciativa. O “Girls Rock Camp” começou em 2018 na capital paranaense, mas o projeto já ocorre em Sorocaba (SP) desde 2013 e, em Porto Alegre (RS), a partir de 2017.

O projeto conta com 48 campistas, entre 7 e 17 anos, e este ano a organização, através da sua rede de apoio, conseguiu oferecer 26 bolsas integrais e parciais, sendo o primeiro camp no Brasil a ter mais da metade das vagas destinadas a bolsistas. Segundo uma das coordenadoras, Gabriela Pinheiro, “É um projeto muito grande e bem desafiador.” Mas recompensador: “A ideia é fazer isso pra sempre porque tem uma energia muito boa.”

“Girls Scream”. Fotografia: Angela Missawa.

“O ano inteiro a gente organiza eventos para arrecadar fundos pro projeto, para ganhar visibilidade, então fazemos bazar, ano passado fizemos uma feijoada, porque tinha sobrado um pouco de feijão da nossa cozinha. Então a gente organiza eventos ao longo do ano para ir envolvendo as mulheres da cidade, para divulgar o projeto para arrecadar grana.”, disse Gabriela.

“Unicórnios do Rock”. Fotografia: Angela Missawa.

“As campistas são surpreendentes. Elas começam a semana, a maioria delas nunca teve nenhuma experiência musical e no fim da semana elas, como você conseguiu ver nas salas, elas estão com músicas fechadas e as músicas são super boas. Eu me emociono, não me aguento porque o resultado é muito impressionante no fim de uma semana.”, disse Gabriela.

Mãe de uma das campistas, Isis Sophia conta que a filha queria inicialmente bateria, mas acabou aceitando a vaga de guitarrista. “Mas guitarra? Agora, a primeira coisa que ela chega em casa é tocar guitarra. Quando dá os intervalos aqui ela fala ‘ah, mas eu quero tocar guitarra’. Agora tá amando o instrumento, é legal ver ela descobrindo isso. Não a gente forçando, ver ela ter o amor sozinha.”, disse Sophia.

Isis também compartilhou a questão do desenvolvimento pessoal que o projeto trouxe às crianças: “Eu vi nas oficinas, elas se sentindo forte, ter coragem de ser elas mesmas, poder falar, eu acho que isso vale por tudo. Delas terem independência e poderem fazer o que quiserem. Acho isso muito importante”.

“The Rabbits”. Fotografia: Angela Missawa.

Além de mãe, ela é uma das voluntárias e trabalha como produtora de uma das bandas, “The Rabbits”. “Produzir uma banda com adolescentes é complicado. Na minha banda tem uma deficiente visual, que ela está tocando teclado, e até alinhar tudo, organizar isso, não foi difícil por que partiu delas mesmo essa organização. E a tecladista, que é deficiente visual está acompanhando, faz tudo sozinha, tudo certinho e é o máximo. Elas contando comigo para poder organizar a banda, é um presente”.

Fotografia: Angela Missawa.

E o que elas aprendem nesse período? Durante a semana as campistas tiveram oficina de cuidados com equipamentos e instrumentos, identidade e imagem, autodefesa, logo, stencil, direitos humanos, fanzine, palco e performance, história da mulher na música e composição. Os ensaios de bandas e instrução de guitarra, baixo, teclado, bateria e voz eram intercaladas com as demais atividades.

Oficina de Fanzine. Fotografia: Angela Missawa.

“Durante a semana elas fazem aulas dos instrumentos intercalados com oficinas, são oficinas bem variadas de performance no palco, de como fazer a logo da banda, como fazer uma camiseta com stêncil, então elas fazem a camiseta da banda delas, também oficina de defesa pessoal. São temas bem variados mesmo.”, disse Gabriela. Ela ainda emendou que teve mais um elemento bem importante durante o período: “É uma colônia de férias né. A ideia é que elas se divirtam também, além de aprender coisas diferentes.”

As voluntárias auxiliam durante todo o processo. Fotografia: Angela Missawa.

Em tempos de enxurradas de comentários na internet com a preocupação em relação ao que será do rock, um projeto assim é com certeza uma pontinha de esperança. Mas para a Gabriela, é bem mais que isso: “Quando você vê o que essas meninas fazem ao longo de uma semana, não dá para falar que o rock morreu mesmo. Elas gostam demais e elas produzem com muita facilidade a música, muito impressionante.”, conta.

Outro ponto bem positivo do projeto é a aproximação das meninas com o rock autoral feminino que acontece em Curitiba. “A gente tenta sempre mostrar para as meninas o que acontece na cidade para elas terem uma referência musical feminina também mais próximo, do que ficar só falando de coisas fora do Brasil. Ficar só falando de coisas muito distante delas pode ser meio estranho. Então algumas voluntárias que estão aqui tem banda já, e também chamamos bandas que são importantes da cidade.”, disse Gabriela. Entre as participantes estão as bandas “As Jaguatiricas” e “Mulamba”.

São cinco dias da colônia de férias que empodera meninas através da música. Há cartazes espalhados por todo o ambiente, com imagens de bandas femininas e mensagens de empoderamento.

Mensagens de empoderamento ao lado de um poster da L7. Fotografia: Angela Missawa.

O projeto será finalizado no sábado, dia 26 de janeiro com o Show do Girls Rock Camp Curitiba 2019. As 48 campistas, entre 7 e 17 anos, divididas em oito bandas, apresentam a canção que criaram juntas durante a semana. “All Stars”, “Baby Shark”, “Filha da Lua”, “Girls Scream”, “Revolução do Rock”, “The Libertárias”, “The Rabbits” e “Unicórnios do Rock” quebram tudo, a partir das 17h, no Basement Cultural. A casa abre às 16 horas e a entrada, no valor de R$5, será destinada para a construção do camp de 2020.

“All Stars”. Fotografia: Angela Missawa.

Gostou do projeto e quer saber como ajudar? A Gabriela conta como faz:

“As pessoas podem ajudar de diversas formas. A gente precisa muito de ajuda em visibilidade, então curtir nossa página, compartilhar e chamar os amigos. Temos material que produzimos para arrecadar grana, muita gente compra esses materiais, isso ajuda demais a gente. Também recebemos muita doação de empresa, esse ano teve a Supernova Café que doou café para gente ao longo da semana, pode parecer pequeno, mas é muito importante. Tasty Salad Shop doou chá que a gente tomou no fim de semana durante o treinamento. Então tem gráfica que doou caderninhos para gente então a gente vendeu e deu super grana. Algumas empresas se disponibilizam para ajudar de alguma forma que a gente nem imagina que é possível. Então desde a produção de material até a alimentação que a gente tem aqui, essa ajuda é super bem vinda sempre. E também doação de dinheiro mesmo. E voluntárias, esse ano foram mais de 60 voluntárias.”

“Baby Shark”. Fotografia: Angela Missawa.

Serviço:

GIRLS ROCK CAMP CURITIBA 2019
Data: 26/1
Hora: 16h abertura casa | 17h início shows.
Local: Basement Cultural – R. Des. Benvindo Valente, 260 – São Francisco
Mais informações no evento: https://www.facebook.com/events/2282007888719772/

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